O debate entre os cinco principais candidatos à prefeitura de São Paulo foi, durante boa parte do tempo, morno, ainda mais em relação a alguns dos encontros anteriores em que os embates foram muito mais ríspidos, chegando até à agressão física.
Não à toa, o encontro da Globo é o último e, para muitos, o primeiro momento de apresentação real ao eleitor, sem os filtros da propaganda eleitoral. Por contra disso, vale o reforço de pontos da imagem que os candidatos acreditam ser essenciais para garantir votos e a ida ao segundo turno.
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Guilherme Boulos (PSOL) tentou passar uma imagem de moderação que realmente é a sua, já que nunca foi o extremista que adversários da direita/extrema-direita buscam pintar. Foi propositivo, mas também fez questão de demarcar o terreno diante de seus adversários, colando na testa de Ricardo Nunes (MDB) e de Pablo Marçal (PRTB) a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro. E trouxe para si, mais de uma vez, sua vice, Marta Suplicy, e o presidente Lula.
É um dos últimos esforços para cativar o eleitorado das periferias e reforçar que é o candidato que pode derrotar o bolsonarismo em São Paulo, apelando emocionalmente, sem dizer de forma explícita, para um voto que ainda não está com ele, mas que tem horror ao extremismo do ex-presidente.
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Os figurinos à direita
Já Pablo Marçal foi o típico candidato da extrema direita, falando para públicos diferentes que têm em comum o antiesquerdismo, que fez questão de reafirmar. Falou em "jornada da prosperidade", expressão típica de cursos como os que costuma dar e que têm uma audiência cativa, mas usou termos religiosos ao afirmar que quer ser um "servo do povo" e terminar sua fala com "família, fé, liberdade e prosperidade". Tentou, como sempre, se colocar como antipolítico e alguém perseguido.
A campanha de Bolsonaro em 2018 foi bem sucedida nisso. Eram diversas ideias e ditos valores que podiam ser captadas ao gosto do freguês. Com o candidato à prefeitura o principal apelo é à prosperidade individual, que pode ter uma aderência em classes sociais distintas e que também dialoga diretamente com segmentos religiosos. Nesse aspecto, é muito mais autêntico que o próprio Bolsonaro.
Já Ricardo Nunes não conseguiu se sobressair, mais uma vez. Ao ser acossado no terceiro e quarto blocos com questionamentos dos adversários, que incluíram desde privatização de cemitérios até o boletim de ocorrência registrado pela sua esposa contra ele em 2011, Nunes repetiu o comportamento de debates anteriores, quando não soube responder no tempo certo, desviou do tema ou deu respostas evasivas.
Repisou ser um candidato "liberal" mais de uma vez, defendendo privatizações, afirmando que não aumentou e nem vai aumentar impostos caso seja reeleito. Talvez fosse uma tentativa de buscar votos no terreno do Novo ou do próprio Marçal, mas uma tática forçada, já que o prefeito não havia adotado ainda um discurso nesse sentido.
E o desempenho do prefeito talvez resuma sua campanha. Não conseguiu achar um figurino em que não se sentisse desconfortável, o que talvez seja perceptível também para o eleitor. Precisando de fôlego novo para dar um impulso final à campanha, ficou devendo.