Como organismos se regeneram no espaço? A China vai tentar responder a essa pergunta com seus próximos experimentos na Estação Espacial Tiangong (TSS), informa o Centro de Tecnologia e Engenharia para Utilização Espacial da Academia Chinesa de Ciência.
Os cientistas devem transportar ao espaço, no ambiente de microgravidade, organismos vivos capazes de regenerar-se com facilidade a fim de testar as condições espaciais para a reprodução celular, seus "impactos fisiológicos e moleculares" e como esses organismos reagem a condições magnéticas alteradas, diz o departamento.
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Os organismos em questão são as planárias, vermes achatados cuja maior característica é sua alta capacidade de se regenerar — devido a um grupo de células-troncos não especializadas presente no seu organismo, os neoblastos.
"Esses organismos são surpreendentes porque, mesmo em experimentos que envolviam seu contato com altos níveis de radiação, em doses consideradas letais, as planárias foram capazes de regenerar apenas as células afetadas, aumentando a atividade dos genes na produção de tetraspanina — uma família de proteínas de membrana responsável responsável por suprimir a evolução de tumores em diversos tipos de câncer, como informa uma pesquisa liderada pelo Instituto Faber para o Câncer de Boston, publicado no periódico Nature Reviews.
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A estação espacial chinesa já liderou outros experimentos tão surpreendentes quanto este: no início do ano, por exemplo, a missão Shenzhou-19 foi responsável por reproduzir o processo de fotossíntese no espaço, a partir de semicondutores catalíticos que convertiam dióxido de carbono e água em oxigênio.
Com organismos, outras pesquisas conduzidas no módulo espacial chinês já haviam usado peixes-zebra para descobrir como a microgravidade afeta as proteínas dos músculos e dos ossos em animais vertebrados; e, para estudar o fator de crescimento e a dinâmica do organismo sob as condições espaciais, também foram levadas ao módulo de pesquisa algumas moscas-das-frutas.
As planárias devem se concentrar, agora, em pesquisas específicas sobre a ação de regeneração que ocorre no interior das células, auxiliadas por uma equipe multidisciplinar composta por biólogos, engenheiros espaciais e especialistas em bioengenharia, e os dados obtidos no espaço devem servir para análises comparativas com aqueles da Terra, obtidos em condições normais de análise, para entender quais fatores específicos são afetados pelo ambiente espacial.
Os cientistas também já se dedicaram a estudar o crescimento de células-tronco humanas no espaço. Durante os experimentos feitos em Tiangong, os cientistas observaram que elas podem crescer mais rapidamente em um ambiente de microgravidade controlado. Além disso, a microgravidade pode influenciar a diferenciação celular da reprodução das células, especialmente as ósseas e neurais, o que poderia ser transferido em benefícios para o tratamento de doenças específicas na Terra.
Em junho de 2023, cientistas em Tiangong afirmaram ter sido bem-sucedidos na "produção espacial" de células-tronco pluripotentes (células-tronco embrionárias e, portanto, capazes de transformar-se em qualquer outro tipo de célula) pela primeira vez.