O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o evento no Palácio do Planalto, realizado nesta quarta-feira (8) em memória dos dois anos do 8 de janeiro, para fazer uma crítica pública à Força Aérea Brasileira (FAB). Lula mencionou a demora no envio do avião presidencial durante um episódio crítico no final de 2024, quando precisou ser operado às pressas devido a um acúmulo de líquidos no crânio.
A declaração, inédita em sua franqueza, revelou um incômodo que, segundo fontes do Planalto, nunca foi superado e gerou repercussões entre os militares. No discurso, Lula relatou que esperou cerca de quatro horas para que o avião presidencial chegasse ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em um momento de emergência médica. O caso ganhou contornos delicados devido à ausência de justificativas oficiais sobre os motivos que levaram o avião presidencial a estar no Rio de Janeiro.
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“Eu cheguei em São Paulo e os médicos estavam horrorizados porque eles achavam que eu poderia morrer na viagem ou que eu poderia ter entrado em coma. E o meu avião, democraticamente, brigadeiro, demorou 4 horas para chegar”, afirmou o presidente enquanto olhava para o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno.
Fontes próximas ao presidente apontam que, à época, algumas pessoas de seu círculo mais próximo interpretaram a demora como um ato de má vontade por parte da Força Aérea. Embora militares, em caráter reservado, tenham alegado que a aeronave estava em treinamento no Rio de Janeiro, a explicação nunca foi detalhada. Para agravar o quadro, uma segunda aeronave presidencial estava em manutenção, deixando o presidente sem suporte aéreo em um momento crítico.
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A crítica pública feita por Lula, no entanto, repercutiu negativamente entre oficiais das três Forças Armadas. Segundo fontes militares, o tom adotado pelo presidente gerou mal-estar nos bastidores, sendo visto como um desrespeito à hierarquia e às instituições. Apesar de Lula ser o comandante supremo das Forças Armadas, oficiais de diferentes patentes consideraram a atitude inadequada e repudiaram a forma como o episódio foi exposto publicamente.
Nos bastidores, o episódio também alimentou a desconfiança do presidente em relação à conduta da Força Aérea e reforçou críticas internas ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Apesar de adotar uma postura conciliadora com os militares, Lula já havia demonstrado irritação com o caso em conversas privadas com seus ministros e assessores mais próximos. Entretanto, foi apenas no evento desta quarta-feira que o presidente abordou o tema publicamente, evidenciando a profundidade de seu descontentamento.
O incômodo gerado pelo caso também é visto como um dos motivos pelos quais Lula insiste na permanência de Múcio no governo, mesmo diante das especulações recorrentes sobre sua aposentadoria. O ministro, que desde o ano passado manifesta desejo de deixar o cargo, tem sido convencido a permanecer por pedido direto de Lula, conforme publicado anteriormente por esta coluna. Nos bastidores, interlocutores do governo acreditam que a continuidade de Múcio é essencial para evitar atritos maiores com as Forças Armadas, especialmente em um momento em que o clima de desconfiança permanece latente.
Até o momento, a Aeronáutica não apresentou uma explicação oficial satisfatória sobre o ocorrido. As informações disponíveis permanecem extraoficiais, o que alimenta ainda mais as suspeitas dentro do governo. Para Lula, o episódio é um lembrete das tensões persistentes em sua relação com os militares, mesmo diante de sua postura conciliadora. Contudo, a repercussão da crítica entre os oficiais ressalta o delicado equilíbrio que o presidente busca manter na condução de sua gestão em meio a desafios e tensões internas.
Veja o vídeo com a bronca: