Desde o primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado em 8 de agosto pela Band, Pablo Marçal (PRTB) deu sinais que, distante de apresentar propostas, seu principal objetivo era levar o caos na campanha, com acusações falsas e provocações baratas - vide os apelidos - aos adversários.
Como a Fórum antecipou, Marçal utiliza técnicas de "coach" para desestabilizar emocionalmente adversários e até jornalistas - leia o artigo Desvendando Pablo Marçal: as técnicas de coach e a mentira sobre uso de cocaína.
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O objetivo das provocações, de fazer com que os adversários chegassem às vias de fato, foi obtido uma semana depois, no dia 15 de setembro. Após ser chamado de estuprador - com a gíria de cadeia "Jack" - José Luiz Datena (PSDB) desferiu uma cadeirada no ex-coach.
Mas, Marçal exagerou no personagem. As cenas na ambulância e a pulseira verde - para casos sem gravidade - no atendimento no Hospital Sírio Libanês desmascararam a estratégia de vitimização à la Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL) do ex-coach, que foi refletida nas pesquisas de intenção de votos.
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À medida que o tempo foi avançando, Marçal perdeu o fator "novidade" e seus adversários, por sua vez, aprenderam a lidar com as provocações imaturas - exceto Ricardo Nunes (MDB), como se pode ver na entrada do debate no Flow nesta segunda-feira (23).
No debate do SBT, na sexta-feira (20), Marçal foi totalmente ignorado pelos adversários. A estratégia colocou em xeque a tática dos "cortes" e da "lacração" nas redes do candidato do PRTB, que não escondeu o incômodo.
Premeditado
Com as regras engessadas, assinadas por ele, e sem embates diretos com os adversários, o debate no Flow anulou a estratégia de lacração. Tanto que foi, até agora, o debate que mais teve exposição de propostas.
No entanto, Marçal deixou escapar um detalhe que mostra que toda a ação, da expulsão e do soco, foi premeditada.
Ao chegar à sede do Esporte Clube Sírio, onde ocorreu o debate, Marçal avistou Nunes e iniciou as provocações.
“Vou por você na cadeia em 2025. Tchutchuca do PCC. Vou te investigar, o que você recebeu na conta da sua esposa, a sua filha. Ladrão de merenda. Você vai pra cadeia", atacou o ex-coach - veja o vídeo.
Nunes mordeu a isca, se desestabilizou mais uma vez e retrucou. “Quer roubar até o apelido, tchutchuquinha?”, devolveu. “Seu bandidinho! Seu condenadinho! Mentiroso!”, gritou o candidato "oficial" de Jair Bolsonaro (PL).
O detalhe: Marçal usou a mesma provocação ao final do debate, que motivou a expulsão. Sorteado para ser último a dar as declarações finais, o ex-coach começou chamando Nunes de "Bananinha", mesmo tendo assinado o termo que proibia uso de apelidos pejorativos, e disse que iria mandar a Polícia Federal "prender o prefeito em 2025", caso seja eleito.
Punido duas vezes pelo mediador Carlos Tramontina, Marçal esperou chegar aos 10 segundos finais para repetir o ataque e tomar a terceira advertência, que gerou sua expulsão.
Após segundos de silêncio, o ex-coach voltou a dizer que "a Polícia Federal vai prender o Ricardo Nunes, essa é uma promessa de campanha".
Ao ser expulso por Tramontina, Marçal olhou para os assessores e abaixou a cabeça, em um gesto de consentimento. Imediatamente, o videomaker Nahuel Medina, assessor e sócio do candidato, desfere um soco no rosto de Duda Lima, marqueteiro de Nunes, e sai do local.
Com a expulsão e o soco do assessor, Marçal conquistou as manchetes e ofuscou a participação dos adversários no debate.
Nas redes, o ex-coach fez overposting - uma grande quantidade de publicações em sequência nas redes - para aproveitar o engajamento e tentar impor a narrativa de que Medina teria "reagido" ao marqueteiro de Nunes.
Incitando a violência e, em seguida, buscando se fazer de vítima, Marçal atraiu novamente os holofotes para sua candidatura, que estava em franca decadência.
Após a cadeirada, o ex-coach perdeu bolsonaristas moderados, mas fidelizou extremistas do neofascismo cultivados pelo ex-presidente. Nas redes, Marçal incitou essa horda de seguidores a entrar em uma "guerra" afirmando que "não dá para lidar de outro jeito" com os adversários.
Marçal soou o "apito de cachorro" - expressão popularizada no neofascismo para chamar a horda à batalha - há 13 dias do final da campanha e levou a violência para o centro da disputa política na maior cidade da América Latina.
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Em tempo: Minutos após publicar esse artigo, o jornalista Cristiano Silva, editor do site Goiás 24 horas e autor de Pablo Marçal: A Trajetória de um Criminoso, me enviou um novo vídeo que confirma as suspeitas de um ato premeditado.
As imagens mostram o bate-boca entre Nunes e Marçal antes do debate e uma ameaça explícita feita por Nahuel Medina a Duda Lima.
Após a troca de farpas, o marqueteiro de Nunes encosta em Marçal e pede: "menos, menos".
O ato despertou a ira de Marçal, que gritou "tira a mão". Ao lado, Nahuel tem um chilique e começa a fazer ameaças a Duda.
Veja a cena: