Rafael Silva Oliveira é o bolsonarista que em 7 de setembro do ano passado matou seu colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, petista, após discussão política em bar de Confresa, no Mato Grosso. O assassino que naquela ocasião deu 70 facadas na vítima e tentou arrancar sua cabeça com uma machadada foi condenado, em 24 de agosto, a 14 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado.
Entre as qualificações do crime estão motivo fútil por conta da discussão política, meio cruel e a impossibilidade da vítima se defender. O autor confessou o crime e nunca mostrou arrependimento. A defesa de Rafael ainda pode recorrer mas o Ministério Público estadual afirma que tentará pedir um aumento de pena.
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Relembre o caso
Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos, foi assassinado na madrugada de 7 para 8 de setembro de 2022 por Rafael Silva de Oliveira, 24, que confessou o crime à polícia. Segundo a investigação, o crime ocorreu porque Oliveira, eleitor de Bolsonaro, não gostou do fato de o seu colega de trabalho, dos Santos, ter saído em defesa do então ex-presidente Lula. Um mês e meio depois, Lula seria eleito.
Benedito e Rafael, que eram funcionários de uma agrovila na zona rural de Confresa (a 1.167 km de Cuiabá), discutiram por motivos políticos e, exaltado, Rafael esfaqueou o colega.
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Investigações da polícia apontam que a briga entre os dois teria começado na noite de 7 de setembro, dia em que o presidente Bolsonaro usurpou a data para fazer comícios eleitorais nos atos pelo Bicentenário da Independência do Brasil. O corpo de Benedito só foi encontrado na manhã seguinte pela sua chefe, que não teve identidade revelada.
Em depoimento à polícia civil, a mulher disse que perguntou a Rafael o que teria acontecido, visto que ele foi o último a estar com Benedito, mas, o suspeito deu uma resposta confusa que a deixou desconfiada: Rafael disse que dois homens teriam invadido o local, executado Benedito e depois ainda teriam tentado matá-lo. Mas, logo depois de contar tal versão a sua chefe, Rafael pediu um adiantamento, ou seja, tinha a intenção de fugir. Foi neste momento que a mulher resolveu chamar a polícia.
Outro fato que chamou a atenção da responsável pela agrovila, é que Rafael tinha sangue nas roupas, cortes nos supercílios e arranhões pelo corpo.
Em entrevista à Fórum, o delegado Victor Oliveira, da Delegacia Municipal de Confresa e responsável pelo caso, revelou mais detalhes do crime a partir do depoimento do autor. “Tudo começou na manhã do dia 8 de setembro, por volta das 6h, quando o autor [do crime, Rafael Silva de Oliveira] compareceu no hospital [de Confresa] para receber atendimento médico. A Polícia Militar já estava no hospital e tinha conhecimento de que tinha uma vítima de homicídio na Zona Rural. Então, a PM ligou os fatos e apresentou a suspeita pra gente aqui na Polícia Civil”, conta Oliveira.
Com o alerta em mãos, o delegado contou que eles foram até a chácara onde ocorreu o assassinato. “Nós, com equipe de investigador bastante experiente nesses crimes de homicídios, deslocamos até o local do fato, onde estava o corpo da vítima e lá nós logramos êxito em encontrar as armas do crime: um machado e uma faca. Também encontramos outros elementos que apontava para o suspeito como sendo o autor do crime”, revela o delegado responsável pelo caso.
Rafael foi preso em flagrante e confessou o crime em depoimento à polícia. Em seu relato, o bolsonarista declarou que "acabou saindo de si e matou seu colega com golpes de faca". Mesmo com o crime confesso, a Polícia Civil continua investigando o caso.
“Ele viu que não adiantava mais negar e resolveu confessar os fatos. Segundo ele [Rafael Silva, autor do crime] tudo começou na noite do 7 de setembro quando eles estavam juntos e sozinhos nessa chácara e estavam falando sobre política. Quando a vítima estava defendendo o candidato Lula e o suspeito, autor do crime, defendendo o candidato Bolsonaro. A partir de um momento, a vítima desferiu um soco na cara do autor, que revidou com outro soco. Após isso, a vítima pegou uma faca que estava sobre a mesa e o autor foi pra cima para tomar a faca. O autor conseguiu tomar a faca e a vítima saiu correndo e o autor saiu correndo atrás dela”, conta o delegado.
Ao alcançar Benedito, o autor do crime desferiu vários golpes com a faca que tinha em mãos. Segundo o delegado, durante o depoimento, Rafael deu detalhes do crime. “O autor acertou um golpe de faca nas costas da vítima, que caiu no chão, o autor foi pra cima e desferiu outro golpe no olho da vítima, depois outro golpe no pescoço e depois vários golpes na testa da vítima. Aí ele saiu de cima da vítima, que ainda estava com vida. A vítima xingou o autor do crime de 'filha da put**' e o autor ficou com mais raiva ainda e foi até o barraco, pegou o machado, que era a ferramenta de trabalho dele e retornou até a vítima, que ainda estava com vida, e deu o golpe fatal no pescoço. Após isso a vítima veio a óbito”, relata.
Posterior, o assassino confesso “escondeu as armas do crime, se dirigiu a pé para a cidade de Confresa e foi localizado no hospital. Ele foi autuado em flagrante pelo crime de homicídio qualificado pelo motivo fútil e também qualificado pelo meio cruel. Segundo o próprio autor, foram aproximadamente 17 facadas que ele deu na vítima”.
Preso em flagrante, Rafael foi encaminhado para o sistema carcerário. “O autor foi apresentado ao poder Judiciário, passou pela audiência de custódia e o juiz converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva. Ou seja, ele vai continuar preso nos próximos dias e nós, da Polícia Civil, vamos continuar a investigação. Vamos juntar os laudos periciais, vamos ouvir mais testemunhas e depois remeter o inquérito policial para as demais providências do poder judiciário”.
À Fórum, o delegado Victor Oliveira também afirmou que essa é a primeira vez que a cidade de Confresa registra um crime motivado por ódio político. Também revelou que, antes do assassinato, não houve consumo de álcool e que os homens estavam apenas fumando um cigarro antes dos fatos.
“Bolsonaro é o culpado”
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), foi às redes sociais em 9 de setembro de 2022 para condenar o assassinato. “A 1 dia de completar 2 meses do assassinato do Marcelo Arruda, do PT, por um bolsonarista, outro bolsonarista assassinou com facadas um apoiador do Lula, no MT. O comando de violência que dá Bolsonaro para extirpar Lula e os petistas leva a isso. O assassino é você, Bolsonaro!”, publicou Gleisi.
O ex-presidente Lula também se manifestou sobre o caso via redes sociais: “É com muita tristeza que soube da notícia do assassinato de Benedito Cardoso dos Santos, na Zona Rural de Confresa. A intolerância tirou mais uma vida. O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e amigos de Benedito”, postou.