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Policial penal pede cautela à imprensa sobre fuga do presídio de segurança máxima de Mossoró

De acordo com a fonte, que está lotada em outra penitenciária federal, é preciso esperar a conclusão das investigações e o que está sendo publicado ainda são teorias; Confira o que já foi dito sobre a inédita fuga

A Penitenciária Federal de Mossoró (RN).Créditos: Reprodução/Google Maps
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Na madrugada da última quarta-feira (14), pouco depois das 3 horas da manhã, Rogério da Silva Mendonça (vulgo Querubim, Chapa e Cabeça de Martelo) e Deibson Cabral Nascimento (Tatu, Deisinho e Deicinho) fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, instituição de segurança máxima a quase 300 km da capital Natal. Foi a primeira fuga de uma cadeia desta natureza.

Sobre o inédito episódio que assusta a sociedade brasileira, a Revista Fórum conversou com um policial penal lotado em outra penitenciária federal, que pediu para ter seu anonimato mantido. Segundo o servidor, uma série de informações que têm sido veiculadas nos meios de comunicação podem não ser verídicas e ele faz um apelo para que se aguardem as investigações.

“Não tenho acesso ao processo investigativo, que está a cargo da Polícia Judiciária, ou seja, a Polícia Federal. A Polícia Penal Federal oferece auxílio visto que isso ocorreu dentro de uma penitenciária federal. Digo isso pois não tenho acesso às informações e ainda que tivesse não poderia falar a esse respeito, pois seria uma violação de função, uma vez que o processo está em sigilo. No momento oportuno as informações serão divulgadas para a imprensa mas, até aqui, o que foi apurado provavelmente está sob sigilo justamente para que não se comprometa esse processo. Creio eu que todas as notícias que já estão sendo veiculadas sobre conclusões dos investigadores não passam de ilações, ou, no máximo, teorias sobre o fato. Creio que é preciso aguardar para não fazer julgamentos precipitados, nem sobre a suposta participação de agentes ou sobre outros aspectos”, explica o servidor.

O policial penal faz alusão no final da fala a um questionamento da reportagem da Fórum sobre um trecho que foi ao ar na última quarta-feira (14), no programa “em Pauta”, da Globonews, quando a jornalista Flávia Oliveira insinua que a fuga teria sido facilitada por servidores. Segundo sua tese, por corporativismo, estariam promovendo um boicote ao ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública.

O servidor explica que a teoria da jornalista global talvez possa ser explicada a partir de alguns pedidos dos servidores da Polícia Penal Federal para a contratação dos excedentes [aprovados em concursos que ainda não foram chamados], por um planejamento estratégico em relação ao sistema penitenciário federal, à carreira dos policiais penais, entre outras pautas. Mas que não acredita numa ação nesse sentido.

“O jornalismo brasileiro passou por um período muito conturbado, com a Lava Jato, quando muitas informações foram veiculadas e depois se constatou que não seriam verídicas. É preciso ter cuidado com o que se fala, sobretudo nos tempos atuais em que há muita desinformação. Eu acho que o mais prudente, até como resposta à sociedade, é esperar o fim das investigações”, concluiu o servidor.

Nesse sentido, o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, admitiu à imprensa que possam ter havido falhas nos protocolos de segurança da Penitenciária de Mossoró, mas que ainda apura a suspeita. Ele também afirmou que após solucionar o caso o governo pretende que o fato hoje “inédito”, torne-se “irrepetível”. Garcia também informou que as investigações devem ser concluídas até a próxima sexta-feira (16), mas que o caso só será encerrado com a recaptura dos fugitivos.

O que já foi divulgado sobre a fuga

Rogério Mendonça, natural de Rio Branco no Acre, tem 35 anos e estava preso desde setembro do ano passado. Já Deibson, aos 33 anos, também é acriano e chegou ao presídio de Mossoró em 2023. Ambos estavam presos no Estado de origem e foram transferidos para o RN após lideraram uma rebelião que durou mais de 24 horas e terminou com 5 mortos, alguns deles decapitados.

De acordo com a Administração Carcerária do Acre, agentes penitenciários foram feridos durante a rebelião e os presos mortos pertenciam a facções rivais. Uma vez levada a Mossoró, a dupla protagonizou uma inédita fuga de presídio de segurança máxima.

Os fugitivos Deibson e Rogério. Créditos: Reprodução

Horas mais tarde, o novo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afastou a direção da instituição e nomeou o policial penal Carlos Luis Vieira Pires como interventor. Pires é um servidor de carreira. Já dirigiu a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, a primeira de segurança máxima do país. Atualmente era coordenador-geral de Classificação e Remoção de Presos em Brasília.

Sob o comanda do interventor, o Ministério então ordenou uma investigação a respeito das fugas. Enquanto agentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal tentam recapturar os fugitivos, equipes de investigadores tentam descobrir detalhes da fuga e até a Interpol foi chamada pois existiria o risco de que os criminosos escapem para países vizinhos.

De acordo com informações confirmadas por múltiplos meios de comunicação, os dois fugitivos têm ligações com o Comando Vermelho, importante facção criminosa do Rio de Janeiro, que tem ampliado suas atividades para outros estados, como o Acre. Nesse sentido, a PF também monitora se eles irão procurar abrigo na capital fluminense.

De acordo com as primeiras investigações, Rogério e Deibson escalaram o teto das suas celas com uma corda. Para cortar os arames que os separavam do mundo externo ao presídio, teriam usado uma chave de torniquete. O material ainda teria sido obtido em uma obra interna ao presídio. Nela, eles conseguiram a corda e a ferramenta utilizadas. Provavelmente tiveram êxito em esconder o equipamento.

Câmeras de segurança teriam registrado o momento em que a dupla deixou o presídio. No entanto, só foi dada a falta dos fugitivos duas horas depois, por volta das 5h.

A Penitenciária Federal de Mossoró

Numa área total de 12,3 mil metros quadrados, o presídio conta com celas individuais de 7 metros quadrados em quatro pavilhões. Cada cela possui dormitório, banheiro, pia e chuveiro, além de uma mesa e uma cadeira. Tomadas e aparelhos eletrônicos não estão permitidos.

Os chuveiros só ligam em horas pré determinadas e câmeras monitoram de perto o movimento dos internos 24 horas por dia. Quando transladados entre suas celas e o pátio para tomar sol ou outras instalações, como enfermaria e solitária, os presos passam algemados todo o trajeto.

Além das celas comuns, há outras 12 celas de isolamento, onde ficam presos recém chegados ou os que são punidos pos indisciplina. O presídio também conta com uma biblioteca, parlatório exclusivo para reuniões com advogados e salas destinadas para a participação remota em audiências.