A Polícia Federal prendeu na última quarta-feira (21) um homem suspeito de ter ajudado Rogério da Silva Mendonça (35) e Deibson Cabral Nascimento (33), com a inédita fuga da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A instituição de segurança máxima, assim como outras 5 unidades correspondentes em todo o Brasil, nunca tinham registrado fugas desde 2006 quando foram instituídas.
Segundo informações divulgadas pelos meios de comunicação, o detido não trabalhava na penitenciária. Pelo contrário, é suspeito de ter colaborado com a fuga do lado de fora dos muros. Ele deve passar por audiência de custódia nesta quinta-feira (22), que decidirá se segue preso ou não. Sua identidade não foi revelada.
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Inclusive, a suspeita de que pessoas que vivem no entorno teriam facilitado a fuga foi a motivação para que um cerco policial fosse montado ao redor da pequena cidade de Baraúna.
A busca pelos fugitivos entrou no seu nono dia e, a cada jornada, mais policiais chegam à Mossoró para operações de localização do paradeiro da dupla. Forças de segurança federais e estaduais atuam em conjunto em um raio de 15 km da Penitenciária Federal. Segundo relatos divulgados na imprensa, os agentes estão até se embrenhando em matas e cavernas atrás dos criminosos.
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Logo após a fuga, ocorrida na madrugada da quarta-feira de cinzas (14), o ministro Ricardo Lewandoski, da Justiça e Segurança Pública, anunciou uma intervenção federal na instituição. Lewandowski afastou a direção da instituição e nomeou o policial penal Carlos Luis Vieira Pires como interventor.
Pires é um servidor de carreira. Já dirigiu a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, a primeira de segurança máxima do país. Atualmente era coordenador-geral de Classificação e Remoção de Presos em Brasília.
Dois dias depois da fuga, na sexta-feira (16), os nomes dos fugitivos foram incluídos oficialmente na lista de difusão vermelha da Interpol, uma vez que há o temor das autoridades de que tentem fugir para algum país vizinho. Na mesma data, de noite, os fugitivos fizeram uma família de refém, roubaram celulares e comida a aproximadamente 3km do presídio. As informações foram confirmadas pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). Além disso, eles também pediram para ter acesso às redes para ver as notícias sobre a fuga.
No sábado (17), Lewandowski chegou a Mossoró. Disse à imprensa que a fuga foi um episódio localizado e que custou “muito barato”, já que as investigações apontam que os fugitivos se aproveitaram de uma série de erros e equipamentos que estavam no local. Algumas das falhas apontadas é que as câmeras de segurança não estavam funcionando corretamente e algumas luminárias estavam queimadas. O ministro descarta um plano organizado para a fuga.
Na última segunda-feira (19), o ministro autorizou o uso da Força Nacional nas buscas e, desde então, não param de chegar agentes de segurança ao local. Num primeiro momento foram destacados 100 homens e 20 viaturas da Força Nacional para reforçarem os 500 homens da PF, Polícia Rodoviária e forças estaduais que já atuam nas buscas.
Já na quarta-feira (21), foi a vez de Lewandoski autorizar a entrada da Polícia Penal Nacional na Penitenciária Federal de Mossoró, para supervisionar as atividades internas.
Quem são os fugitivos
Rogério Mendonça, natural de Rio Branco no Acre, tem 35 anos e estava preso em Mossoró desde setembro do ano passado. Já Deibson, aos 33 anos, também é acriano e chegou ao presídio de Mossoró em 2023. Ambos estavam presos no Estado de origem e foram transferidos para o RN após liderarem uma rebelião que durou mais de 24 horas e terminou com 5 mortos, alguns deles decapitados.
De acordo com a Administração Carcerária do Acre, agentes penitenciários foram feridos durante a rebelião e os presos mortos pertenciam a facções rivais. Uma vez levada a Mossoró, a dupla protagonizou uma inédita fuga de presídio de segurança máxima.
De acordo com informações confirmadas por múltiplos meios de comunicação, os dois fugitivos têm ligações com o Comando Vermelho, importante facção criminosa do Rio de Janeiro, que tem ampliado suas atividades para outros estados, como o Acre. Nesse sentido, a PF também monitora se eles irão procurar abrigo na capital fluminense.
A fuga
Penitenciária Federal de Mossoró (RN), terça-feira, 13 de fevereiro de 2024, último dia de Carnaval. Foi neste cenário, e nesta data, que a primeira fuga de um estabelecimento penitenciário federal de segurança máxima ocorreu no país. Agora, com uma legião de policiais, cães, viaturas, helicópteros e drones varrendo o território potiguar em busca dos dois fugitivos, surgem as informações detalhadas sobre como Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento conseguiram sair da fortaleza onde cumpriam pena.
Os dois detentos deram início à escapa por volta das 3h, na madrugada. Eles estavam no chamado RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um sistema bem mais rígido do que o outro aos quais a maior parte dos presos está submetida na unidade. No RDD, até o banho de sol é separado e os prisioneiros não têm contato entre si.
Os foragidos teriam aberto um buraco na luminária de suas pequenas celas, já que essa parte do teto, ou da parede, não seria de concreto, mas sim de alvenaria comum. Após abrir a passagem, o local atrás da instalação elétrica seria como uma espécie de duto. Eles saíram, então, numa área da penitenciária que está em obras, com máquinas e ferramentas, num local parecido com um pátio.
Separando essa zona em reformas do último trecho antes do alambrado que dá acesso ao mundo exterior, havia placas metálicas finas fechando o recinto. Foi relativamente simples com o uso de alguns apetrechos de construção civil entortar as chapas e conseguir uma brecha por onde um corpo humano passa com facilidade. Os dois aproveitaram para levar alicates e serras de cortar vergalhão.
Já no último trecho, que dá para a grade, eles romperam essa barreira metálica cortando os elos com as ferramentas que pegaram na obra e tiveram acesso à rua. Não se sabe quanto tempo toda a ação durou, mas o fato é que depois disso, nunca mais foram avistados.
O que ainda intriga as autoridades e os policiais que investigam a fuga é como o sistema rígido de monitoramento por câmeras não pegou nada em meio à madrugada, quando esses pátios e locais próximos à cerca deveriam estar vazios. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda que não afirme oficialmente, analisa a hipótese de algum funcionário do sistema prisional, ou da obra, ou ainda alguém do lado externo, ter colaborado para a empreitada dos dois condenados.
A Penitenciária Federal de Mossoró
Numa área total de 12,3 mil metros quadrados, o presídio conta com celas individuais de 7 metros quadrados em quatro pavilhões. Cada cela possui dormitório, banheiro, pia e chuveiro, além de uma mesa e uma cadeira. Tomadas e aparelhos eletrônicos não estão permitidos.
Os chuveiros só ligam em horas pré determinadas e câmeras monitoram de perto o movimento dos internos 24 horas por dia. Quando transladados entre suas celas e o pátio para tomar sol ou outras instalações, como enfermaria e solitária, os presos passam algemados todo o trajeto.
Além das celas comuns, há outras 12 celas de isolamento, onde ficam presos recém chegados ou os que são punidos por indisciplina. O presídio também conta com uma biblioteca, parlatório exclusivo para reuniões com advogados e salas destinadas para a participação remota em audiências.