Nos últimos anos, as Forças Armadas brasileiras têm enfrentado uma crise de imagem significativa, exacerbada por acusações de envolvimento de altos oficiais em manobras políticas durante o período eleitoral de 2022.
Durante o governo de Jair Bolsonaro, surgiram evidências e acusações de que membros das cúpulas militares estariam envolvidos em conspirações para influenciar a política nacional em favor do então presidente. Documentos e investigações revelaram a existência de reuniões e planos estratégicos que visavam minar instituições democráticas, gerando questionamentos sobre a imparcialidade das Forças Armadas. Essa situação levou as instituições militares a adotar uma postura mais proativa em relação à comunicação pública.
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O Manual de Campanha sobre Operações de Informação (2019) define as operações de informação (Op Info) como o "emprego integrado de Capacidades Relacionadas à Informação (CRI) e outros recursos relacionados à informação" para influenciar decisões adversárias e proteger os processos decisórios internos. Este documento sublinha a importância da dimensão informacional, destacando que a capacidade de moldar a percepção pública tornou-se tão crucial quanto a condução de operações físicas.
Regulamentação do uso de redes sociais pela Marinha
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Em meio à necessidade de proteger a imagem institucional, a Marinha do Brasil implementou diretrizes rigorosas para o uso de redes sociais entre seus membros. Conforme descrito na "Diretriz sobre o uso institucional e não institucional de mídias e redes sociais", é proibido aos militares postar qualquer conteúdo que possa "macular a instituição", incluindo comentários políticos e informações sensíveis. Essa medida visa assegurar que a comunicação dos militares esteja alinhada com os valores e a missão da Marinha, prevenindo que ações individuais comprometam a reputação da força.
Esse controle da narrativa pública é coerente com as orientações do Manual de Campanha sobre Operações de Informação do exército, que destaca a importância de "proteger o processo decisório amigo" enquanto se busca influenciar o processo decisório do adversário. A regulamentação das redes sociais é, portanto, uma estratégia para manter a narrativa pública sob controle, evitando que atitudes individuais prejudiquem a imagem da Marinha e, por extensão, das Forças Armadas.
Gastos com marketing e comunicação
Os esforços das Forças Armadas para melhorar sua imagem também são refletidos nos investimentos em marketing e comunicação. Em pedidos de acesso à informação, o Exército Brasileiro divulgou os gastos realizados com ações de marketing voltadas à imagem da força. Em 2021, os gastos foram de R$ 273.132,54, enquanto em 2022, ano marcado pelo período eleitoral e pelas tentativas de reeleição de Jair Bolsonaro, os valores aumentaram significativamente para R$ 532.215,65?.
Esse aumento nos gastos de comunicação durante 2022 coincide com o período em que, segundo investigações da Polícia Federal, Bolsonaro tentou aparelhar as Forças Armadas para permanecer no poder. O incremento nos recursos destinados ao marketing e à imagem da força durante um ano eleitoral sugere uma possível correlação entre as tentativas de consolidar o apoio militar e as ações de comunicação direcionadas a melhorar a percepção pública das Forças Armadas.
Além disso, para os anos de 2023 e 2024, até o momento, os gastos somam R$ 407.469,74, sendo que o valor de 2023 foi de R$ 235.752,14 e, até agosto de 2024, o valor liquidado foi de R$ 171.717,60?.
Capacitação em comunicação e gestão de crises
A fim de lidar com os desafios de comunicação em um ambiente cada vez mais complexo, as Forças Armadas também têm investido em capacitação e treinamento de seus oficiais. Em 2024, militares brasileiros participaram de treinamentos nos Estados Unidos, focados em "técnicas avançadas de gerenciamento de crises, construção de narrativas positivas e engajamento com a mídia e o público". O objetivo principal deste treinamento é preparar os militares para gerenciar eficazmente a imagem pública das Forças Armadas, especialmente em situações de crise.
O Manual de Campanha sobre Operações de Informação destaca que a integração e sincronização das CRI são cruciais para maximizar o impacto das operações informacionais. O manual afirma que "as CRI permitem maximizar o potencial do comandante de informar e influenciar o Público-Alvo (Pub A) de interesse para as operações, bem como afetar ou obstar o processo de tomada de decisão de potenciais oponentes", indicando que a comunicação eficaz é parte integrante da estratégia operacional e não apenas uma resposta reativa a crises.
Desafios internos e necessidade de reformas
Apesar das iniciativas voltadas para a melhoria da imagem pública, as Forças Armadas continuam a enfrentar desafios internos significativos. Escândalos envolvendo oficiais de alta patente, gestão inadequada de crises e alegações de corrupção têm gerado críticas e questionado a credibilidade das instituições militares. A Diretriz de Comunicação Social do Exército e o Manual de Campanha sobre Operações de Informação indicam que a eficácia das Op Info depende não apenas de uma comunicação bem orquestrada, mas também de ações que sejam percebidas como legítimas e éticas.
O Manual de Campanha sobre Operações de Informação ressalta que "a informação tornou-se o componente primordial da Era do Conhecimento e uma poderosa ferramenta para influenciar, interromper ou afetar a capacidade do adversário de tomar e compartilhar suas decisões." Esse princípio é aplicado tanto ao gerenciamento de crises externas quanto à manutenção da integridade interna das Forças Armadas. A pressão por maior transparência e responsabilidade é um desafio contínuo, e a capacidade das Forças Armadas de lidar eficazmente com essas questões será crucial para seu futuro.
A Diretriz de Comunicação Social do Exército também sugere que "a imagem institucional é um ativo importante, e sua preservação é uma prioridade". Contudo, a preservação dessa imagem exige que as Forças Armadas implementem reformas internas que possam restaurar a confiança do público, garantindo que suas ações sejam compatíveis com os princípios democráticos que defendem.