O TRABALHO CONTINUA

Beatriz Matos, viúva de Bruno Pereira, assume órgão do governo de proteção aos indígenas isolados

A antropóloga, que assim como o marido assassinado pelo crime organizado atuava no Vale do Javari, foi nomeada como diretora de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados no governo Lula

Beatriz Matos e Bruno Pereira.Créditos: Arquivo Pessoal
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A antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, foi nomeada como diretora do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas do governo Lula. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na última terça-feira (14) e anunciada pela própria, através das redes sociais, nesta quinta-feira (16). 

Ao divulgar que assumirá o cargo, Beatriz, que já presidiu o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), evocou a memória de seu marido, assassinado pelo crime organizado em junho de 2022, junto com o jornalista britânico Dom Phillips, durante uma expedição no Vale do Javari, Amazônia, onde há a maior concentração de indígenas isolados do mundo. 

"É uma honra fazer parte desse Ministério. Aceitei o desafio com esperança, alegria e saudade. Vou com ele e vários parceiros para fazermos o que sonhamos juntos", escreveu. 

Beatriz Matos, assim como o marido, tem vasta experiência no trabalho com indígenas. Os dois, inclusive, se conheceram no Vale do Javari, onde Bruno, depois de ser exonerado da Funai no governo Bolsonaro por sua atuação contra o garimpo ilegal e a invasão de territórios indígenas, vinha realizando um trabalho voluntário. Ela é professora da Faculdade de Ciências Sociais e da Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará e tem mestrado em antropologia social. 

Assassinato de Bruno e Dom; relembre o caso 

Bruno Pereira, que era servidor licenciado da Funai, e Dom Phillips, jornalista britânico, desapareceram enquanto faziam uma expedição no Vale do Javari, Amazônia, em junho de 2022. A última fez em que foram vistos foi no dia 5 de junho, quando passaram em uma embarcação pela comunidade de São Rafael. Posteriormente, seguiram para Atalaia do Norte. A viagem, que deveria durar 2 horas, nunca terminou. 

Eles foram perseguidos por criminosos da região e assassinados a tiros. Os corpos foram esquartejados, queimados e enterrados. 

De acordo com laudo da PF, Bruno foi atingido por três disparos: dois no tórax e um na cabeça. Por sua vez, Dom Phillips foi baleado uma vez, no tórax. 

Os restos mortais de Bruno e Dom foram encontrados pela polícia depois que Amarildo da Costa Oliveira, um dos envolvidos nos assassinatos, confessar sua participação no crime e revelar onde estavam os corpos. 

A Polícia Federal concluiu, após investigações, que os assassinatos foram praticados a mando de um estrangeiro acusado de liderar uma rede de pesca e exploração ilegais no Vale do Javari.