O ator Victor Rosa, que morava no apartamento do dramaturgo e diretor Zé Celso, foi o primeiro a acordar com os gritos de socorro de Zé em meio ao incêndio que tomou conta do quarto do fundador do Teatro Oficina, que faleceu aos 86 anos nesta quinta-feira (6).
Em entrevista ao G1, Victor disse que passou o dia no teatro, pois teve que acompanhar uma equipe de filmagens no prédio do Oficina, tendo retornado ao apartamento apenas de madrugada. Quando chegou, Zé Celso quase dormia. Nos outros cômodos dormiam o viúvo do dramaturgo, Marcelo Drummond, e o ator Ricardo Buttencourt.
Te podría interesar
"Quando eu cheguei, o Zé já estava no quarto com a porta entreaberta, mas já se preparando para dormir. Acho que nem dei boa noite, porque ele já estava quase deitado e fui dormir. Tava muito cansado. Acordei com o Zé gritando por socorro", revelou Victor.
Victor conta que quando chegou no quarto já havia muita fumaça e Zé Celso, que já estava machucado, tentava deixar o cômodo.
Te podría interesar
"Eu não enxergava nada, só a silhueta na fumaça, tentando sair [do cômodo] com andador. Chamei os meninos que dormiam nos outros quartos e tentei com cuidado puxar o Zé para sala. Não sei como eu queimei as minhas mãos, se foi nele ou se toquei em algo", conta Victor.
"Zé Celso estava consciente o tempo todo e com queimaduras pelo corpo. Tirou o andador e a gente foi pro chão. Nessa hora, Marcelo também chegou, começou a abrir as janelas, abrir a porta, abrir tudo. Comecei a arrastar o Zé pelo chão. Estava pesado e estava difícil, porque eu estava com as mãos queimadas, doendo. Queria levá-lo para longe do fogo", lamenta.
Viúvo de Zé Celso abre o coração sobre a perda e revela futuro do Teatro Oficina
Marcelo Drummond, viúvo do dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, falecido aos 86 anos nesta quinta-feira (6) em São Paulo, deu uma entrevista para a GloboNews na tarde de hoje em que abriu o coração sobre a perda do marido. Drummond falou sobre o incêndio no apartamento, a personalidade de Zé Celso e o futuro do Teatro Oficina.
"Eu caí e alguém me acordou porque cheguei a desmaiar, de certa forma, devido à fumaça. Alguém me acordou e nós saímos. Fui para o corredor, para o hall de entrada do apartamento, um vizinho apareceu e trouxe o Zé junto com o Vitor, e o Zé falava: ‘abre a janela, abre a janela’. E eu falei: 'já está aberta'. Segurei as duas mãos dele e ele colocou a perna em cima de mim. Depois que saímos do apartamento, chegaram os bombeiros e foi o último momento que eu vi o Zé", contou.
Zé Celso foi internado na última quarta-feira (5) após um incêndio em seu apartamento. Ele teve 53% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos. Marcelo Drummond não sofreu queimaduras, mas também foi levado ao hospital por ter inalado monóxido de carbono. O casal vivia em apartamentos diferentes no mesmo prédio. Além deles, também ficaram feridos no incêndio os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt. Bittencourt contou à imprensa que não se queimou e que acordou com as labaredas, mas demorou alguns instantes para entender o que realmente estava acontecendo. Já Victor Rosa também acabou se queimando enquanto tentava salvar Zé Celso. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a principal hipótese para a causa do incêndio é uma pane no aquecedor do apartamento.
"O que mais me dói é como aconteceu. Não precisava ser um incêndio. O que importa é que o Zé deu norte e vida para muita gente. Muitas pessoas trabalharam nesse pequeno teatro. Não quero cair no drama, na fita francesa. Foi uma tragédia, aconteceu, mas vamos seguir em frente. Temos que lembrar que o Zé é vida. Ele nos ensinou isso, que precisamos ter vida o tempo inteiro e força", comentou Drummond.
Quando perguntado justamente sobre o futuro do Teatro Oficina, Marcelo Drummond afirma que ainda não pretende pensar no assunto e nem nos desdobramentos jurídicos disso antes de lidar com seu luto. No entanto, ele aponta que era desejo de Zé Celso que ele assumisse o teatro numa situação como essa. "O Zé gostaria que eu continuasse, mas vou ver isso depois".