PREMIAÇÃO

O Oscar descobriu o cinema

Nas últimas edições, a Academy Awards premiou longas metragens que seriam completamente ignorados em outras épocas históricas

O Oscar descobriu o cinema.Créditos: Divulgação
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Em sua 95ª edição, a Academy Awards, responsável pelo Oscar, consagrou o filme “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” com sete estatuetas, incluindo Melhor Filme, Direção para Daniel Kwan e  Scheinert e atriz para Michelle Yeoh, que dá vida à protagonista do filme. Dessa maneira, o longa metragem se tornou o mais premiado da história do cinema, com 165 prêmios no total. 

Porém, apesar de toda a sua trajetória de sucesso em festivais, “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” é um trabalho que desde a sua estreia nos cinemas dividiu opiniões em dois grupos: amor e ódio. Na véspera do Oscar 2023, muita gente afirmava que um filme moldado para a geração TikTok não poderia levar o prêmio de Melhor Filme e que este deveria ser entregue para “Tár” ou “Os Banshees de Inisherin”, estes dois, sim, “cinema de verdade”.

Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo/ Divulgação 



Ninguém nega a extrema qualidade de “Tár”, dirigido por Todd Field e que narra a história fictícia da maestrina Lydia Tár, interpretada de maneira magistral por Cate Blanchett, que concorreu na categoria de Melhor Atriz e era tida como favorita. No entanto, a história do Oscar é consagrar filmes como esse, mas as coisas mudaram desde 2016, quando artistas negros e não brancos lançaram a campanha #OscarSoWhite e atentaram para ao fato de que apenas pessoas brancas eram indicadas e premiadas. 

 

Tár/ Divulgação 

 

Atravessando fronteiras 

 

Um ano depois da campanha #OscarSoWhite, em 2017, o filme “Moonlight”, que narra a história de Chiron, um jovem negro e gay que vive na periferia de Miami Beach, venceu o Oscar de Melhor Filme. Em 2020, a grande surpresa: o drama sul-coreano "Parasita", que narra a luta de classes na Coreia do Sul, venceu como Melhor Filme e se tornou o primeiro filme não falado em língua inglesa a levar tal categoria. 

Mesmo quando olhamos para o Oscar 2022, quando "No Ritmo do Coração" recebeu a estatueta de "Melhor Filme" também podemos apontar uma certa virada na tradição da Academia: ainda que tenha um enredo senso comum, “No Ritmo...” é um filme, também sobre e interpretado por pessoas surdas e mudas. 

Moonlight/ Divulgação 



“Moonlight”, “Parasita” e “No Ritmo do Coração” são produções que dialogam diretamente com a ideia e estética de “Tudo Em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, pois, romperam as belezas, conflitos, estéticas e línguas padrões. Mas, o que isso significa? Que a Academia agora é um espaço progressista e com a participação de pessoas negras, não brancas e não heterossexuais?

Obviamente que não, pois, se formos pesquisar a fundo vamos descobrir que ela permanece tão branca quanto em 2016. 
No entanto, a partir da pressão feita pelos trabalhadores negros e não brancos da indústria cinematográfica estadunidense, o conselho votante da Academia passou por mudanças e ao fazer isso trouxe pessoas com outros olhares e outros cinemas em sua bagagem.

No ritmo do coração/ Divulgação 



Ao ser pressionada a olhar para o mundo, a Academy Awards descobriu que o cinema pode ser mais do que uma indústria de propaganda de guerra e que visa apontar o capitalismo com um modelo perfeito e subalternizar – e normalizar tal subalternização – de pessoas negras, não brancas e LGBTI+. 

Além de suas qualidades inovadoras na linguagem cinematográfica, “Moonlight”, “Parasita” e “Tudo Em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” também foram responsáveis por colocar pessoas negras, não brancas, asiáticas e LGBTI+ na luz das câmeras não para serem mortas e lamentas, mas para serem celebradas e aplaudidas. Em um mundo que vive assombrado por uma nova onda fascista, isso não é pouca coisa e reforça a ideia da coexistência entre as diferentes diferenças sociais.  

 

Parasita/ Divulgação