ASTRONOMIA

O presente "mais valioso que ouro" dado pela China ao Reino Unido: pó lunar

Um laboratório britânico recebe amostras lunares coletadas pela missão chinesa Chang’e 5 para desvendar os segredos da formação do astro

Cratera lunar - representação.Créditos: Unsplash
Escrito en TECNOLOGIA el

Pequenos grãos de pó lunar, os primeiros trazidos à Terra em mais de 50 anos, com os esforços da missão chinesa Chang'e 5 (lançada ao espaço em novembro de 2020), foram "emprestados" ao Reino Unido e agora estão mantidos numa instalação de "segurança máxima" na cidade inglesa de Milton Keynes.

O empréstimo raro foi feito para que um time de cientistas do Reino Unido tente responder a "questões fundamentais" sobre como a Lua se formou nos primórdios da existência do nosso planeta, conta uma reportagem da BBC Internacional.

Não foram materiais de fácil aquisição, por isso a grande preciosidade do empréstimo, a segurança máxima do edifício em que estão localizados (no laboratório da Open University de Milton Keynes) e os protocolos burocráticos para entrar no local em que os saquinhos com "pó de Lua" foram (cuidadosamente) armazenados.

Essa foi a primeira missão de pouso lunar bem-sucedida desde 1976, quando os soviéticos lançaram o Programa Luna, ou Lunik, uma série de missões não tripuladas enviadas à Lua.

Mais recentemente, o mundo assistiu à falha da missão lunar que levou a sonda Athena, desenvolvida pela empresa Intuitive Machines, a pousar no polo sul da Lua no final de fevereiro, para explorar a região de Mons Mouton, sob a suspeita de que pode conter gelo.

A Athena passou, entretanto, por problemas com seu sistema de navegação a laser, o que comprometeu o pouso (a um desvio de até 250 metros do local idealizado pela missão) e a orientação de seus painéis solares, e a tornou incapaz de recarregar sua bateria.

Só prova que pousar na Lua não é fácil, e mais difícil ainda é conseguir trazer amostras do solo lunar à Terra.

A própria Chang'e 5 teve de enfrentar suas dificuldades: usou dois métodos distintos para coletar aproximadamente 1,7 kg de material lunar, e depois precisou mantê-lo livre de qualquer contaminação terrestre usando sistemas avançados de vedação hermética.

Seu módulo de pouso, que não tinha unidades de aquecimento por radioisótopos, dependia exclusivamente de energia solar, o que limitava sua operação ao período diurno da Lua (cerca de 14 dias terrestres), e necessitava que todas as atividades de coleta e transferência das amostras fossem concluídas antes do começo da noite lunar (quando as temperaturas caem drasticamente).

O professor encarregado pelo estudo da pequena amostra lunar cedida ao Reino Unido pela China, Mahesh Anand, o "único cientista a ter acesso" a esse material raro, diz que ele "é mais precioso que ouro". E, realmente, é uma disputa fácil.

Se o ouro fosse escavado de meteoros distantes, como pretendem algumas empresas emergentes de exploração espacial, talvez tivesse alguma chance.

O time de Anand tem um ano inteiro para trabalhar com a amostra vinda da China, que, em 2024, já enviou sua sexta Chang'e para coletar ainda mais amostras do lado escuro da Lua, onde, no passado, vulcões em erupção moldaram suas crateras.

Mas ele não vai ser o único: a China emprestou suas amostras lunares a instituições de seis países a fim de aprofundar a cooperação científica internacional em "estudos lunares".

Cada uma delas deve se dedicar a estudar a composição das amostras, investigar sinais de presença de água e outros voláteis nas amostras e compará-las às amostras coletadas em missões anteriores, como aquelas do Programa Apollo, da NASA, que levou o homem à Lua pela primeira vez e trouxe à Terra as primeiras amostras de solo lunar, em 1969.

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