AVANÇOS

Sérgio Amadeu explica oportunidade do Brasil na guerra de IA entre EUA e China

Ao Fórum Onze e Meia, sociólogo analisa contexto e cita estratégias para avanços tecnológicos do Brasil

Sociólogo Sérgio Amadeu.Créditos: Reprodução
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O Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (17) recebeu o sociólogo e um dos principais nomes em defesa do software livre e da inclusão digital no Brasil, Sérgio Amadeu, que falou sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China e como isso deve impactar o mercado de Inteligência Artificial mundial, abrindo oportunidades para avanços brasileiros

Amadeu explicou que a disputa geopolítica entre os dois países envolve, principalmente, questões econômicas, mas também poder militar. Nesse sentido, o desenvolvimento de IA aparece como uma "tecnologia transversal estratégica", pois eleva a produtividade de diversas funções e complementa diferentes áreas. 

O sociólogo ressalta que esse desenvolvimento precisa de três fatores estratégicos: primeiro, dados. "Por isso os Estados Unidos não param de concentrar dados", afirmou. Amadeu ainda destacou que o país vem enfrentando um problema de energia, pois esses dados precisam ser armazenados.  

Em segundo lugar, estão os nanoprocessadores. Novamente, os EUA lideram o controle desse setor, mas a China está avançando efetivamente, de acordo com Amadeu. Por último, o sociólogo citou as infraestruturas, e afirmou que há "uma guerra por atrasar determinadas coisas que podem dar um up nas infraestruturas de processamento de ar".

Diante disso, Amadeu avaliou que a China mostrou que no algoritmo e na matemática é tão ou mais capaz que os Estados Unidos. No entanto, ainda está em desvantagem na área de semicondutores, além de ter acesso aos dados do planeta como os EUA. Ainda assim, Amadeu afirmou que a briga é "muito forte".

"A disputa é muito feroz, e os Estados Unidos não estão brincando. Por mais que o Trump faça essas loucuras, eles estão pondo dinheiro em datacenters. Significa que eles não vão parar de fazer o paradigma que eles estão fazendo. Eles não vão parar de produzir, não vão parar de tentar manter a liderança na IA", afirmou. 

Em relação à posição do Brasil dentro dessa disputa, o sociólogo disse que o país tem capacidade de desenvolver uma IA própria, mas não na mesma velocidade e potência que EUA e China. "Mas, para a gente não perder o bonde da história, tem que usar e a gente tem que desenvolver. Tem que fazer o nosso desenvolvimento", defendeu Amadeu. 

Ele ainda ressaltou que a oportunidade para o Brasil não se limita a "trocar a liderança americana pela chinesa", mas reconhecer que a China tem mais "abertura" para que o Brasil também se desenvolva. 

"Nós podemos, se nós tivermos um plano, nos beneficiar de uma parceria do Sul, de uma parceria com a China, de parcerias com os europeus que vão ter que mudar a linha deles", disse Amadeu. 

Ele acrescentou afirmando que o Brasil tem "coisas muito pequenas e outras grandes, de grande importância, quando ele consegue ter uma estratégia". "Vê a estratégia que a gente teve da indústria de aviação. A gente construiu uma Embraer", destacou. Amadeu afirmou que a própria Embraer vai se beneficiar desse cenário político, "sem dúvida". "Porque ela tem plano, ela tem produção, ela tem qualidade".

Agricultura familiar

Amadeu defendeu que uma das principais áreas que podem ser beneficiadas com a parceria tecnológica com a China é a agricultura familiar, através de arranjos produtivos para a agroecologia. E um dos principais atores nisso deve ser o Movimento Sem Terra (MST)

"A China é parceira nisso, porque a China fez reforma agrária e eles têm máquinas de pequeno porte. A gente pode trazer essas máquinas e trazer o grau de digitalização", disse o sociólogo. "A gente deveria apostar na digitalização e dataficação não ambientalmente destrutiva para a agroecologia, para a produção familiar", avaliou. 

"Essa chamada agricultura de precisão podia ser adequada aos interesses dos pequenos e dos familiares. E isso não vai interessar gigantes, mas a gente tem que ter essa coisa e, talvez, isso possa nos ajudar bastante a ampliar a produção dos alimentos e melhorar as condições de vida no campo também", finalizou Amadeu. 

Confira a entrevista completa do sociólogo Sérgio Amadeu ao Fórum Onze e Meia 

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