REDES SOCIAIS

TikTok: como aplicativo que pode ser banido dos EUA trasformou cultura digital no mundo

Desde que chegou ao mercado ocidental, plataforma chinesa mudou a forma de se utilizar as redes e produzir conteúdos

TikTok pode ser banido dos EUA neste domingo (19).Créditos: CottonBro Studio/ Pexels
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A Suprema Corte dos Estados Unidos confirmou nesta sexta-feira (17) a manutenção da lei que prevê a suspensão dos serviços do TikTok para mais de 170 milhões de usuários no país. A Corte negou um apelo da ByteDance, a empresa chinesa que controla o TikTok, permitindo a proibição do aplicativo. 

Os magistrados endossaram a decisão de primeira instância que declarou constitucional a lei, que estabelece o bloqueio do aplicativo, caso ele não seja vendido até a meia-noite deste domingo (19). Em abril de 2024, o presidente Joe Biden aprovou uma lei que exigia que a empresa chinesa ByteDance, que controla o TikTok, vendesse suas ações para uma empresa americana até esta data.

Caso contrário, a plataforma seria proibida no país. A decisão reflete a tensão geopolítica entre EUA e China. O argumento dos congressistas estadunidenses era de que os aplicativo e a ByteDance estariam fornecendo dados dos usuários para autoridades chinesas. 

A empresa negou o acesso às informações e reforçou que o banimento da plataforma vai contra a 1ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que protege a liberdade de expressão. O banimento da plataforma pode acontecer antes da posse presidencial de Donald Trump, que pediu aos juízes que a decisão fosse adiada até seu governo, pois buscaria uma "resolução política" para a questão.

A iminente proibição do TikTok nos Estados Unidos criou um fenômeno curioso: os chamados “refugiados do TikTok”, usuários estadunidenses que estão migrando em massa para plataformas alternativas, como o Xiaohongshu, conhecido como "Little Red Book" (Pequeno Livro Vermelho, em tradução livre).

Nova casa para os exilados digitais

Lançado em 2013, o Xiaohongshu é uma plataforma chinesa que combina mídia social e comércio eletrônico e permite que os usuários compartilhem experiências, recomendem produtos e interajam em uma comunidade focada em estilo de vida. Com mais de 300 milhões de usuários registrados, a maioria mulheres, o aplicativo se consolidou na China e agora conquista os Estados Unidos, onde acaba de se transformar no aplicativo mais baixado na App Store, reflexo da busca por alternativas ao TikTok.

LEIA MAIS: 'Refugiados do TikTok' invadem a 'China Digital'

TikTok mudou cultura digital em menos de uma década

Muitas mudanças ocorreram nos últimos sete anos. As grandes empresas de mídia praticamente todas lançaram seus serviços de streaming. Passamos por uma pandemia global que ainda deixa suas marcas. Diversos países mudaram de presidente duas vezes. No entanto, uma das transformações mais significativas neste período, em termos de estilo de vida, foi a chegada do TikTok.

Lançado em 2016, o TikTok só foi introduzido no mercado ocidental dois anos depois, quando a empresa chinesa ByteDance integrou a plataforma ao app Musical.ly. Em pouco tempo, o TikTok se tornou o aplicativo mais baixado do mundo, mantendo esse título por vários anos, até ser ultrapassado pelo Instagram em 2023. Foi também no mesmo ano que o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, iniciou os primeiros movimentos para regulamentar a plataforma, citando riscos à segurança nacional. 

Com a proibição do TikTok nos EUA prestes a ser implementada, é um momento oportuno para refletir sobre o impacto cultural que o aplicativo teve em tão pouco tempo. Por isso, a Fórum com base no artigo divulgado pela Fast Company Brasil, separou algumas das transformações promovidas pela aplicativo na cultura digital:

1 - Vídeos no centro das redes e popularização das ‘dancinhas’

Antes do TikTok, os vídeos eram apenas uma parte integrante das redes sociais, não sendo o principal foco. Porém, a chegada do aplicativo alterou essa dinâmica. Com vídeos mais longos do que os seis segundos do Vine e o limite de um minuto do Instagram da época, além de ferramentas de edição avançadas e um sistema de descoberta altamente eficiente, o TikTok aumentou as possibilidades de criação de conteúdo.

Esses recursos proporcionaram aos vídeos maior criatividade e engajamento, o que rapidamente conquistou a audiência. Para artistas e figuras públicas, a presença no TikTok tornou-se fundamental, e para a indústria do entretenimento, clipes curtos de filmes e programas se tornaram uma importante ferramenta de marketing.

