POLÊMICAS

Voepass: Empresa acumula reclamações, processos e denúncias trabalhistas

Companhia aérea é uma das mais antigas do país e operava o avião que caiu em Vinhedo (SP), causando a morte de 62 pessoas

Avião da Voepass/Passaredo.Créditos: Diego Baravelli/Wikimedia Commons
Escrito en BRASIL el

A Voepass, companhia aérea responsável pelo avião que caiu em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9) e causou a morte de 62 pessoas que estavam na aeronave, acumula centenas de reclamações, processos e denúncias trabalhistas

De acordo com o portal da dívida ativa da União, a Voepass possui um débito de mais de R$ 26,1 milhões, sendo R$ 24,8 milhões com o estado de São Paulo R$ 1,2 milhão relativos a dívidas trabalhistas

Sediado em Ribeirão Preto, o Ministério Público do Trabalho (MPT) da cidade recebeu 160 denúncias trabalhistas contra a companhia aérea entre 1999 a 2024. Já segundo o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), 150 processos tramitam contra a empresa desde 2021, sendo a maioria referente a pedidos de indenização por danos morais. 

Após o acidente, o MPT recebeu mais duas denúncias contra a Voepass, em relação a irregularidades nas condições e na jornada de trabalho. Em 2018, a companhia já havia feito um acordo judicial para evitar descumprimento de jornadas de trabalho para aeroviários. 

Reclamações

No site Reclame Aqui, plataforma de mediação de conflitos entre clientes e empresas, a Voepass possui 4.192 reclamações até 19h04 desta segunda-feira (12). Nos últimos seis meses, foram quase 500 queixas, das quais a empresa respondeu apenas 9,2%. Já nos últimos 12 meses, foram quase 900. A empresa também é classificada como "Não Recomendada".

Recuperação judicial

Criada em 1995 pelo empresário José Luiz Felício, a Voepass, que se chamava Passaredo Transportes Aéreos, é uma das companhias aéreas mais antigas do país. Seu dono já tinha uma empresa de transporte rodoviário, chamada Viação Passaredo, criada em 1978. 

Em 2022, a companhia suspendeu suas atividades por dois anos por dificuldades financeiras. Retornando em 2004, a Passaredo registrou crescimento e passou a operar com 17 jatos da Embraer.

No entanto, em 2012, a Passaredo entrou com processo de recuperação judicial, com uma dívida de R$ 150 milhões. Mais de 200 funcionários foram demitidos. Em 2017, a Justiça de SP afirmou que a companhia havia cumprido as determinações do seu plano com credores. 

Para se reestruturar, houve trocas dos modelos das aeronaves pelos turboélices ATR 72, além da troca da malha aérea, que passou a ser regional. 

Em 2019, a Passaredo comprou a MAP Linhas Aéreas e passou a se chamar Voepass Linhas Aéreas. Em julho do ano passado, a companhia anunciou que voltaria a ampliar sua atuação, fazendo os seguintes destinos: Barreiras (BA), Brasília (DF), Uberlândia (MG) e Vitória da Conquista (BA).

Acidente em Vinhedo

Na última sexta-feira (9), o avião ATR 72 da Voepass, com 62 pessoas, sendo 58 passageiros e 4 tripulantes, caiu na região do bairro do Capela, em Vinhedo (SP), cidade próxima à capital paulista.

A aeronave despencou e girou no ar antes de cair nas proximidades da rodovia Miguel Melhado de Campos. Bombeiros e autoridades de saúde foram mobilizados para atendimento do local, mas não houve sobreviventes. 

Após o acidente, uma investigação foi aberta pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e pela Polícia Civil. A causa da queda ainda não foi divulgada.

LEIA TAMBÉM: Passageiros fazem relato emocionante após perderem voo que caiu em Vinhedo

Conheça o modelo de avião ATR 72

O ATR 72, um avião turboélice de médio porte, foi lançado em 1988 e desenvolvido pela Avions de Transport Régional (ATR), uma joint venture entre a Aérospatiale da França e a Aeritalia da Itália.

O avião pode voar na altitude de 10 mil pés (pouco mais de 3 mil metros) e tem velocidade máxima de 510 km/h. É amplamente utilizado por companhias aéreas em rotas curtas e médias, especialmente em aeroportos com infraestrutura limitada.

No Brasil, o ATR 72 é operado por várias companhias aéreas. As empresas utilizam esses aviões para conectar cidades menores a grandes centros urbanos, facilitando o transporte de passageiros e cargas.

O modelo é conhecido por sua confiabilidade e eficiência, o que o dcredencia a ser uma escolha popular entre as companhias aéreas regionais, sendo raros acidentes. Até hoje, seis ocorrências do tipo foram registrados com a aeronave.

Em 23 de julho de 2014, o voo TransAsia Airways 222, um ATR 72-500, caiu ao pousar no Aeroporto de Magong, Taiwan, matando 48 pessoas e deixando 10 sobreviventes. Um ano depois, o voo TransAsia Airways 235 caiu no Rio Keelung logo após decolar do Aeroporto de Taipei Songshan, resultando na morte de 43 das 58 pessoas a bordo.

Em 18 de fevereiro de 2018, o voo 3704 da Iran Aseman Airlines caiu no Monte Dena, matando todos os 66 passageiros e tripulantes a bordo de um ATR 72-212.

Em 15 de janeiro de 2023, um ATR 72-500 da Yeti Airlines caiu na região oeste de Pokhara, Nepal, deixando pelo menos 68 mortos entre os 72 passageiros.

LEIA TAMBÉM: Voepass: funcionário alertou autoridades para risco de "desastre aéreo por fadiga”