Silvio Mazzafiori, de 65 anos, viralizou no último final de semana nas redes sociais e preencheu páginas da imprensa após ser filmado enquanto fazia ameaças a cliente que usava um notebook dentro da sua padaria em Barueri, na Grande São Paulo. Mas essa não foi a primeira vez que o empresário perdeu a linha. Em 2017 ele foi acusado de agressão.
De acordo com apuração do Uol, o analista de sistemas Hudson Moreira, hoje com 26 anos, passou por algo parecido. Ele procurou a imprensa após a ver a repercussão do caso recente envolvendo Mazzafiori.
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Moreira, que registrou a ocorrência em 2017, contou que estava na padaria junto com um grupo de colegas de trabalho, quando foram atacados pelo empresário.
“Ele e o filho me empurraram, perdi os meus óculos e o meu amigo quebrou o nariz. Meu amigo levou uma cabeçada no rosto e vários socos pelo corpo. Não estávamos com nenhum aparelho eletrônico, somente falando de trabalho. O dono da padaria chegou na ignorância, dando um murro na mesa. Ele derrubou até os sucos pedindo pra nos retirarmos”, relatou.
Segundo o boletim de ocorrência do caso, o empresário disse que os clientes “não sabiam com quem estavam mexendo” e os chamou de “bostas” e “moleques”. Ele ainda teria dado uma cabeçada no colega de Moreira, provocando um sangramento em seu rosto.
Mas apesar do ataque ter sido registradona delegacia, o boletim de ocorrência simplesmente não andou. Moreira relata que as vítimas chegaram a fazer exame de corpo de delito e que até hoje o episódio o assombra. “Apanhamos gratuitamente porque estávamos tomando um café e falando de trabalho”, afirmou.
Procon se pronuncia sobre norma da padaria
Em nota enviada à imprensa, o Procon de São Paulo afirmou que realmente é uma prerrogativa do dono do estabelecimento decidir se o uso de aparelhos eletrônicos, como celulares e notebooks, é permitido ou não. No entanto aponta que a regra deve ser previamente informada aos clientes, antes que os mesmos sentem a uma mesa e peçam algum produto do cardápio.
"O fornecedor pode estabelecer regras permitindo ou não que clientes usem equipamentos como notebooks e tablets durante sua permanência no local. Desde que informe as possibilidades e restrições antes que o consumidor ocupe lugares ou faça seus pedidos. O tempo de permanência e a quantidade consumida são temas subjetivos e só podem ser avaliados caso a caso, de posse de todas as informações e condicionantes”, diz a nota do Procon.
No entanto, a possibilidade da regra ser válida para o estabelecimento não dá ao seu proprietário o direito de agir da forma que ficou registrada no recente episódio.
“Já as atitudes, tanto do fornecedor quanto dos consumidores envolvidos no episódio, por óbvio, sempre devem considerar o bom senso e a boa educação, visando a harmonia das relações e, caso haja algum desentendimento, o assunto passa a ser do âmbito das autoridades policiais", finalizou o Procon.
A agressão recente
Uma verdadeira obsessão. Assim pode ser definido o comportamento de um comerciante dono de uma padaria de Barueri (SP) e de seus funcionários quando o assunto é uso de notebook, tablets ou celulares por clientes que estão consumindo algo na Empório Bethaville. Sim, ao sentar-se no local com, por exemplo, um café ou um pão de queijo, nem pense em dar uma olhada nos e-mails, mensagens de WhatsApp ou redes sociais. O local e seu responsável, desde 2014, acumulam pilhas de reclamações em sites de defesa do consumidor na internet.
Nos últimos dias, um vídeo que circula pelas redes sociais, que teria sido registrado na última sexta (2), mostra um cliente sendo seriamente hostilizado por um homem identificado como Silvio Mazzafiori, que seria o dono da Bethaville, assim como por um funcionário da padaria. Ele sequer está usando o computador, que permanece fechado e em cima da mesa.
“Você sabe ler? Você sabe ler? Olha aqui ó, normas do estabelecimento”, diz o proprietário, já em tom muito agressivo. Quem entra em sites como o Reclame Aqui ou o TripAdvisor e busca pela Bethaville encontrará um verdadeiro corolário de reclamações, sobre questões diversas, mas sobretudo sobre a ‘paranoia’ com o uso de equipamentos eletrônicos no local.
A discussão segue acalorada e o comerciante e seu funcionário parecem totalmente exaltados por uma situação que sequer deveria gerar algum tipo de conflito. Ele hostiliza o cliente ainda dentro da padaria e, na sequência, vai para a rua para tirar satisfação com ele. Na discussão, ele afirma que o dono do notebook “não é homem”, o chama para “ir lá na rua” e o insulta o chamando de “bosta”.
Do lado de fora, o sujeito que seria o dono da Empório Bethaville empunha um pedaço de madeira e sai correndo atrás do cliente, gritando. Ele tropeça e cai no chão. Tudo acontece na frente de uma viatura da Polícia Civil que está estacionada na frente do comércio. Dois homens que estão juntos ao carro oficial parecem ajudar o comerciante descontrolado, tentando contê-lo, embora não seja possível afirmar se a dupla seria formada pelos agentes responsáveis pela viatura parada. Um outro homem, aparentemente amigo do cliente, filma a cena e vira também alvo da fúria de Mazzafiori e de seu empregado.
“Não filma”, grita o funcionário, enquanto o dono ameaça de morte os dois, de forma direta e objetiva. “Eu vou matar essa cara, ele não sabe quem ele é”, diz, sendo contido pelos homens que não se sabe se são policiais civis. Vendo que está sendo filmado, ele parte ainda para cima do outro cliente.
Alan de Barros, a vítima de 32 anos, é um empresário que trabalha de home office e decidiu trabalhar um pouco dentro da padaria, mas foi subitamente interrompido por Silvio, que é dono do estabelecimento. Ele registrou um boletim de ocorrência.
Silvio Mazzafiori é sócio das empresas Mazza Alimentos Ltda, da Betha Food Servicos Ltda, ambas na região da Grande São Paulo. Em 2012, foi candidato a vereador pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), pela cidade de Jandira. Ele é dono de diversos estabelecimentos e mantém essa política rígida anti-computadores em sua padaria desde 2018, pelo menos, quando reclamações começam a aparecer em sites como TripAdvisor e no Google.
Histórico de problemas
A ‘ficha corrida’ da Bethaville nos mecanismos de análise de estabelecimentos na internet é longa. Há 10 anos, em 2014, a padaria já registrava. Mazzafiori, diz um cliente no TripAdvisor, teria sido grosseiro e truculento ao ser questionado sobre pratos ressecados ou muito passados. Ele teria dito “para chegarem mais cedo”, que aí sim a comida estaria boa.
Já a primeira reclamação por uso de computadores, tablets e celulares é de 2018. No reclame aqui, clientes protestavam por conta da norma insólita, assim como devido ao tratamento grosseiro e agressivo do proprietário. As reclamações demoram até três anos para serem respondidas e as desculpas para tal ‘norma’ são as mais variadas, desde a de que ‘não existe essa norma’ até uma versão de que os clientes consomem pouco e permanecem muito tempo ocupando o local usando os dispositivos, comprometendo a rotatividade do comércio.
Em 2015, um empresário que mantém escritório na região diz no TripAdvisor que tentou fazer reuniões de network no estabelecimento, mas que na segunda ida à BethaVille praticamente foi expulso de lá com agressividade pelo dono, o que o fez optar por uma padaria concorrente que fica nas proximidades. Há muitos outros comentários e reclamações parecidas nesses sites.