CINEMA

O que sabemos sobre o Cannes 2023 - Por Gabriel Klinger

Após um 2022 de resgate do festival no pós-pandemia, a edição deste ano promete uma volta com força total e terá a presença do cineasta Martin Scorsese

Festival de Cannes 2012.O que sabemos sobre o Cannes 2023 - Por Gabriel KlingerCréditos: Bruno Melo/Ministério da Cultura
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Nos últimos dias, o Festival de Cannes anunciou que receberá as estreias mundiais de dois aguardados filmes americanos: “Killers of the Flower Moon”, da Apple TV+, dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Robert De Niro e Leonardo DiCaprio, e “Indiana Jones e o Chamado do Destino”, da Disney e Lucasfilm, o último capítulo da franquia estrelada por Harrison Ford.

Cannes, o evento mais famoso do gênero, é conhecido por incluir na sua programação desde blockbusters até filmes independentes e transgressores. No ano passado, revelou “Top Gun: Maverick” e “Elvis” ao lado de sucessos de circuitos de arte como “Triângulo da Tristeza", de Ruben Östlund, e “Close”, de Lukas Dhont (atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros).

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Na Semana da Crítica, um festival paralelo, as seleções incluíram “Aftersun”, de Charlotte Wells, um drama intimista de pai e filha feito com baixo orçamento que o streamer independente MUBI lançou com sucesso no Brasil, no mês de dezembro passado.

Muitos outros filmes exibidos em Cannes são recebidos mal ou com indiferença e, rapidamente, caem na obscuridade. Quentin Tarantino comparou o festival a uma luta de boxe entre críticos e cineastas: no final do evento de 12 dias na Riviera Francesa, que ocorre todos os anos em maio, os vencedores saem com prêmios e acordos de distribuição, enquanto outros voltam para casa feridos pela batalha e esperando se sair melhor no futuro.

Funcionando continuamente desde 1946, Cannes fechou suas operações apenas duas vezes. Em 1968, os protestos dos estudantes e trabalhadores franceses conseguiram interromper o festival e, em 2020, a covid-19 fez o mesmo. As festividades recomeçaram no ano seguinte, mas a quarentena e outras restrições impostas pelo governo francês diminuíram o brilho do tapete vermelho. 2022 foi considerado um ano de recuperação, com uma boa parte da indústria ainda optando por ficar em casa, e o próprio festival resgatando filmes que ficaram no limbo de distribuição por causa da pandemia.

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Ao que tudo indica, 2023 promete ser o ano em que Cannes volta com força total, até porque o célebre cineasta Martin Scorsese estará no festival após 35 anos de hiato (seu último filme a participar oficialmente do evento foi “Depois de Horas”, de 1985). Obras de outros cineastas que devem fazer uma aparição incluem “Asteroid City” (Wes Anderson), “The Old Oak” (Ken Loach), "Club Zero” (Jessica Hausner), “Dead Leaves” (Aki Kaurismäki), “Funny Wars” (Jean-Luc Godard), “Strange Way of Life” (Pedro Almodóvar) e “Il sol dell’avvenire” (Nanni Moretti), com a seleção completa a ser anunciada em meados de abril.

A Quinzena dos Realizadores, evento paralelo ao festival do sindicato dos cineastas franceses, anunciou hoje que vai homenagear o cineasta do Mali Souleymane Cissé, de 82 anos, cuja obra foi exibida no Instituto Moreira Salles em 2018.

Ainda não se sabe se algum cineasta brasileiro irá para o Mediterrâneo francês. O cearense Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) tem um novo drama histórico sobre o rei inglês Henrique XIII em pós-produção, estrelado por Alicia Vikander e Jude Law, que alguns experts apontam ter chances de aparecer na seleção.

Em 2019, cinco filmes brasileiros — "Bacurau”, “A Vida Invisível”, “Sem seu sangue”, “Indianara” e a coprodução ítalo-brasileira “O Traidor” — foram exibidos em Cannes. No ano passado, nenhum filme brasileiro foi selecionado, exceto uma restauração de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha. O crítico e programador Eduardo Valente escreveu sobre a ausência do cinema nacional em 2022, agravada pelos transtornos no setor cultural nos últimos quatro anos: “O filme do Glauber não é atual, ele é eterno. E sua exibição coloca em pauta muitas coisas importantes e potencialmente reveladas ainda hoje. Mas que a cristalização de uma imagem do cinema brasileiro de quase 60 anos atrás seja a única a ser vista nas telas do festival em 2022 se torna duplamente simbólica.”