DITADURA MILITAR

Militares envolvidos na morte de Rubens Paiva foram promovidos e elogiados após crime

Fichas funcionais de cinco militares ligados à morte do ex-deputado mostram evolução na carreira durante ditadura

Rubens Paiva, ex-deputado morto pela ditadura militar em 1971.Créditos: Secretaria de Estado da Cultura de SP
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O assassinato do ex-deputado federal Rubens Paiva pela ditadura militar, que mesmo após 50 anos segue sem Justiça, começou a ganhar novas repercussões após o sucesso do filme "Ainda Estou Aqui", que relata o sofrimento de sua esposa, Eunice Paiva, e seus cinco filhos, após o engenheiro ser sequestrado, torturado e morto por militares. 

De acordo com documentos inéditos obtidos pela agência de dados Fiquem Sabendo, através da Lei de Acesso à Informação (LAI), foi possível destrinchar ainda mais o perfil dos cinco militares acusados pela morte de Paiva. Segundo as fichas funcionais dos oficiais, todos eles foram promovidos após o crime, e três também receberam referências elogiosas formais

Os militares foram apontados como envolvidos no assassinato de Rubens Paiva após investigação da Comissão da Verdade. São eles: 

  • Freddie Perdigão Pereira e Rubem Paim Sampaio: participaram da recepção e do interrogatório de Rubens Paiva no DOI-CODI, mas não foram apontados diretamente como responsáveis por sua morte;
  • José Antonio Nogueira Belham: à época, comandante do DOI, é considerado responsável pela morte e desaparecimento de Rubens Paiva, em razão de seu conhecimento e consentimento das práticas de tortura;
  • Jurandyr Ochsendorf e Souza, Jacy Ochsendorf e Souza, Raymundo Ronaldo Campos: atuaram na tentativa de encobrir o desaparecimento por meio da farsa do resgate;
  • Antônio Fernando Hughes de Carvalho: agente responsável por torturas.

A Fiquem Sabendo conseguiu obter as fichas de Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf. A organização não conseguiu acesso às informações sobre Hughes e Belham.

Os registros obtidos mostram que:

  • Jurandyr Ochsendorf foi promovido a subtenente em 1976, depois a 2° e 1° tenente em 1982 e 1984, respectivamente, e encerrou a carreira militar como capitão, antes de ir para a reserva em 1994. Ele também recebeu uma série de elogios após a morte de Rubens Paiva em 1971;
  • Jacy Ochsendorf seguiu o mesmo caminho de Jurandyr, tendo sido promovido a subtenente em 1984, 1° tenente em  1987, 2° tenente em 1990 e encerrou a carreira como capitão em 1993;
  • Raymundo Ronaldo Campos foi promovido a major em 1973, a tenente-coronel em 1979 e a coronel em 1984, quando foi transferido para a Reserva Remunerada. Ele recebeu mais de dez referências elogiosas após 1971;
  • Rubem Paim Sampaio ascendeu a tenente-coronel em 1975 e chegou a trabalhar como oficial de gabinete do então ministro do Exército antes de ser transferido para a reserva em 1976;
  • Freddie Perdigão Pereira foi promovido a major em 1974 e a tenente-coronel em 1980. Recebeu um elogio formal após 1971. 

Apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam referências elogiosas formais em suas fichas funcionais durante a carreira, após a morte de Rubens Paiva.

Os únicos militares envolvidos na morte do deputado que ainda estão vivos são Freddie e Jacy. O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado. 

*Com informações de Fiquem Sabendo, organização sem fins lucrativos especializada em transparência publica

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