ELEIÇÕES 2024

Marçal e sócio Medina mentem sobre "reação instintiva" de soco em marqueteiro de Nunes

Depoimentos de pessoas que estavam no estúdio comprovam o que a Fórum antecipou: agressão foi premeditada e Pablo Marçal deu aval a Medina para desferir o soco após expulsão de debate no Flow

Pablo Marçal, Nahuel Medina e Duda Lima.Créditos: Reprodução de vídeo / Instagram
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Pablo Marçal (PRTB) e seu sócio, o assessor e videomaker Nahuel Medina, mentiram ao criarem a narrativa de que o soco desferido em Duda Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB), no debate do Flow, na terça-feira (23), teria sido uma reação "instintiva".

VÍDEO: Veja o soco do sócio de Marçal em Duda Lima, marqueteiro de Nunes, no debate no Flow

Na versão contada em depoimento à polícia e ecoada por Marçal, Medina afirmou que o soco foi uma reação "instintiva" por Duda Lima ter tentado tirar o celular de suas mãos. Ele chegou a divulgar a imagem do momento em que ele filma o marqueteiro dando risada durante o debate e tentando tirar o aparelho de suas mãos.

"Eu só me defendi instintivamente", escreveu o sócio de Marçal em storie em que mostra a mão machucada pelo soco enquanto estava na delegacia. Ao sair do Distrito Policial, Medina repetiu a mentira aos jornalistas.

"Ele [Duda] começou a xingar o Pablo para tentar passar corte para o Ricardo Nunes. Eu fui começar a filmar para mostrar isso, como agem pelas costas esses marqueteiros, criam essa narrativa e manipulam tudo. Ai, eu filmei e falei: 'olha só como agem os marqueteiros'. Na hora ele olhou - tem o vídeo - e foi com toda a força em mim, enfiou a mão dentro da minha camisa, me jogou pra baixo, jogou para baixo o celular. Naquele momento, eu só me defendi instintivamente", repetiu Medina.

Na sequência, Medina publicou o vídeo em que Duda Lima tenta tirar o celular das mãos dele e que, segundo a versão narrada à polícia, motivou a reação "instintiva". "Legítima defesa", escreveu o videomaker.

"Foi nessa hora aí que vc revidou? Porque pareceu que vc deu um soco em um cara que estava desatento e depois correu...", indagou um seguidor, sem obter resposta do assessor do candidato do PRTB.

Em suas redes, Marçal ecoou a versão do sócio. "Duda Lima, que é marqueteiro do Nunes, inclusive foi marqueteiro do Bolsonaro e perdeu a eleição com o Bolsonaro e vai perder com o Nunes, agride primeiro, membro da minha equipe e recebe soco logo após o primeiro ato de agressão", escreveu o ex-coach.

Mentira

A narrativa de Marçal e Medina, de que o soco teria ocorrido imediatamente após o marqueteiro ter tentado tirar o celular das mãos do assessor, no entanto, não é corroborada pelas imagens da agressão e nem pelos depoimentos de pessoas que estavam no local.

"Tem um hiato de tempo claro. O soco dele não é uma reação àquele momento em que o Duda coloca a mão no celular do rapaz", disse ao jornal O Globo Fernando Ivo Antunes, assessor da campanha de Marina Helena (Novo).

Antunes ainda denuncia outra mentira de Medina, de que a "agressão" de Duda teria até aberto a camisa dele. "Na hora do soco, o rapaz está com a roupa toda engomadinha, e não com a camisa aberta como estava na delegacia".

Outro assessor ouvido pelo O Globo confirma que não houve "reação instintiva". “Não foi uma escalada de agressividade, nem um soco por reação. O Duda afastou o celular, a coisa passou, ele virou para o lado e o sujeito parou, pensou, mediu e deu o soco”, contou pedindo anonimato.

Como a Fórum antecipou nesta terça-feira (24), os depoimentos mostram que a ação foi premeditada entre Medina e Marçal, que faz um gesto com a cabeça ao ser expulso pelo mediador Carlos Tramontina, como se estivesse dando consentimento. Segundos depois, Medina desfere o soco de forma traiçoeira e covarde, pegando Duda Lima de surpresa.

Premeditado

Com as regras engessadas, assinadas por ele, e sem embates diretos com os adversários, o debate no Flow anulou a estratégia de lacração. Tanto que foi, até agora, o debate que mais teve exposição de propostas.

No entanto, Marçal deixou escapar um detalhe que mostra que toda a ação, da expulsão e do soco, foi premeditada.

Ao chegar à sede do Esporte Clube Sírio, onde ocorreu o debate, Marçal avistou Nunes e iniciou as provocações.

“Vou por você na cadeia em 2025. Tchutchuca do PCC. Vou te investigar, o que você recebeu na conta da sua esposa, a sua filha. Ladrão de merenda. Você vai pra cadeia", atacou o ex-coach - veja o vídeo.

Nunes mordeu a isca, se desestabilizou mais uma vez e retrucou. “Quer roubar até o apelido, tchutchuquinha?”, devolveu. “Seu bandidinho! Seu condenadinho! Mentiroso!”, gritou o candidato "oficial" de Jair Bolsonaro (PL).

O detalhe: Marçal usou a mesma provocação ao final do debate, que motivou a expulsão. Sorteado para ser último a dar as declarações finais, o ex-coach começou chamando Nunes de "Bananinha", mesmo tendo assinado o termo que proibia uso de apelidos pejorativos, e disse que iria mandar a Polícia Federal "prender o prefeito em 2025", caso seja eleito.

Punido duas vezes pelo mediador Carlos Tramontina, Marçal esperou chegar aos 10 segundos finais para repetir o ataque e tomar a terceira advertência, que gerou sua expulsão.

Após segundos de silêncio, o ex-coach voltou a dizer que "a Polícia Federal vai prender o Ricardo Nunes, essa é uma promessa de campanha".

Ao ser expulso por Tramontina, Marçal olhou para os assessores e abaixou a cabeça, em um gesto de consentimento. Imediatamente, o videomaker Nahuel Medina, assessor e sócio do candidato, desfere um soco no rosto de Duda Lima, marqueteiro de Nunes, e sai do local - assista ao vídeo.

Com a expulsão e o soco do assessor, Marçal conquistou as manchetes e ofuscou a participação dos adversários no debate.

Nas redes, o ex-coach fez overposting - uma grande quantidade de publicações em sequência nas redes - para aproveitar o engajamento e tentar impor a narrativa de que Medina teria "reagido" ao marqueteiro de Nunes.

Incitando a violência e, em seguida, buscando se fazer de vítima, Marçal atraiu novamente os holofotes para sua candidatura, que estava em franca decadência.

Com o caso, o ex-coach soou o "apito de cachorro" - expressão popularizada no neofascismo para chamar a horda à batalha - há 13 dias do final da campanha e levou a violência para o centro da disputa política na maior cidade da América Latina.