Alunos bolsistas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) denunciaram uma série de comentários discriminatórios de outros estudantes durante uma discussão para implementar catracas na faculdade.
Em um post no Instagram @spottedpucsp, dedicado a divulgar mensagens anônimas de flertes, um dos estudantes respondeu ao comentário de um aluno bolsista que se posiciona contra a instalação das catracas afirmando que "quem manda é quem paga, agradece a oportunidade aí e fica suave".
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O post fazia um agradecimento à Fundação São Paulo, entidade mantenedora da PUC-SP. Os comentários ofensivos continuaram, com frases como: "Amém! Catraca terror dos garotos da caixa baixa" e "Você tem raiva porque você é dura, eu não tenho culpa nenhuma". Uma aluna também debochou com o comentário "Desculpa aí menina guerreira do gueto. Você escreveu qual parte da letra nas músicas do Racionais?".
Além de comentários no post, os ataques também foram feitos em grupos no WhatsApp. Alguns alunos riram de uma pergunta feita sobre quem se sente reprimido ao passar por uma catraca, e um deles afirmou que "tem que barrar quem não tem cartão black".
A denúncia foi feita pelo Coletivo da Ponte pra Cá, uma frente organizada de bolsista na faculdade, e o documento foi assinado por 24 Centros Acadêmicos. O coletivo afirma que "não demorou muito para que a página [@spottedpucsp) se tornasse um lugar para manifestar livremente atos criminosos de racismo, bem como elitistas e aporofóbicos, favorecidos pelo anonimato.
Como exemplo, eles afirmam que a conta passou a divulgar fotos de crianças e adolescentes negros que vendem balas no bairro de Perdizes, "ferindo o Estatuto da Criança e do Adolescente, alegando que estes eram os responsáveis por cometer crimes de furto e assalto, ainda que, no concreto, as alegações nunca foram confirmadas".
Além disso, o coletivo também alega que a página divulgou fotos de outras pessoas negras que circulavam na região próxima a universidade, "com o estigma de ser uma pessoa suspeita, apenas pelo fato de ser uma pessoa negra transitando numa região nobre de São Paulo. Ideia essa forjada sob o racismo estrutural, perpetua a ideia de que uma pessoa negra deve estar presente somente na periferia, e que, ao ocupar outras regiões, será através de posições subalternas aos brancos", afirmam.
Por fim, o coletivo exigia que a PUC-SP e a FUNDASP venham a público "se posicionar diante de tais atos discriminatórios e criminosos contra os bolsistas e contra a comunidade que faz uso da filantropia da instituição".
Os comentários foram apagados da publicação, mas podem ser conferidos no documento de denúncia do coletivo.
Posicionamentos
Em nota enviada à CNN, a página “Spotted PUC SP” afirmou que não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Veja o posicionamento na íntegra:
“O Spotted PUC-SP não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Todos os comentários com esse teor são devidamente moderados. O Spotted sempre estimulou o diálogo e discussão dentro do campo democrático, onde todos têm voz com todos os temas que compõem o dia a dia do estudante, inclusive com o tema de catracas.
A proposta da catraca foi pautada na página por meio de enquete e a maioria se posicionou a favor com o objetivo de ser catraca inclusiva, que não barrasse pessoas e somente exigisse algum documento para entrada, dado os relatos que recebemos em relação à segurança nos arredores e dentro do campus, que vêm preocupando alunos e professores”.
A PUC também se posicionou por meio de nota e afirmou que "não compactua com discriminação de qualquer tipo.
"Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.
A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.
Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp”.