Uma pequena ilha desabitada da Amazônia brasileira, a 12 km da costa da cidade de Belém, capital do estado do Pará, tem uma característica inusitada: é uma localização privilegiada para a captação de dados magnéticos da Terra.
A ilha, cercada pelas águas do oceano Atlântico, está a uma viagem de 30 minutos de barco de Belém, mas é acessada principalmente por cientistas. Por sua proximidade do equador magnético da Terra, uma linha imaginária que divide o campo magnético da Terra em duas regiões (assim como a linha do Equador a divide entre os hemisférios norte e sul), isto é, entre os dois polos magnéticos da Terra, ela é o lugar perfeito para se estudar os movimentos capazes de definir a trajetória magnética do planeta.
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É ali que se localiza uma instalação importante: o Observatório Magnético de Tatuoca (TTB), fundado em 1957 pelo Observatório Nacional (ON), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Esse Observatório faz parte de uma rede internacional, a INTERMAGNET, conforme nota a Agência Gov, onde acontecem as captações de dados para medir a atividade no núcleo da Terra.
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O que é o campo magnético da Terra
O campo magnético da Terra é gerado pelos movimentos do núcleo líquido do planeta, formato por concentrações de ferro e níquel que estão localizadas a quase 3 mil quilômetros de profundidade, no núcleo externo da Terra.
O ferro e o níquel estão em constante movimento (sob o chamado efeito dinamo), devido ao calor gerado pelo núcleo interno e pelo movimento de rotação da Terra, que criam, então, correntes elétricas.
Mas qual é a importância do campo magnético terrestre?
Ele age como uma espécie de escudo para aquelas partículas de luz solar carregadas de energia, o "vento solar", e contra fontes cósmicas potencialmente prejudiciais à superfície. A interação entre o campo magnético e o vento solar, aliás, é a responsável pelos fenômenos da aurora boreal e austral.
Além disso, é o campo magnético da Terra que define as direções cardeais, que então guiam as bússolas e outros sistemas mais modernos de navegação — isto é, o fluxo magnético é usado como referência de direcionamento.
O Observatório da ilha de Tatuoca realiza medições de alta precisão do campo magnético da Terra a fim de ajudar na compreensão de fenômenos geofísicos, além de auxiliar na exploração de recursos minerais e fósseis na Amazônia brasileira.
Dados oceanográficos e meteorológicos também são calculados ali, que influenciam na conservação local, complementam observações de satélites (protegendo-os de eventos magnéticos prejudiciais) e contribuem com o acervo, de mais de 50 anos, de dados magnéticos registrados da Terra a partir de Tatuoca.
Esses dados constituem o registro histórico das variações do campo magnético terrestre ao longo do tempo, já que ele não é regular. De acordo com especialistas ouvidos pela DW, em 1957, o equador magnético passava ao sul, próximo à cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte; em 2012, "cruzou Tatuoca"; e, em abril de 2024, já atravessava Macapá, no Amapá.
A parceria do Observatório com instituições de ensino, como a Universidade Federal do Pará (UFPA), e com outros institutos internacionais de observação tem garantido sua constante modernização e a atualização de seus sistemas de dados.
Fenômenos geológicos e geomagnéticos também podem ser elucidados com os dados colhidos em Tatuoca, a exemplo da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS), região na qual o campo magnético da Terra é mais fraco do que o esperado, que ocorre sobre o Atlântico Sul e envolve áreas do Brasil, da Argentina e do Uruguai e parte em direção à África.