Caganers: Entenda a relação entre o Natal, a Catalunha e o ato de fazer cocô

O Natal está chegando e, além da Árvore de Natal com todos os seus enfeites e os presentes para os entes mais queridos, as celebrações mais tradicionais ainda contam com o chamado presépio, uma maquete do nascimento de Jesus Cristo, que caracteriza a data. Nele, José e Maria olham com ternura para o menino na manjedoura, rodeados de ovelhas, pastores e, eventualmente, dos três reis magos. Mas na Catalunha, região autônoma do nordeste da Espanha, há um elemento a mais, bastante inusitado e escatológico: o ‘caganer’.

A pequena estátua de um homem vestido em trajes camponeses tradicionais da Catalunha, as calças arriadas e em ‘posição fecal’, ou seja, praticando o ato de fazer cocô, é uma peça obrigatório nos presépios de lá. Ou melhor, nos ‘pessebres’, como se diz em catalão.

O caganer geralmente leva as calças pretas, camisas brancas e a ‘barretina’, o chapéu vermelho camponês que lembra vagamente o chapéu do próprio Papai Noel. Ele pode também aparecer fumando um cachimbo ou lendo jornais. Mas o caganer é uma marca tão forte da Catalunha que em Barcelona, a principal cidade e destino turístico da região, é comum vê-lo reproduzido, enquanto conceito, em personalidades reais e personagens da ficção.

Nas lojas de souvenires de Barcelona é comum encontrar versões do caganer em políticos locais e até globais, como Vladimir Putin (Rússia), Fidel Castro (Cuba) e até o presidente Lula. Também já foram registrados na internet os caganers do Messi e de outros ídolos do clube local, além de personagens da franquia Star Warse outras da cultura pop.

Os bonecos caganer transcenderam o Natal e se tornaram muito populares. Há até associações de colecionadores de caganers em Barcelona. A tradição data do fim do século XVII ou início do século XVIII.

Entre as explicações para a sui generis tradição, antropólogos locais apontam que o ato de defecar é ligado a coisas boas na região. Originalmente o caganer tinha um significado de fertilização da terra, e, com o tempo, evoluiu para boa sorte, prosperidade e saúde. Se colocá-lo em um presépio brasileiro pode soar grosseiro para com o Natal, mas nos ‘pessebres’ da Catalunha é apenas mais um elemento, nada ofensivo.