HISTÓRIAS VISUAIS

Oscar 2023: Conheça Ruth Carter, a primeira mulher negra com duas estatuetas

Designer de figurinos, parceira de Spike Lee, foi reconhecida pelos trajes para os dois filmes da franquia Pantera Negra

Créditos: ImDB - Ruth Carter e seus dois Oscar
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Aos 62 anos, Ruth Carter se tornou neste domingo (12) a primeira mulher negra a ganhar dois Oscars em 95 anos de premiação. Ela venceu a categoria “Melhor Figurino” pelo filme “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre“. Em 2019, conquistou a primeira estatueta na mesma categoria pelo primeiro longa da franquia.

No discurso de agradecimento, Ruth dedicou o prêmio à mãe, que faleceu na semana passada aos 101 anos de idade. 

“Obrigado à Academia por reconhecer a super-heroína que é uma mulher negra. Ela resiste, ela ama, ela supera. Ela é cada mulher neste filme. Ela é minha mãe. Na semana passada, Mabel Carter se tornou uma ancestral. Este filme me preparou para este momento. Chadwick, por favor, cuide da minha mãe.”
Ruth Carter, vencedora do Oscar de Melhor Figurino em 2023

Na edição deste ano do Oscar, Ruth venceu Catherine Martin, pelo trabalho em “Elvis”, Mary Zophres por “Babilônia”, Jenny Beaven por “Sra. Harris Vai a Paris” e Shirley Kurata por “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”.

Reino de Wakanda

Após a premiação, Ruth concedeu uma entrevista na qual contou detalhes sobre os figurinos afrofuturistas de ‘Wakanda Para Sempre’. “É um trabalho de amor. Centenas de artistas trabalharam nessas roupas. O trabalho em equipe faz o sonho funcionar, e isso não poderia ser mais verdadeiro neste caso“, comentou.

A figurinista relatou que foi um desafio trabalhar com o luto no filme. “Foi bastante intimidador porque o tecido africano é muito colorido”, relembrou. “Muitos dos identificadores da região são baseados em estampas, tapeçarias ou miçangas. As paletas de cores reais são diferentes de um lugar para outro. Então, como você representa isso quando todo mundo tem que estar de branco?”.

Divulgação - Angela Basset em “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre“

Para as cenas dos funerais, Ruth e sua equipe experimentaram textura e tom para criar padrões por serigrafia com tinta esbranquiçada em tecido branco puro. Tudo tinha que ser branco, desde a saia de ráfia que M’Baku (Winston Duke) usa até as joias e anéis de pescoço. 

“Eu pintei muito”, relembra com uma risada. “Espero que as pessoas possam fazer uma pausa e olhem todos os detalhes e o trabalho árduo que foi feito nesse filme”.

Parceira com Spike Lee

Acervo Ruth Carter

A vencedora de duas estatuetas do Oscar tem mais de 40 trabalhos como figurinista no currículo. Mas no início da carreira, na década de 1980, ela não dava bola para o cinema. "Eu era uma pessoa esnobe do teatro, sabe? Eu realmente não pensava muito em filmes”, contou em uma entrevista de 2015.

O responsável pelo ingresso dela no mundo de Hollywood foi o diretor Spike Lee. Em 1988, o então jovem cineasta independente a convidou para fazer o figurino do segundo filme dele, “Revolução Estudantil". 

Desde então, os dois colaboraram em diversos filmes, incluindo "Faça a Coisa Certa", “Crooklyn”, “Clockers”,  "Febre da Selva",  "Mais e Melhores Blues" e “Malcom X”, pelo qual ela recebeu sua primeira indicação ao Oscar. A segunda indicação dela para a premiação foi por “Amistad” de Steven Spielberg. Ela também assina figurinos de produções de outros grandes diretores, como  John Singleton e Ava DuVernay.

Do desinteresse, o cinema se transformou em uma paixão para a figurinista. “Acho que fui levada a fazer isso. É algo que eu amo e que é uma paixão. É algo que você pode acordar todos os dias e ficar animado. Acho que a indústria capturou isso em mim e continuou a me procurar por causa disso”, revelou Ruth em entrevista. 

Nascida em Springfield, Massachusetts (EUA), em 1960, Ruth se formou em Artes no Instituto Hampton, atualmente conhecido como Universidade de Hampton, Virginia, em 1982. Ela iniciou a carreira de figurinista como estagiária na Ópera Santa Fé, em sua cidade natal, até se mudar em 1986 para trabalhar no Los Angeles Theatre Center, em Los Angeles. 

Já recebeu importantes indicações e prêmios por seus trabalhos, além dos dois Oscar, entre eles o American Black Film Festival (2002), Essence (2015), Costume Designers Guild. Em 2021, recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

Falta diversidade racial em Hollywood

A falta de diversidade racial é um traço marcante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é acusada de falta de diversidade racial. Nas categorias de melhor ator e melhor atriz, por exemplo, apenas cinco pessoas negras levaram o troféu até hoje.

Entre as mulheres negras que já venceram o Oscar estão Ariana DeBose, atriz coadjuvante por "Amor, Sublime Amor" (2022); Viola Davis, atriz coadjuvante por "Um Limite Entre Nós" (2017), Halle Berry, melhor atriz por "A Última Ceia" (2001); e Whoopi Goldberg por "Ghost – Do Outro Lado da Vida" (1991).

O primeiro homem negro a vencer o Oscar de melhor ator foi Sidney Poitier, pelo filme "Uma Voz nas Sombras", de 1964. Antes dele, Hattie McDaniel levou a estatueta de melhor atriz coadjuvante por "E O Vento Levou...", em 1940. Mas o segregação racial estadunidense a impediu de sentar à mesa com os colegas de elenco, ser fotografada ou comparecer à estreia do longametragem.

Levou 19 anos para outro homem negro receber o Oscar. Louis Gossett Jr. levou a estatueta por "A Força do Destino", em 1983. Na sequência, outros três negros venceriam a mesma categoria: Denzel Washington, em 1990, por "Tempo de Glória"; e Cuba Gooding Jr., em 1997, por "Jerry Maguire - A Grande Virada".

Contadora de histórias visuais

Para conhecer mais sobre a figurinista Ruth Carter, ela é a personagem principal do episódio 11 da série documental 'Abstract: The Art of Designer', na Netflix. Confira o trailer: