RECONHECIMENTO

Quem foi Maria Beatriz Nascimento, intelectual negra incluída no Livro dos Heróis e Heroínas

Historiadora se dedicava aos estudos sobre a formação dos quilombos e se tornou uma das principais vozes no movimento negro

Maria Beatriz Nascimento.Créditos: Arquivo Nacional
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presidente Lula (PT) sancionou, nesta terça-feira (31), a lei que inclui a intelectual Maria Beatriz Nascimento, líder do feminismo negro no Brasil, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

A homenagem acontece devido à importante participação de Beatriz Nascimento na retomada dos movimentos sociais negros no início do anos 1980 e nas pesquisas acadêmicas sobre quilombos, resistência cultural negra e racismo

"Entre os anos finais da década de 1970 e início dos anos 80, Maria Beatriz foi uma presença constante na retomada dos movimentos sociais negros. E, como historiadora, dedicou-se ao estudo das formações de quilombos. Produziu muitos artigos sobre quilombos, a resistência cultural negra e o racismo. Trabalhou no documentário Ôrí, lançado em 1989. Esse filme cobre o renascimento do movimento negro entre 1977 e 1988. A obra acadêmica de Maria Beatriz também foi fundamental para o entendimento das práticas discriminatórias que pesam sobre os corpos das mulheres negras. Ela foi uma expoente do feminismo negro”, diz a justificativa da lei.

O projeto é de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), e foi relatado na Câmara dos Deputados por Benedita da Silva (PT-RJ) e Laura Carneiro (PSD-RJ). 

Quem foi Maria Beatriz Nascimento

Nascida em Aracaju, Sergipe, em 1942, Beatriz era filha do pedreiro Francisco Xavier do Nascimento com a dona de casa Rubina Pereira. Em 1949, se mudou para o Rio de Janeiro com a família, onde se formou em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1971 e se tornou professora, pesquisadora e ativista pela comunidade negra. A intelectual também fez mestrado em Comunicação Social pela UFRJ.

Beatriz realizou estágio no Arquivo Nacional, sob orientação do historiador José Honório Rodrigues e, após formada, lecionou na rede estadual do Rio de Janeiro. Em 1974, ajudou a criar o Grupo de Trabalho André Rebouças na Universidade Federal Fluminense (UFF). A pesquisadora se incomodava com a forma como a história de pessoas negras era contada no ambiente universitário, como se tivessem participado apenas como mão-de-obra compulsória. Em 1975, fundou o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, também na UFF. 

A intelectual fazia pesquisas, especificamente, sobre a formação e o conceito dos quilombos e o poder de resistência desses territórios, sob um viés científico para além do ativismo. Ela defendia o reconhecimento e a titulação das terras quilombolas, o que viria a acontecer em 1995, ano de sua morte. 

Em 1977, participou da Quinzena do Negro, na Universidade de São Paulo (USP), apresentando um trabalho sobre esses locais. Também marcou presença em diversas outras conferências e esteve duas vezes na África para conhecer a história do continente. Em Angola, se debruçou sobre o estudo dos antigos quilombos angolanos.  

Um de seus principais trabalhos reconhecidos é o documentário Orí, que significa "cabeça" em yorubá. Lançado em 1989, o longa conta a história dos movimentos negros que emergiram no Brasil entre 1977 e 1988, tendo os quilombos como fio condutor. Foi dirigido por Raquel Gerber a partir dos textos e da narração de Beatriz.

Ela foi assassinada em 1995 ao defender uma amiga que sofria violência doméstica. O companheiro, Antônio Jorge Amorim Viana, deu cinco tiros em Beatriz. Ele já tinha passagem pela polícia por acusações de homicídio, tentativa de estupro e uso de drogas, pelas quais já cumpria pena de 11 anos e seis meses. Ele foi preso e condenado a 17 anos de prisão pela morte de Maria Beatriz. 

O legado de Beatriz Nascimento continua repercutindo na luta da comunidade negra no país.