Em sindicância aberta nesta quinta-feira (22), pela Brigada Militar (BM), os quatro policiais militares que prenderam o motoboy negro que havia sido esfaqueado por um homem branco, no sábado passado (17), em Porto Alegre, alegaram que “a abordagem foi técnica e progressiva, de acordo com a resistência do motoboy".
De acordo com o advogado Fábio Silveira, representante de dois dos policiais, não houve racismo na abordagem a Everton Henrique Goandete da Silva, 40 anos. Os PMs disseram também que a diferença de tratamento dispendido a Sérgio Camargo Kupstaitis, 71 anos, que agrediu Everton com um canivete e que foi detido logo a seguir, ocorreu devido à reação de cada um deles.
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A sindicância, segundo informações do Zero Hora, teve início por conta de imagens que circulam nas redes sociais que mostram Everton sendo algemado e conduzido violentamente para a parte traseira da viatura. Enquanto isso, o agressor conversa calmamente com os PMs. Ele ainda é liberado para vestir uma camisa antes de ir à delegacia.
“Foi solicitado mais de uma vez que se afastasse. E ele (Éverton) disse: “Mas por que, se sou vítima?”. O policial respondeu: “Isso nós vamos ver”. Ele gesticulou fortemente na frente do policial, isso inclusive está no vídeo mais divulgado. O policial não teve outra opção a não ser abordá-lo. Ele disse, aos gritos: “Não vai me abordar, não, eu sou vítima”. A partir daí, o policial passa a ter que usar moderadamente a força para que ele se submeta a uma revista pessoal, para ver se ele não causaria risco a ninguém ali. Ao passo que o outro cidadão se encontrava, calmamente, atendendo as determinações policiais”, relata o advogado.
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Os policiais ainda disseram que o motoboy foi levado na parte de trás o camburão, pois ele poderia oferecer perigo ao motorista e a outra agente que estavam no veículo. "Qualquer movimento que ele fizesse com as pernas poderia prejudicar a dirigibilidade, causar um acidente que ferisse os policiais e a própria vítima". O advogado disse ainda que, quando foi retirado da viatura, o motoboy não apresentava nenhuma lesão decorrente da abordagem.
Relembre o caso
Pelo relato das testemunhas nas imagens divulgadas, o homem branco tentou dar uma facada no pescoço da vítima. Os vídeos que circulam pelo X (antigo Twitter) mostram que o homem negro é questionado pelo militar enquanto o agressor conversa tranquilamente com outra autoridade.
Ao afirmar que trabalha no local, a vítima é contestada pelo agressor e rebate, falando para que mostre novamente a faca que usou para ameaçá-lo.
Em seguida, o militar puxa o homem negro pela camisa, que pede para ser solto, já que não fez nada de errado - pelo contrário, é a vítima da situação. No entanto, o militar ainda empurra o homem contra a parede e o prende.
As testemunhas se manifestam pedindo para que o homem seja solto e reforçam que a situação é um caso de racismo. Enquanto isso, o homem branco sai de cena livremente.
Veja as imagens abaixo:
De acordo com outros posts no X, o agressor só foi levado junto ao homem negro para a delegacia após mobilização da população. Além disso, as testemunhas também foram para o local na tentativa de conseguir a liberdade da vítima.
Deputado do PSOL se envolve no caso
O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS) afirmou que acionou seus advogados para acompanharem o caso.
"O homem negro, agredido pelo senhor branco e sem camisa, denunciou o caso para os policiais. Mas, no meio da situação, foi preso por ‘resistência’. Sei como é, até por que já ocorreu comigo. É um absurdo, mas é o racismo que ainda impera na Brigada Militar! Estou em contato com advogados, além de pessoas que acompanharam tudo e estão no Palácio da Polícia como testemunhas da vítima”, publicou.
Nota do governador
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), se manifestou sobre o caso e afirmou que determinou, via Corregedoria da Brigada Militar, a "abertura de sindicância para ouvir imediatamente testemunhas e apurar as circunstâncias da ocorrência, com a mais absoluta celeridade". O governador também disse que reforça sua absoluta confiança na Brigada Militar e nos homens e mulheres que compõem nossas forças de segurança".