CRUELDADE

Caso Bruno Pereira e Dom Phillips: Relembre crime motivado pela luta socioambiental

PF concluiu inquérito e apontou "Colômbia" como mandante; assassinatos ocorreram porque ativistas defendiam povos indígenas

Dom Philips e Bruno Pereira.Créditos: Montagem/Reprodução/Redes Sociais
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A Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do repórter britânico Dom Phillips na sexta-feira (1°) e indiciou nove investigados, entre eles o mandante. De acordo com a corporação, "Colômbia", apelido de Rubén Dario da Silva Villar, mandou matar os ambientalistas por atividades fiscalizatórias na região, onde eles defendiam a preservação ambiental e os direitos indígenas na Amazônia

A PF aponta que "Colômbia" foi o responsável por fornecer munição para a execução, financiar atividades da organização criminosa responsável pelo crime e coordenar a ocultação dos corpos das vítimas. Já os demais indiciados tiveram papéis na execução dos homicídios e na ocultação dos cadáveres das vítimas.

O crime brutal aconteceu no dia 5 de junho de 2022, próximo à Terra Indígena Vale do Javari, na região de Atalaia do Norte (AM), e paralisou o Brasil e o exterior. Naquela data, os dois foram dados como desaparecidos e as buscas duraram dez dias. Os restos mortais de Bruno Pereira e Dom Phillips só foram encontrados no dia 15 de junho, em um local de difícil acesso. Somente dois dias depois, a PF confirmou que os corpos eram do indigenista e do repórter. 

Relembre a linha do tempo do caso

  • Dia 5 de junho: Bruno Pereira e Dom Philips são dados como desaparecidos após uma viagem à Atalaia do Norte (AM) para a realização de entrevistas com comunidades indígenas e ribeirinhas para a produção de um novo livro do repórter: "Como Salvar a Amazônia".

Nessa época, Dom, que tinha 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele já tinha estado na Amazônia algumas vezes. Bruno era servidor licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai, que à época se chamava Fundação Nacional do Índio). Ele havia sido dispensado em 2019 da Coordenação-Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato por divergências com o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

  • Dia 6 de junho: O Ministério Público Federal (MPF) instaura um procedimento para apurar o caso e aciona as forças de segurança federais e estaduais, além de Marinha, para prestar auxílio na busca da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). A Polícia Civil do Amazonas também instaura inquérito. 

No mesmo dia, a Polícia Federal (PF) ouviu duas testemunhas que estiveram com Bruno e Dom nos dias anteriores.

  • Dia 7 de junho: A partir do relato das testemunhas, a PF prendeu o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Pelado”. Ele foi preso em flagrante durante abordagem por posse de drogas e munição calibre 762, de uso restrito. As testemunhas haviam dito que o viram ameaçando Bruno antes do desaparecimento, e que Amarildo também foi visto em uma lancha logo atrás da embarcação do indigenista e do repórter. O suspeito negou envolvimento com o caso.
  • Dia 9 de junho: Protestos por cobrança de respostas nas investigações acontecem em  Londres e em Los Angeles, onde aconteceu a Cúpula das Américas. PF decreta prisão temporária de "Pelado" e amostras de sangue encontradas na lancha do suspeito são encaminhadas para análise.
  • Dia 10 de junho: PF encontra "material orgânico aparentemente humano",  no Rio Itaquaí, no Vale do Javari, onde Dom Phillips e Bruno Pereira foram vistos pela última vez. A corporação envia o material para análise pericial pelo Instituto Nacional de Criminalística da PF.

No mesmo dia, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), se pronuncia sobre o caso e cobra o governo para que tome "todas as providências necessárias à localização” de Bruno e Dom.

  • Dia 12 de junho: PF encontra um cartão de saúde com o nome de Bruno Pereira, calça, chinelo e um par de botas do indigenista, além de sapatos e uma mochila de Dom. Já o Corpo de Bombeiros do Amazonas encontra uma mochila, um notebook e calçados.
  • Dia 13 de junho: A esposa de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, divulga que o corpo do indigenista e do repórter foram encontrados, com base em informações da Embaixada Brasileira no Reino Unido. No entanto, a PF nega as afirmações.
  • Dia 14 de junho: Servidores da Funai realizam um ato por respostas. A Embaixada admite que errou e pede desculpa por divulgar que os corpos haviam sido encontrados. O irmão de "Pelado", Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", é detido acusado de envolvimento no caso. Além disso, um mandado de prisão contra Jefferson da Silva Lima, o "Pelado da Dinha", é expedido. Ele é acusado de envolvimento no assassinato. 
  • Dia 15 de junho: Amarildo e Oseney confessam o assassinato de Bruno e Dom e PF localiza “remanescentes humanos” em um ponto de difícil acesso indicado pelos dois. Bruno e Dom foram mortos a tiros e os corpos esquartejados, queimados e enterrados.

Rubén Dario da Silva Villar, o "Colômbia", apontado como mandante, foi preso somente em outubro de 2023, mas saiu da prisão após o pagamento de uma fiança de R$ 15 mil. Em dezembro, ele voltou a ser preso por descumprimento de condições da liberdade provisória.

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