ESTUPRO

Maníaco do parque arrancou os próprios dentes na prisão

Segundo advogada, ele ficou mais de dez anos sem receber visitas, acompanhamento médico, psicológico, odontológico ou jurídico

Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque.Créditos: Reprodução de vídeo
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Francisco de Assis Pereira, conhecido como o Maníaco do Parque, está preso há 27 anos por uma série de assassinatos que chocaram o país no final dos anos 1990. Condenado a mais de 280 anos de prisão por crimes como estupro e homicídio, ele pode deixar a prisão em 2028, quando completará o tempo máximo de cumprimento de pena previsto na legislação da época — 30 anos.

A possível libertação, no entanto, levanta preocupações. De acordo com sua advogada, Caroline Landim, Francisco não passou por nenhuma nova avaliação psicológica desde o diagnóstico feito no período do julgamento, quando foi apontado como portador de transtorno de personalidade antissocial — uma condição crônica, sem cura e de difícil controle.

“É uma doença que não possui cura e o tratamento é uma questão paliativa, que nunca aconteceu. Ele não teve acompanhamento médico, psicológico, odontológico ou jurídico durante esses anos”, afirma Landim.

Isolamento e abandono jurídico

Francisco cumpre pena atualmente na penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo. Segundo a advogada, ele ficou mais de uma década sem receber visitas ou qualquer tipo de assistência jurídica. Os profissionais que o representaram no julgamento não mantiveram vínculo após a condenação, e sua situação só começou a mudar em 2023, quando passou a se corresponder com a fonoaudióloga Simone Lopes Bravo.

Interessada em desenvolver um projeto literário sobre distúrbios mentais entre presos, Simone contratou Landim para atuar juridicamente, a fim de viabilizar os encontros com o detento. A advogada reforça que nunca foi procurada para atuar em uma eventual soltura.

“O principal sempre foi a assistência jurídica. Ele tinha necessidades básicas negligenciadas, como higiene e alimentação. Também ajudei com demandas como o pedido de transferência para uma unidade mais próxima da família”, explica.

Condições precárias e automutilação

O abandono institucional de Francisco não se limitou ao campo psicológico. A advogada relata que ele sofreu com fortes dores odontológicas ao longo dos anos e, sem atendimento adequado, recorreu à automutilação.

“Ele arrancou todos os dentes com linha de costura de bola. Chegou a pedir atendimento, mas provavelmente não houve estrutura para isso. Mais tarde, solicitou implantes, mas exigia dentes de porcelana, o que é um custo elevado”, conta Landim.

Limite de pena e lacunas legais

Apesar da longa condenação, a lei penal brasileira limita o tempo máximo de prisão. Até 2019, esse limite era de 30 anos — o que se aplica ao caso de Francisco. A mudança legislativa que aumentou o período para 40 anos só vale para crimes cometidos a partir de 2020. Assim, mesmo com a ausência de avaliações recentes, Francisco pode deixar a prisão em agosto de 2028, por força da lei.

A situação reabre o debate sobre como o sistema penitenciário lida com criminosos diagnosticados com transtornos mentais graves. Para especialistas, a ausência de acompanhamento psicológico contínuo em casos como o de Francisco representa uma falha do Estado com possíveis riscos à sociedade.

“Ele entende que deveria ter recebido esse acompanhamento. Era um dever do Estado, mas nunca aconteceu”, conclui a advogada.

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