ESCÂNDALO DAMARES-MARAJÓ

Mamãe Falei vai ao Marajó, convida menores para irem ao seu hotel e arma flagrante

Ativista questiona: “A polícia não pode planejar uma operação forjada correndo risco de invalidar todas as provas e os culpados saírem ilesos"

Arthur do Val, o Mamãe Falei, ao das imagens que produziu do momento que as meninas são conduzidas a uma delegacia.Créditos: Reprodução/Youtube
Escrito en BRASIL el

O ex-deputado estadual de São Paulo Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei”, publicou um vídeo nesta sexta-feira (8) em que mostra sua viagem ao arquipélago do Marajó, no Pará, onde tentou verificar as supostas denúncias de crimes sexuais sistemáticos divulgadas pela senadora Damares Alves e seus endinheirados aliados evangélicos. O militante do MBL convidou duas meninas menores de 18 anos para irem ao seu hotel e, paralelamente, combinou um flagrante das mesmas com a polícia local.

O vídeo é facilmente encontrado nas redes do autointitulado “Mamãe Falei” e intercala cenas da viagem com a narração do youtuber. Logo no começo, Do Val mostra conversas com pessoas que vivem na região. Elas confirmam o óbvio: que existem crimes contra crianças ocorrendo lá, assim como em qualquer região do Brasil e do mundo. No entanto, o vídeo é editado de forma que as falas pareçam dúbias e gerem dúvidas no internauta.

Depois de muito procurar, Mamãe Falei finalmente conhece um homem que topa lhe dar maiores informações sobre onde conseguir “sexo” com as menores de idade. Pouco antes, ele havia se deslocado a um posto da Polícia Civil rio acima onde teria combinado com os agentes a realização de uma operação de flagrante.

Do Val começa a sua “investigação”. Vai a um desses locais, em que realmente constata a existência de prostituição, mas as trabalhadoras do sexo lhe parecem maiores de 18 anos. Ele então aciona o contato e marca um horário para que ele leve as meninas menores de 18 ao hotel onde estava hospedado.

O contato chega ao local sem as meninas, e Mamãe Falei então telefona para a mãe das mesmas. De início a mulher disse que as meninas não sairiam naquela noite, mas depois ele a convence e manda o seu contato ir até a residência buscar as adolescentes. Paralelamente, aciona os policiais que conheceu na data.

As duas meninas então chegam ao hotel montadas na moto do contato de Do Val. Os três sem capacetes. A seguir, ele aborda as meninas e pergunta a idade delas. Não acredita quando dizem que têm 18 anos e então, como se ele fosse o policial, pede que mostrem o RG. A cena seguinte mostra agentes da Polícia Civil conduzindo as meninas para uma delegacia.

Não há maiores informações acerca da situação das meninas. No entanto, Mamãe Falei arriscou uma conclusão a respeito da sua viagem: "As coisas não são como a Damares falou, mas existe prostituição infantil, é só saber procurar", declarou.

Revoltado com a situação, o escritor e ativista Alê Santos fez um comentário bastante pertinente sobre o vídeo: "Isso aqui está errado em tantos níveis. A polícia não pode planejar uma operação forjada assim, correndo risco de invalidar todas as provas e os culpados saírem ilesos. Ainda mais alguém que não tem cargo de fiscalização, nem nada. O que vai acontecer se todo youtuber começar a forjar flagrante pra fazer vídeo sobre prostituição infantil por ai?", questionou.

Logo que o escândalo voltou a público, o Observatório do Marajó, que monitora violações de direitos humanos no arquipélago, soltou uma nota em que acusava Damares e seus asseclas de recolocarem as denúncias no debate público a fim de facilitar a entrada das chamadas “missões de evangelização” na região.

A entidade começa a nota dizendo o óbvio, que redes criminosas de exploração sexual de crianças e de tráfico internacional de pessoas, órgãos, animais, madeira, biotecnologia/pirataria e substâncias ilícitas operam no Marajó, na Amazônia e em todas as regiões do país. Diz ainda que essas sabem se disfarçar ocupando instituições, cargos públicos, redes sociais, igrejas, veículos de comunicação e outros espaços “onde possam manipular a atenção das pessoas enquanto continuam agindo e operando seus crimes”.

"Redes criminosas de exploração sexual de crianças e adolescentes impulsionam mobilizações que chamam atenção para regiões com precariedades institucionais, como um apito para chamar criminosos para esses espaços”, diz a nota da entidade.