O ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, autorizou nesta segunda-feira (19) o uso da Força Nacional em Mossoró, no Rio Grande do Norte, para auxiliar nas operações de recaptura de Rogério Mendonça (35) e Deibson Nascimento (33), os inéditos fugitivos da Penitenciária Federal de segurança máxima localizada na cidade.
Ao todo, 100 homens e 20 viaturas da Força Nacional irão reforçar os esforços na busca pelos fugitivos, que estão soltos desde a última quarta-feira (14). Os reforços se junta a 500 homens da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e de forças de segurança locais que já estão mobilizados.
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O pedido pela presença da Força Nacional foi feito por Andrei Passos Rodrigues, o diretor-geral da PF, e tem o apoio de Fátima Bezerra (PT), a governadora do Estado.
Em nota, a Associação Nacional da Polícia Penal Federal elogiou a atuação do novo ministro da Justiça. “É de conhecimento que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, na figura do ministro Ricardo Lewandowski, tem tomado todas as medidas para a manutenção da segurança dessas unidades prisionais, com a elevação dos níveis de alerta e protocolos de segurança”.
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A entidade também defende a categoria das acusações de possível “anuência” com a fuga e aponta que desde 2006, quando a corporação se encarregou dos presídios federais de segurança máxima, mais de 3200 internos passaram pelo sistema e que a presente fuga foi a única registrada.
“É profundo o sentimento de insatisfação com o fato em questão, o que não apaga o histórico de excelência da Polícia Penal Federal no cumprimento de suas atribuições há quase duas décadas. As causas estão sendo apuradas em amplo processo investigativo. Por enquanto, a única constatação são de falhas estruturais, conforma divulgado pelo ministro Lewandowski. As notícias sobre supostas facilitações, até o presente momento, não passam de ilações”, diz a nota.
O texto é finalizado com algumas reivindicações da categoria, como a criação de novos cargos, realização de concursos para contratação de mais servidores, investimentos no parque tecnológico, nas estruturas de segurança dos presídios e a construção da Academia Nacional de Polícia Penal.
Os fugitivos
Rogério Mendonça, natural de Rio Branco no Acre, tem 35 anos e estava preso desde setembro do ano passado. Já Deibson, aos 33 anos, também é acriano e chegou ao presídio de Mossoró em 2023. Ambos estavam presos no Estado de origem e foram transferidos para o RN após lideraram uma rebelião que durou mais de 24 horas e terminou com 5 mortos, alguns deles decapitados.
De acordo com a Administração Carcerária do Acre, agentes penitenciários foram feridos durante a rebelião e os presos mortos pertenciam a facções rivais. Uma vez levada a Mossoró, a dupla protagonizou uma inédita fuga de presídio de segurança máxima, na última quarta-feira (14), ao deixaram a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Horas mais tarde, o novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afastou a direção da instituição e nomeou o policial penal Carlos Luis Vieira Pires como interventor. Pires é um servidor de carreira. Já dirigiu a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, a primeira de segurança máxima do país. Atualmente era coordenador-geral de Classificação e Remoção de Presos em Brasília.
Sob o comando do interventor, o Ministério então ordenou uma investigação a respeito das fugas. Enquanto agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal tentam recapturar os fugitivos, equipes de investigadores tentam descobrir detalhes da fuga e até a Interpol foi chamada pois existiria o risco de que os criminosos escapem para países vizinhos. Eles agora estão na chamada lista de difusão vermelha da Interpol, que abrange criminosos procurados internacionalmente.
De acordo com informações confirmadas por múltiplos meios de comunicação, os dois fugitivos têm ligações com o Comando Vermelho, importante facção criminosa do Rio de Janeiro, que tem ampliado suas atividades para outros estados, como o Acre. Nesse sentido, a PF também monitora se eles irão procurar abrigo na capital fluminense.
Passo a passo da fuga
Pelo que foi apurado até agora, os dois detentos deram início à escapa por volta das 3h, na madrugada. Eles estavam no chamado RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um sistema bem mais rígido do que o outro aos quais a maior parte dos presos está submetida na unidade. No RDD, até o banho de sol é separado e os prisioneiros não têm contato entre si.
Os foragidos teriam aberto um buraco na luminária de suas pequenas celas, já que essa parte do teto, ou da parede, não seria de concreto, mas sim de alvenaria comum. Após abrir a passagem, o local atrás da instalação elétrica seria como uma espécie de duto. Eles saíram, então, numa área da penitenciária que está em obras, com máquinas e ferramentas, num local parecido com um pátio.
Separando essa zona em reformas do último trecho antes do alambrado que dá acesso ao mundo exterior, havia placas metálicas finas fechando o recinto. Foi relativamente simples com o uso de alguns apetrechos de construção civil entortar as chapas e conseguir uma brecha por onde um corpo humano passa com facilidade. Os dois aproveitaram para levar alicates e serras de cortar vergalhão.
Já no último trecho, que dá para a grade, eles romperam essa barreira metálica cortando os elos com as ferramentas que pegaram na obra e tiveram acesso à rua. Não se sabe quanto tempo toda a ação durou, mas o fato é que depois disso, nunca mais foram avistados.
O que ainda intriga as autoridades e os policiais que investigam a fuga é como o sistema rígido de monitoramento por câmeras não pegou nada em meio à madrugada, quando esses pátios e locais próximos à cerca deveriam estar vazios. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, ainda que não afirme oficialmente, analisa a hipótese de algum funcionário do sistema prisional, ou da obra, ou ainda alguém do lado externo, ter colaborado para a empreitada dos dois condenados.
A Penitenciária Federal de Mossoró
Numa área total de 12,3 mil metros quadrados, o presídio conta com celas individuais de 7 metros quadrados em quatro pavilhões. Cada cela possui dormitório, banheiro, pia e chuveiro, além de uma mesa e uma cadeira. Tomadas e aparelhos eletrônicos não estão permitidos.
Os chuveiros só ligam em horas pré determinadas e câmeras monitoram de perto o movimento dos internos 24 horas por dia. Quando transladados entre suas celas e o pátio para tomar sol ou outras instalações, como enfermaria e solitária, os presos passam algemados todo o trajeto.
Além das celas comuns, há outras 12 celas de isolamento, onde ficam presos recém chegados ou os que são punidos por indisciplina. O presídio também conta com uma biblioteca, parlatório exclusivo para reuniões com advogados e salas destinadas para a participação remota em audiências.