ATAQUE AO TRABALHADOR

iFood pode ter que indenizar entregador baleado por PM após se recusar a subir no apartamento

Deputada Luciene Cavalcante acionou MPT para que aplicativo de entregas seja responsabilizado; motoboy alvejado por policial segue internado em estado grave

PM antes de balear entregador de aplicativo no Rio.Créditos: Reprodução de Vídeo
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A deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP) protocolou no Ministério Público do Trabalho (MPT), nesta sexta-feira (8), uma representação para que o órgão investigue o caso do entregador de aplicativo que foi baleado por um policial militar de folga no Rio de Janeiro. A parlamentar solicita, ainda, que o MPT tome providências no sentido de garantir que a empresa iFood, do aplicativo de entregas, garanta indenização ao trabalhador alvejado. 

Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, que trabalha como entregador para o iFood, foi baleado pelo policial militar Roy Martins Cavalcanti, na Vila Valqueire, Zona Oeste da cidade, na noite de segunda-feira (4). O trabalhador foi de bicicleta até o prédio do PM, que havia feito um pedido pelo aplicativo. No entanto, Cavalcanti se recusou a descer até a portaria para receber a encomenda. Diante disso, Nilton voltou à lanchonete, localizada na Praça Saiqui, para devolver o pedido - seguindo as diretrizes do iFood. 

Revoltado, o PM, então, foi até a lanchonete armado para confrontar o entregador. O jovem simplesmente estava seguindo uma norma do aplicativo, que requer que os clientes encontrem os entregadores para retirar seus pedidos. Vídeos nas redes sociais mostram o policial intimidando e ameaçando Nilton.

Em um momento tenso da discussão, o policial mostrou sua arma na cintura e, depois de um tempo, efetuou um disparo contra o entregador. Nilton Ramon de Oliveira foi ferido pelo tiro e passou por uma cirurgia. Ele está atualmente internado no Hospital Municipal Salgado Filho, em estado grave, porém estável. 

Na delegacia, o policial militar  alegou legítima defesa, foi liberado e teve sua arma devolvida. O caso está registrado como “lesão corporal” e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil e, internamente, pela própria Polícia Militar.  

Na representação encaminhada ao MPT sobre o caso, a deputada Luciene Cavalcante afirma que o caso é grave e "decorrente do racismo que estrutura a sociedade brasileira". Neste sentido, a parlamentar solicita que o órgão não só tome providências para que o iFood indenize Nilton Ramon de Oliveira por danos morais, bem como "preste toda a assistência necessária até a plena recuperação" do entregador. 

"Ainda, a partir da perspectiva mais ampla da violência contra os entregadores, peço que o Ministério Público do Trabalho determine que o IFood Brasil, bem como outras plataformas de aplicativo de entrega, implementem medidas para proteger os trabalhadores contra o racismo e outras formas de discriminação, de modo que estes não sofram nenhum dano à saúde ou ao psicológico e possam desenvolver seus serviços de entrega com segurança", prossegue a deputada. 

Em nota, o iFood informou que a conta do policial que atirou em Nilton foi banida da plataforma, adicionando que "não tolera qualquer tipo de violência contra os entregadores parceiros" e que está prestando assistência jurídica ao trabalhador. 

Família diz que foi intimidada

A família de Nilton Ramon de Oliveira, o entregador que foi baleado por um cabo da Polícia Militar no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (4), revelou que a irmã da vítima foi intimidada por policiais na porta do Hospital Salgado Filho na terça (5).

Segundo relato de Luiz Carlos, cunhado do entregador, sua esposa dava entrevistas para imprensa na porta do hospital onde Nilton está internado. Enquanto isso, os PMs que estavam ali zombavam dela, rindo e gravando a conversa com os jornalistas.

“Na minha concepção, policiais são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida”, disse o homem ao g1.

A atitude dos policiais fez com que Luiz Carlos procurasse a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para pedir uma medida protetiva para todos os parentes.

“Clamo por justiça. O policial cometeu uma tentativa de homicídio contra meu cunhado, não pode ficar impune”, disse o homem.

O cabo Roy Martins Cavalcanti atirou em Nilton após o entregador se recusar a subir para entregar seu lanche. Na delegacia ele alegou legítima defesa, foi liberado e teve sua arma devolvida. O caso está registrado como “lesão corporal”.

O PM alega que o entregador teria tentado roubar sua arma durante a discussão. No entanto, sua versão é contestada por Yuri Oliveira, entregador que trabalha para o Ifood e testemunhou a cena. Segundo seu relato, não houve qualquer tentativa de Nilton nesse sentido.

“Foi uma confusão generalizada. Era muito xingamento de ambas as partes. Mas o Nilton estava se sentindo muito acuado porque o PM estava armado. Ele já tinha sacado a arma antes, dentro do restaurante. Tivemos que apaziguar”, contou.

De acordo com seu relato houve uma primeira discussão entre os dois que acabou apaziguada. Mas logo em seguida, a testemunha viu o PM atravessando a rua e começando uma nova discussão com o entregador. “Cinco minutos depois Roy deu voz de prisão a Nilton. Ele sacou a arma, o Nilton se assustou e logo em seguida ouvi um disparo”, contou.

O caso repercutiu nas redes sociais e a Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro disse, em nota, que foi instaurado um processo para apurar as circunstâncias do caso. O PM teve sua arma apreendida temporariamente, mas obteve de volta após depoimento.

Nilton ficou gravemente ferido e passou por uma cirurgia no  Hospital Municipal Salgado Filho, onde está internado na UTI em estado grave.