EXCLUSIVO

Depois de Braga Netto, Heleno é o próximo: "estão com a faca no pescoço dos militares"

Generais do Exército jogam Braga Netto aos leões, mas temem as consequências de uma possível condenação e prisão de Augusto Heleno, que é acompanhado com lupa pelos investigadores da PF

Augusto Heleno e Braga Netto em 2022 no governo Bolsonaro.Créditos: Fátima Meira / Agencia Enquadrar / Folhapress
Por
Escrito en BRASIL el

A prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL), trouxe alívio a parte do alto comando militar. Braga Netto, preso no último sábado (14), no Rio de Janeiro, é acusado de envolvimento em uma trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. Isolado e com prestígio deteriorado, sua detenção não gerou mobilizações em sua defesa.

Por outro lado, a situação de Augusto Heleno é tratada com extrema cautela. Figura central nas Forças Armadas durante o governo Bolsonaro, Heleno mantém grande prestígio no meio militar. Seu possível envolvimento nos desdobramentos da Intentona Bolsonarista de 2022 é motivo de apreensão e divide a cúpula militar.

No entanto, fonte da Polícia Federal ouvida pela Fórum afirma que os investigadores que conduzem o inquérito da Organização Criminosa (OrCrim) golpista de Bolsonaro  "estão com a faca no pescoço dos militares" e que o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e braço direito do ex-presidente pode ser o próximo a ter a prisão preventiva pedida, caso tente obstruir o andamento da apuração - que segue e deve incluir novos nomes entre os 40 já indiciados.

Na semana passada a Fórum também já tinha revelado que o depoimento do tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo expôs novos nomes e práticas que podem ampliar os indiciamentos e investigações sobre os militares na intentona bolsonarista.

A prisão de Heleno encurralaria definitivamente Bolsonaro, que já articula junto com a defesa culpar os militares pelas tratativas do golpe, o colocando como fantoche da intentona. Heleno, por sua vez, busca apontar para o ex-presidente, alegando que teria sido escanteado após o Centrão assumir papel-chave no governo, com Ciro Nogueira, presidente do PP, na Casa Civil - e presidente de fato.

O ex-GSI pretende até mesmo usar o vídeo em que faz uma paródia - "se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão" - para ironizar o fisiologismo do Centrão, alegando que a cantoria em 2018 sempre nutriu o revanchismo contra ele por parte do grupo político.

Braga Netto: isolado e sem prestígio

Fontes próximas ao Exército afirmam que Braga Netto perdeu apoio dentro da instituição após a revelação de mensagens em que ele teria articulado ataques contra outros comandantes militares. Esse episódio contribuiu para que ele fosse visto como uma figura descartável.

Durante sua audiência de custódia, Braga Netto optou por permanecer em silêncio, decisão que reforçou a percepção de que ele não conta com apoio significativo dentro das Forças Armadas. Sua prisão é vista por muitos militares como um "sacrifício necessário" para aliviar a pressão sobre o Exército e desvincular a instituição do bolsonarismo.

"Braga Netto foi abandonado", dizem fontes ligadas ao alto comando. Para esses interlocutores, a falta de mobilização em torno de sua defesa reflete o desgaste de sua imagem interna.

Heleno: apreensão por uma figura emblemática

Enquanto Braga Netto é tratado com indiferença, o mesmo não ocorre com o general Augusto Heleno. Mesmo na reserva, Heleno ainda é considerado um dos nomes mais respeitados entre oficiais de alta patente e soldados. Seu histórico e liderança ao longo de décadas fazem dele uma figura simbólica para o Exército.

A possibilidade de Heleno ser implicado em investigações sobre os atos de 2022 provoca preocupação. Diferentemente de Braga Netto, cuja prisão não abalou o Exército, qualquer ação envolvendo Heleno seria interpretada como um golpe profundo na imagem institucional, já que ele ainda é muito prestigiado no meio militar. 

Uma instituição em crise

As recentes prisões e investigações envolvendo militares de alta patente revelam a dificuldade do Exército em lidar com o legado político do bolsonarismo e até mesmo em garantir um compromisso com a democracia e o Estado Democrático de Direito no Brasil. Enquanto Braga Netto foi descartado como uma forma de “proteger” a instituição, a preservação de figuras como Heleno refletem o pouco compromisso que a instituição ainda tem por valores democráticos.

Os desdobramentos dessas investigações terão implicações não apenas para os indivíduos diretamente envolvidos, mas para o futuro das Forças Armadas como um todo. Em meio a pressões internas e externas, a instituição busca recuperar sua imagem e reafirmar seu compromisso com a democracia, em um cenário que ainda traz incertezas sobre o papel dos militares nos eventos que marcaram a recente crise política no Brasil.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar