CORRIDA ESPACIAL

Nasa anuncia projeto que permitirá chegar a Marte em menos tempo

Em até três anos, os Estados Unidos estarão prontos para realizar um teste no espaço com um foguete impulsionado por energia nuclear que reduz o tempo de deslocamento entre a Terra e o planeta vermelho

Créditos: Lockheed Martin - Ilustração da espaçonave movida a energia nuclear
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A Nasa, agência espacial nacional, e a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa) anunciaram na última quarta-feira (26) que selecionaram a Lockheed Martin para liderar o projeto de projetar, construir e testar um sistema de propulsão que poderá, no futuro, levar astronautas rapidamente em uma jornada para Marte.

Para a construção do motor, a empresa BWX Technologies, com sede em Lynchburg, na Virgínia, ficará responsável pela criação do reator de fissão nuclear.

O programa, com um orçamento de US$ 499 milhões, é chamado de Draco, que é a abreviação de "Demonstration Rocket for Agile Cislunar Operations" (Foguete de Demonstração para Operações Cislunares Ágeis).

Metade do tempo

A cada 26 meses aproximadamente, Marte e Terra estão suficientemente próximos para permitir uma jornada mais curta entre os planetas. Contudo, mesmo assim, a viagem ainda é bastante longa, levando de sete a nove meses. Na maior parte do tempo, a espaçonave está simplesmente navegando pelo espaço.

No entanto, se a nave pudesse continuar acelerando durante a primeira metade da viagem e depois começasse a desacelerar, o tempo de percurso poderia ser reduzido.

Os atuais motores de foguetes, que normalmente dependem da combustão de um combustível, como hidrogênio ou metano com oxigênio, não são suficientemente eficientes para realizar essa manobra; além disso, não há espaço suficiente na espaçonave para transportar tanto combustível.

Por outro lado, as reações nucleares, que produzem energia através da divisão dos átomos de urânio, são muito mais eficientes.

O motor do Draco será composto por um reator nuclear que aquecerá o hidrogênio a temperaturas extremas, variando de -420 graus Fahrenheit (-251ºC) a escaldantes 4.400ºF (2.426ºC), e o gás quente será direcionado por um bocal para gerar impulso.

Essa maior eficiência do combustível possibilitará acelerar as viagens a Marte, reduzindo significativamente o tempo que os astronautas passam expostos ao ambiente hostil do espaço profundo.

Além disso, a propulsão nuclear também pode ter aplicações mais próximas da Terra, o que justifica o investimento da Darpa nesse projeto. A tecnologia poderá permitir manobras rápidas de satélites militares em órbita terrestre.

Ideia antiga e ainda revolucionária

A propulsão nuclear no espaço não é uma ideia recente. Nas décadas de 1950 e 1960, o Projeto Orion recebeu financiamento da Nasa, da Força Aérea e da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada dos EUA, e explorou a possibilidade de utilizar explosões de bombas atômicas para impulsionar espaçonaves.

Ao mesmo tempo, a Nasa e outras agências iniciaram os Projetos Rover e Nerva, com o objetivo de desenvolver motores termonucleares semelhantes em conceito aos que são o foco do programa Draco.

Foram construídos e testados uma série de 23 reatores, mas nenhum chegou a ser lançado ao espaço. Até o final desse programa, em 1973, a Nasa considerou a utilização de reatores nucleares para impulsionar sondas espaciais em direção a Júpiter, Saturno e além, além de fornecer energia para uma base lunar.

"As capacidades técnicas, incluindo os protocolos de segurança iniciais, permanecem viáveis até hoje", afirmou Tabitha Dodson, diretora do projeto Draco, durante uma coletiva de imprensa na quarta-feira.

Uma diferença fundamental entre o Projeto Nerva e o Draco é que o Nerva utilizou urânio altamente enriquecido em seus reatores, enquanto o Draco empregará uma forma menos enriquecida de urânio.

O reator não será ativado até chegar ao espaço, como parte das precauções para minimizar a possibilidade de qualquer acidente radioativo na Terra.

"A equipe do Draco conduziu análises preliminares abrangendo todas as possibilidades de acidentes e concluiu que estamos muito abaixo da probabilidade mínima e de qualquer quantidade significativa de liberação de materiais radioativos", disse Dodson.

Teste em órbita

O desenvolvimento do Draco culminará em um teste de voo do motor termonuclear. Kirk Shireman, vice-presidente da Lockheed Martin, informou que o lançamento está programado para o final de 2025 ou início de 2026.

A espaçonave de demonstração provavelmente orbitará em uma altitude entre 700 km e 2.000 km, assegurando que ela permaneça em órbita por mais de 300 anos, tempo necessário para que os elementos radioativos no combustível do reator se degradem a níveis seguros, conforme explicou Dodson.

Com informações do The New York Times

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