Um dia antes de cumprir sua primeira agenda ao lado de Jair Bolsonaro (PL) na disputa em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) ignorou solenemente o ex-presidente em ato com cabos eleitorais na noite desta segunda-feira (21) na zona norte e louvou o amparo que teve do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos).
“O governador Tarcísio foi a grande figura dessas eleições. Porque, no momento em que eu caí um pouco nas pesquisas, lá por volta do dia 30 de agosto, foi quando o Tarcísio mais entrou na campanha”, afirmou Nunes aos jornalistas.
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Em seguida, ele começou a alfinetar Bolsonaro, que no primeiro turno da campanha em São Paulo se calou, em uma adesão velada à candidatura Pablo Marçal (PRTB) e por medo de perder seguidores extremistas, que se embandeiraram na campanha do ex-coach.
“O Tarcísio, hoje, se destaca não só como um grande líder, mas como uma pessoa de caráter inigualável do ponto de vista de parceria, de correção, de estar junto. Porque a gente vê na política que, quando você enfrenta alguma adversidade, as pessoas se distanciam um pouco. E foi no momento em que tive uma adversidade que o Tarcísio mais se aproximou”, emendou o emedebista.
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Em seguida, Nunes foi indagado sobre a participação de Bolsonaro na campanha, mas ignorou o ex-presidente, dizendo que é um apoio "útil", sem sequer citar o nome dele na resposta.
Em mais uma estocada, Nunes ainda classificou Tarcísio como "capitão", em uma referência direta à patente pela qual Bolsonaro é conhecido.
“Você sabe que, numa guerra, é o capitão que põe o peito na frente e não deixa ninguém para trás, nenhum soldado para trás", disse.
Tarcísio, assim como Bolsonaro, atingiu a patente de capitão do Exército. No entanto, diferentemente do governador - alçado ao posto militar por mérito -, Bolsonaro obteve a chancela ao ser encostado pela Justiça Militar por crimes cometidos dentro da caserna.
Encontro com Nunes
As alfinetadas do candidato do MDB aconteceram horas antes de Bolsonaro desembarcar em São Paulo para a primeira agenda conjunta, faltando cinco dias para o segundo turno.
O ex-presidente terá um encontro fechado em um restaurante no Morumbi, bairro nobre da capital, com Nunes e cerca de 300 lideranças políticas e empresariais.
Escondido na campanha em razão da rejeição entre os paulistanos - que, segundo o Datafolha, supera os 60% -, Bolsonaro agora quer pegar carona na campanha de Nunes, que lidera as pesquisas, com vistas a 2026.
Um dos principais objetivos é retomar a influência do bolsonarismo no eleitorado evangélico, parcialmente sequestrado por Marçal no primeiro turno.
Nunes retomou boa parte dos votos dos evangélicos no segundo turno e tem 71,5% das intenções neste nicho, segundo a pesquisa Atlas Intel divulgada nesta segunda-feira (21).
Além da encenação ao lado de Nunes no culto evangélico, Bolsonaro deve falar com o eleitorado evangélico em um podcast com o prefeito, que será gravado para render cortes que serão divulgados nas redes após o fim da propaganda no rádio e TV, que saem do ar na sexta-feira (24), dois dias antes do segundo turno.
A estratégia é semelhante à colocada em marcha por Marçal no primeiro turno, quando o ex-coach divulgou um laudo fajuto contra Boulos após o debate na Globo, no fim da noite da quinta-feira (3), quando não havia mais propaganda na Tv e no rádio no primeiro turno.
Já no restaurante no Morumbi, Bolsonaro vai afagar deputados e lideranças do PL e do MDB, que se magoaram com o fato do ex-presidente ter ficado em cima do muro no primeiro turno.
O movimento acontece após o presidente da sigla, Valdemar da Costa Neto piscar para a família Marinho e dizer que o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) é o "número 1" da fila para ser candidato à Presidência caso Bolsonaro siga inelegível.
"O candidato nosso é o Bolsonaro, seria o melhor para nós. Mas (diante da inelegibilidade), o número 1 da fila é o Tarcísio", disse Costa Neto em entrevista a Globonews no último dia 11.
A sinalização de Costa Neto à Globo, que afaga Tarcísio para ser a "terceira via" contra Lula em 2026, provocou um chilique em Bolsonaro, que em entrevista a um canal bolsonarista mandou recado para Costa Neto.
"Eu sei que não sou nada no partido, agradeço muito ao Valdemar, mas o candidato para 2026 é Jair Messias Bolsonaro. Estou inelegível por quê? Porque me reuni com embaixadores? Porque subi no carro de som do pastor Malafaia? Abuso de poder político? Que voto eu ganhei por ter me reunido com embaixadores? Que abuso de poder econômico por estar no carro do Malafaia? É uma perseguição", surtou.
Em seguida, Bolsonaro afirmou que "joga a toalha", ou seja, desiste da política caso sua inelegibilidade seja mantida pela Justiça Eleitoral.
"Se isso for avante, essa inelegibilidade continuar valendo, eu jogo a toalha, não acredito mais no Brasil, no meu país que eu tanto adoro e amo, dou a minha vida por ele, mas realmente é inacreditável. Se isso continuar valendo, eu só tenho um caminho: cuidar da minha vida", concluiu - assista ao vídeo.