O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, que lidera as pesquisas para a Prefeitura este ano, é um mistério completo. Está há três anos no cargo, mas o paulistano só ouviu falar dele em dois momentos: um deles, agora durante o ano eleitoral, quando passou a frequentar o noticiário (às vezes até de forma oculta, como em propagandas que a Folha publicava como se fossem reportagens).
A outra foi aquela a que o título se refere, quando tomou a única ação positiva enquanto prefeito que foi instituir, durante a pandemia da Covid, a obrigatoriedade da vacina em São Paulo.
Verdade que as notícias sobre ele este ano nem sempre são positivas. Há acusações de corrupção, de agressão à mulher, que não foi este ano mas que veio à tona agora, fora relações com o PCC, além do seu candidato a vice, imposto por Bolsonaro, que defende abordagens policiais diferenciadas na periferia e nos Jardins...
Outra verdade é que em novembro do ano passado uma tempestade atingiu São Paulo, semelhante à de agora. Naquela época, como agora, Ricardo Nunes declarou que tomaria várias atitudes e nada fez. Quer dizer, diz que acionou a Enel no início deste ano no caso das podas de árvores. A Enel não fez nada e ele nada fez. A bomba estourou agora: um apagão deixou sem luz dois milhões de pessoas e há dezenas de milhares de famílias na escuridão até hoje.
Ainda assim há gente que vota em Nunes, com "medo do comunismo", do que diz o disco da Xuxa ouvido ao contrário, da maldição que Yoko Ono lançou sobre os Beatles, do elixir que Keith Richards comprou do capeta que teria lhe dado o dom da imortalidade.
Mas há também os que pretendiam votar nele pela atitude que teve durante a pandemia.
Com o governo Bolsonaro, com o presidente defendendo que as pessoas saíssem às ruas sem máscaras, "porque a Covid não passa de uma gripezinha", Nunes obrigou as pessoas a portarem um passaporte vacinal para poderem frequentar ambientes públicos na cidade de São Paulo. Foi atitude em favor da Ciência e da vida, que certamente ajudou a salvar muitos paulistanos.
No entanto, o prefeito Ricardo Nunes veio a público dizer que se arrependeu da única ação positiva que tomou durante seus anos à frente da prefeitura.
"A obrigatoriedade da vacina foi um erro."
Para agradar Jair Bolsonaro e buscar o voto de seus eleitores, Nunes diz que se arrepende da única ação boa que tomou em três anos à frente da prefeitura.
Somente a campanha da mídia corporativa, que, como no caso flagrado da Folha, lucra diretamente com Nunes à frente da prefeitura, e o poder da caneta do prefeito podem explicar a liderança nas pesquisas de um prefeito absolutamente nulo, que para ser coerente anulou a única ação positiva de sua administração.
A campanha da mídia em favor dele é tão intensa que chega a transformar derrota em vitória, num contorcionismo lógico de dar torcicolo em girafa:
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