O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa, nesta quarta-feira (9), de uma reunião com líderes de países da América Latina para fortalecer a integração regional. O encontro ocorre em meio a desafios políticos e econômicos impostos pela guerra comercial de Donald Trump, que testam a coesão entre os países membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
A 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade acontece em Honduras. Na avaliação do governo, a viagem é um recado de Lula em favor das práticas de livre-comércio, da cooperação multilateral e das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), como já vinha fazendo em acordos multilaterais com países da Ásia no mês passado.
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Um dos principais empecilhos na cúpula regional é a atuação de líderes alinhados a Trump, como ultraliberal argentino Javier Milei. Entre os líderes esperados para o encontro, segundo o governo de Honduras, estão Claudia Sheinbaum (México), Gustavo Petro (Colômbia), Luis Arce (Bolívia), Yamandú Orsi (Uruguai) e Miguel Díaz-Canel (Cuba), além de outros chefes de Estado.
Lula quer sinalizar que o Brasil está pronto para ampliar sua presença nos mercados latino-americanos, oferecendo não apenas commodities agrícolas, mas também produtos de maior valor agregado. O objetivo é fortalecer a presença brasileira na região, promovendo a integração, além de trazer à tona as prioridades ambientais para a COP 30.
Integração de países da América Central e do Sul
Com intercâmbio de US$ 86 bilhões, a Celac representa um parceiro comercial estratégico para o Brasil. O governo avalia que as tarifas impostas pelos EUA a outros países podem impulsionar a aproximação entre economias da região. O bloco representa um mercado de 670 milhões de pessoas, mas o retorno econômico da integração ainda é restrito, devido ao poder de compra reduzido da maioria das nações envolvidas.
O Brasil pretende apresentar em Honduras uma série de propostas, incluindo a articulação de um nome latino-americano para concorrer à secretaria-geral da ONU em 2026. O último representante da região no cargo foi o peruano Javier Pérez de Cuéllar, que ocupou a função entre 1982 e 1991. Antes dessa disputa, haverá a renovação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e o governo Lula quer assegurar um equilíbrio ideológico entre os novos integrantes. Há preocupação, segundo fontes do Planalto, de que a comissão seja dominada por perfis conservadores, alguns dos quais próximos ao bolsonarismo.
Apesar do momento delicado vivido pela Celac, marcado por divisões internas, Lula e aliados, como o colombiano Gustavo Petro, futuro presidente temporário da entidade, também articulam saídas para restaurar a coesão regional.
Questão migratória
Na Celac, a problemática migratória também é um assunto constante, marcado pela diversidade de fluxos migratórios e pela importância das remessas financeiras para os países da América Central e do Sul – uma realidade que não se uniformiza entre os diferentes países.
Em 2023, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) reportou que as remessas dos trabalhadores latino-americanos e caribenhos que residem nos EUA alcançaram US$ 154,4 bilhões. Do total, o México foi responsável por US$ 63,3 bilhões, ou 41%.
Destaque para a América Central: Guatemala enviou US$ 19,8 bilhões, seguida por Honduras com US$ 9,1 bilhões e El Salvador com US$ 8,1 bilhões. Já na América do Sul, apenas a Colômbia acumulou US$ 10 bilhões, correspondendo a 34% do montante referente ao bloco.
Dados atualizados até 2022, o Pew Research Center estimou a presença de 11 milhões de imigrantes não documentados nos EUA. Entre estes, a população mexicana se sobressai, atingindo 4 milhões, seguida por 2,1 milhões vindos da América Central, 1 milhão da América do Sul e 725 mil dos países caribenhos.
Os principais países emissores de imigrantes do Triângulo do Norte incluem salvadorenhos (750 mil), guatemaltecos (675 mil) e hondurenhos (525 mil). Outros países relevantes no movimento migratório são a Venezuela (275 mil), Brasil e República Dominicana (230 mil cada), Colômbia (190 mil), Equador (140 mil) e Haiti (110 mil).