TECNOLOGIA

Microsoft e Amazon: apagão revela risco de concentração de dados em clouds privadas, alerta Amadeu

Das 10 empresas de serviços de infraestrutura em nuvem, 8 estão têm sede nos EUA e três delas abocanham 65% do mercado

Apagão gerou caos na Estação Central de Milão, na Itália.Créditos: Claudio Furlan/Lapresse/DiaEsportivo/Folhapress
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O apagão cibernético, que gerou caos no mundo com a "tela azul da morte" no sistema Windows, revela os riscos da dependência global da tecnologia, concentrada nas mãos de poucas empresas privadas.

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O alerta - ou "os alertas" - foram feitos pelo sociólogo Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e um dos maiores especialistas em redes digitais do país.

"Antes é preciso esclarecer que a falha no acesso a uma série de serviços online ocorreu devido a uma atualização incorreta e, ainda não detalhada, da solução de segurança chamada CrowdStrike Falcon Sensor, utilizada em computadores com windows que trabalhavam na nuvem da Microsoft Azure", explica.

Amadeu, no entanto, faz dois alertas importantes. "O primeiro alerta é que a computação em nuvem pode ser imediatamente mais barata, mas pode gerar problemas graves como a perda de acesso a dados e a sistemas indispensáveis ao funcionamento de empresas e instituições no país", afirma em publicação no Instagram.

O segundo alerta diz respeito justamente à concentração de dados tanto de empresas, quanto de instituições nas mãos de poucas big techs, como são chamadas as gigantes de tecnologia.

"Segundo alerta é o tamanho da concentração de dados e de operações digitas nas mãos de tão poucas empresas. Não é por menos que são empresas trilionárias. A Amazon Web Server e a Microsoft Azure dominam mais de 60% do modelo de negócios da nuvem como infraestrutura como serviço hoje", afirma.

Segundo dados do Synergy Research Group, que realiza pesquisas de mercado nos setores de redes e comunicações, das 10 maiores empresas de "clouds" - o armazenamento de dados em nuvem -, 8 delas estão sediadas nos Estados Unidos.

Somente a Alibaba Cloud, responsável por 4% do mercado, com sede na China, e a OVHCloud, que tem menos de 1% do serviço no mundo, localizada na França, estão fora do território estadunidense.

Segundo a Synergi, a Amazon Web Services (AWS) tem 32% do mercado, a Microsoft Azzure - onde ocorreu o apagão desta sexta-feira (19) - responde por outros 22%, e a Google Cloud Platform (GCP) abocanha 11% do setor. No total, as 3 big techs concentram 65% dos dados em nuvem armazenados no planeta.

Para se ter a noção do tamanho do mercado, de acordo com a Synergi, no primeiro trimestre de 2024 os gastos globais com serviços de infraestrutura em nuvem cresceram US$ 13,5 bilhões ou 21% em comparação com o primeiro trimestre de 2023, elevando os gastos totais para mais de US$ 76 bilhões nos três meses encerrados em 31 de março.

"Em termos de taxa de execução anualizada, temos agora um mercado de US$ 300 bilhões que cresce 21% ao ano", disse John Dinsdale, analista-chefe do Synergy Research Group em entrevista ao blog da empresa.

"Veremos o mercado continuar a expandir-se substancialmente. Prevemos que duplicará de tamanho nos próximos quatro anos", emendou sobre os dados, divulgados em maio deste ano.