O youtuber Arthur do Val, membro do grupo de extrema direita Movimento Brasil Livre (MBL), voltou a tentar lucrar, política e financeiramente, com o sofrimento humano. Nesta quarta-feira (28), "Mamaefalei", como é conhecido nas redes sociais, anunciou que tem uma nova "missão": vai ao arquipélago do Marajó, no Norte do país, em meio à campanha de fake news sobre exploração sexual infantil na região que vêm sendo capitaneada pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e setores evangélicos.
Através de seu canal do YouTube, ele afirmou que vai ao arquipélago para "mostrar, sem o viés da imprensa, o que realmente está acontecendo".
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"Estamos passando esse perrengue para mostrar para vocês a verdade nua e crua", afirma Arthur do Val, pedindo para que os internautas assinem, "com menos de 1 real por dia", o "Clube MBL", uma plataforma, segundo ele, em que as pessoas receberão uma "curadoria de notícias" e poderão participar de encontros do grupo de extrema direita.
Arthur do Val não deu maiores detalhes sobre o que exatamente vai fazer no Marajó, mas para muitos usuários das redes sociais trata-se de uma espécie de repetição daquilo que fez em março de 2022, quando viajou à Ucrânia para "cobrir" a guerra contra a Rússia e, em um áudio a amigos que foi vazado, afirmou, em tom repugnante, que as ucranianas refugiadas "são fáceis porque são pobres".
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"Elas olham. Vou te dizer, elas são fáceis porque elas são pobres. Aqui, cara, minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Funciona demais. Depois eu conto a história. Nossa velho! Não peguei ninguém, mas colei em duas minas, que a gente não tinha tempo", disse ele à época.
No áudio, Arthur do Val ainda fez comparação entre as filas de refugiadas ucranianas, que só teriam "deusas", e as filas de baladas em São Paulo.
"Você tem que ir para as cidades normais, porque você pega as minas assim, não na balada, na praia. Você pega ela no mercado. Você pega ela na padaria. Que nem a recepcionista do hotel que deu em cima de mim aqui (...) E eu nem peguei ninguém aqui. Só a sensação de que eu poderia fazer, enfim, já sabem. Já estou comprando minha passagem pro Leste Europeu no ano que vem. Assim que eu chegar em São Paulo”, declarou ainda, sugerindo turismo sexual na região, que se chamaria "Tour de Blonde".
Meses depois, Arthur do Val teve seu mandato de deputado estadual cassado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) justamente por conta das falas sexistas sobre mulheres ucranianas.
O caso de Marajó
“Enquanto isso, no Marajó, o João desapareceu esperando os ceifeiros da grande seara”, diz um trecho da música “Evangelho dos Fariseus”, da jovem cantora gospel Aymée Rocha, que a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e outros bolsonaristas tentam emplacar como aquela que irá tocar na final do Dom Reality, um show de talentos da música evangélica organizado em parceria com a plataforma Deezer.
Um vídeo da cantora no programa viralizou nos últimos dias no YouTube e foi compartilhado, além de Damares, por celebridades como Rafa Kalimann, Juliette e Virgínia Fonseca. Como a letra trata da Ilha do Marajó, um enorme arquipélago na foz do Rio Amazonas, e denuncia suposto abuso sexual de crianças, as buscas no Google pelo local dispararam e uma antiga denúncia de Damares voltou à tona.
Ainda como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos de Jair Bolsonaro (PL), Damares Alves disse em 8 de outubro de 2022, durante culto evangélico em Goiânia (GO), que teria tomado conhecimento das práticas de exploração sexual em Marajó. Seu discurso acusa a população local de ser conivente com as organizações criminosas e, entre os detalhes da narrativa de Damares, estaria um “fato” escabroso: o de que muitas dessas crianças abusadas teriam tido os dentes arrancados para facilitar o sexo oral nos criminosos abusadores.
Se trata de uma fake news do tamanho da Floresta Amazônia. E em setembro do ano passado o Ministério Público Federal pediu, mediante ação civil pública, que a bolsonarista indenize a população de Marajó pelas mentiras propagadas. O caso ainda tramita, mas a campanha para alavancar a música de Aymeé Rocha reacendeu as discussões em torno da suposta denúncia.
Com o debate em pé novamente, Damares publicou um vídeo nas redes sociais em que crianças aparecem dentro de um caminhão. Ela insinuou que as imagens foram gravadas no Marajó durante o translado de supostas vítimas de abuso. Mas, na realidade, o vídeo foi gravado bem longe dali. No Uzbequistão.
A ideia de Damares com as fake news é abrir caminho de missões de evangelização no Marajó. Entenda mais sobre o caso aqui.