A estrutura de madeira mais antiga do mundo acaba de ser descoberta na fronteira entre a Zâmbia e a Tanzânia. A estrutura pode ter formado uma ponte ou plataforma para armazenamento para ancestrais dos humanos no Rio Kalambo, há quase 500 mil anos.
A descoberta, publicada nesta quarta-feira (20) na revista Nature, representa um avanço para a arqueologia, pois pode significar que os ancestrais dos seres humanos já possuíam características de sedentarismo, isto é, que eles ocupavam um determinado lugar por um período maior de tempo. Até agora, a ciência os considera como apenas nômades.
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A descoberta
A estrutura foi encontrada nas cataratas de Kalambo, no Rio Kalambo, pelos cientistas das Universidades de Liverpool e Aberystwyth, no Reino Unido. A estrutura data de, pelo menos, 476 mil anos atrás, o que significa que foi produzida antes do Homo sapiens, isto é, dos seres humanos modernos, que surgiram há 300 mil anos.
Cientistas acreditam que o objeto seja trabalho do Homo heidelbergensis, um ancestral dos humanos modernos que vivia na região, o que pode significar que essa espécie não era totalmente nômade, como se pensava.
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“[O objeto] pode ser parte de uma passarela ou parte da fundação de uma plataforma”, disse o professor líder da pesquisa Larry Barham, arqueologista na Universidade de Liverpool. “Uma plataforma poderia ser usada como local para guardar coisas, para manter a lenha ou a comida seca, ou poderia ser um local para sentar e fazer coisas. Você poderia colocar um pequeno abrigo em cima e dormir lá”, explicou.
“Eles transformaram o ambiente para facilitar a vida, mesmo que fosse apenas fazendo uma plataforma para sentar à beira do rio e fazer suas tarefas diárias. Essas pessoas eram mais parecidas conosco do que pensávamos”, disse o pesquisador.
Outro fator faz esse achado ainda mais impressionante. A madeira raramente sobrevive por longos períodos, pois apodrece e desaparece. Porém, os níveis permanentemente altos de água nas cataratas do Kalambo permitiram que a estrutura fosse preservada por sedimentos alagados e carentes de oxigênio.
Consequências e próximos passos
A estrutura data da chamada “Idade da Pedra”, uma fase da pré-história na qual os hominídeos – isto é, os ancestrais dos humanos – usaram pedra para fabricar ferramentas, ou era o que se imaginava. "Esqueça o rótulo 'Idade da Pedra', veja o que essas pessoas estavam fazendo: elas criaram algo novo e grande a partir da madeira", disse Barham.
Os cientistas do projeto, intitulado "Raízes Profundas da Humanidade" (Deep Roots of Humanity), acreditam que o local provavelmente contém outras estruturas de madeira, talvez até mais antigas. Por isso, a prioridade agora é trabalhar junto com o governo da Zâmbia para tornar as cataratas do Kalambo um Patrimônio Mundial da Unesco.
*Com informações de The Guardian e Galileu