2 - Tempo da atenção às telas

O TikTok, ao alcançar grande sucesso, inspirou outras plataformas a replicarem a fórmula de produção de vídeos. O Instagram lançou o Reels em 2020, e o YouTube respondeu com os Shorts logo em seguida. A popularidade dos vídeos curtos ultrapassou as redes sociais e chegou até a mídia tradicional. 

Contudo, esse fenômeno de conteúdos rápidos gerou apreensão, especialmente no que diz respeito à geração Alpha, que está se desenvolvendo com esse modelo de consumo. Embora o TikTok não faça as pessoas esquecerem como ler, ele pode estar diminuindo nossa habilidade – ou paciência – para manter o foco.

A infinita oferta de conteúdos envolventes, a um deslizar de dedo de distância, alimentada pelo algoritmo altamente eficiente da plataforma, está diminuindo a capacidade de atenção coletiva, conforme já mostraram muitos estudos.

3 - Influenciadores de nicho

O algoritmo do TikTok se destaca pela sua eficácia em identificar os interesses de cada usuário. Com isso, ele tem levado muitas pessoas a descobrir nichos que talvez nunca tivessem encontrado de outra maneira.

Quando o usuário interage com determinado tipo de conteúdo, o algoritmo responde com mais conteúdo relacionado, criando um ciclo que favorece o crescimento de influenciadores em nichos muito específicos e permitindo que esses criadores de conteúdo alcancem sucesso com uma audiência fiel.

4- Criação de tendências que foram parar em outras redes

As redes sociais interativas não começaram com o TikTok. Fenômenos como o "Harlem Shake" e o "Desafio do Balde de Gelo" já dominavam o Twitter em 2014, seguidos por outras tendências ao longo dos anos. O que realmente mudou foi a velocidade e a frequência com que essas tendências surgem. Os recursos do TikTok permitiram que os vídeos se tornassem ainda mais envolventes.

Além de impulsionar desafios e expressões populares, o aplicativo chinês também desempenha um papel crucial na viralização de produtos e receitas, transformando-os em sensações.

5 - Transformação da indústria musical

Nos últimos anos, o TikTok teve um papel fundamental na transformação da indústria musical. Artistas agora buscam replicar o sucesso de Doja Cat com "Say So", que se tornou um sucesso global após ser incorporado a um desafio de dança em 2019. Algumas gravadoras passaram até a exigir que seus artistas criassem conteúdo na plataforma para aumentar as chances de suas músicas se espalharem viralmente. 

Além de tornar músicas e artistas mais populares, o TikTok também modificou o estilo musical. Faixas mais curtas, com partes repetitivas perfeitas para coreografias, se estabeleceram como uma fórmula de sucesso. Embora também tenha promovido filmes e séries, o impacto do TikTok na música foi incomparável, tornando o app um dos principais concorrentes dessas indústrias.

Tiktokização na política: como IA e deepfakes no TikTok redefiniram estratégias eleitorais no Brasil

Uma reportagem da Fórum, publicada em dezembro, ainda trouxe um relatório do Instituto Democracia em Xeque que mostrou como o uso de deepfakes e de inteligência artificial (IA) no TikTok teve grande influência nos eleitores brasileiros ao longo do processo eleitoral.

O Brasil teve 15.574 candidaturas à prefeitura, que disputaram 5.569 vagas, de acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e os políticos que mais utilizaram a plataforma e os recursos são aqueles que concorreram nas capitais: Pablo Marçal, André Fernandes, Tabata Amaral e Guilherme Boulos.

Isso significa que a plataforma também foi espaço de disputa pela corrida eleitoral e que o fenômeno da tiktokização se estabeleceu no campo político. Entre 16 de agosto e 5 de outubro, período que corresponde ao início da propaganda eleitoral até a véspera do primeiro turno, por exemplo, 8,6 mil postagens foram feitas no TikTok por candidatos a prefeitos das capitais brasileiras. 

De acordo com o estudo, Pablo Marçal se destaca com o maior engajamento, somando 1.603.344 interações em um vídeo com cortes em que prometia “caminhar” pelas ruas da cidade até o início do primeiro turno das eleições. Uma matéria da Fórum, inclusive, explicou como a monetização de cortes de vídeos foi responsável por impulsionar a campanha política do ex-coach.

Em um período de 71 dias, as 56 contas criadas pelo empresário publicaram uma média de 48,7 vezes por dia. No total, as postagens dessas contas de cortes acumularam mais de 73 milhões de visualizações, com média de 20.673 por publicação, além de mais de 500 mil comentários e cerca de 300 mil compartilhamentos.

Leia a reportagem completa: Estudo mostra como IA e deepfakes no TikTok redefiniram estratégias eleitorais em 2024

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