PARANÁ

Ator descobre autismo após interpretar personagem com o espectro: “Acabou sendo um alívio”

Victor Ferreira, que interpreta Arthur na série "Use Sua Voz", da HBO Max, falou sobre diagnóstico e importância de descontruir estereótipos

Victor Ferreira fez a revelação ao participar do Curitiba PodCast.Créditos: Arquivo Pessoal
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"Eles me deram uma folha que falava sobre as características do personagem, do que ele gostava, e tudo mais. Não estava escrito que ele era autista nessa página. Só estava as características dele, que indicavam ser um personagem autista", disse o ator curitibano Victor Ferreira, de 20 anos.

Integrante do elenco de "Use Sua Voz", série da HBO Max, Victor Ferreira descobriu ser autista ao dar vida ao personagem Arthur, diagnosticado com o transtorno. As afinidades com as características do personagem se manifestaram desde os estágios iniciais dos testes para o papel.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é notadamente definido por desafios na comunicação e interação social, além da presença de padrões de movimentos restritos e repetitivos. Indivíduos no espectro experimentam o mundo de uma maneira única, manifestando-se de forma distinta em suas ações e interpretações. De acordo com a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 70 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo cerca de 2 milhões delas na população brasileira.

Para Victor, a identificação com o personagem foi sua fonte de inspiração. "Eu passei por alguns lugares que uma pessoa que é autista sabe o que é estar naquele lugar. Então, obviamente, teve uma identificação de elementos. Eu vi muito da minha adolescência no Arthur. Ele passou por momentos que me eram bastante familiares. Acho que essa foi a minha maior fonte de inspiração e identificação com o personagem", destaca.

Combatendo estereótipos

Desconfiado de estar com  o espectro durante a interpretação de Arthur, Victor foi atrás de um diagnóstico adequado. A atitude, no entanto, foi um alívio, pois tudo passou a fazer mais sentido. "Acabou sendo um alívio entender porque o meu cérebro funciona assim para determinadas questões. Quando eu acabo entendendo essas coisas que estão comigo desde a minha primeira infância, eu consigo organizar isso melhor e não me sentir culpado por coisas que eu não deveria me sentir culpado, ou como eu vou organizar o meu ciclo social e entender o que é importante para mim, e o que é importante para as pessoas que também são importantes para mim", ressalta o ator em entrevista ao g1.

No início, o ator hesitou em abordar o TEA devido ao receio de possíveis impactos em sua carreira. Contudo, essa perspectiva mudou significativamente após interpretar o personagem. "Depois de viver três meses com personagem que sabe que é a autista do começo ao fim da trama e não tem nenhum problema com isso, é uma característica dele e isso não é tudo sobre o personagem, acabou mudando o meu ponto de vista sobre como eu me posiciono no mercado de trabalho e como eu me posiciono como artista", lembra.

Victor destaca a importância de buscar o diagnóstico. "Eu acho que o principal foco do Arthur, ou o foco que eu gostaria de trazer como artista, é que as pessoas se sintam confortáveis com quem elas são, com a neurodivergência delas e, evidentemente, se diagnóstico é importante para alguém por que não ir atrás dele?".