ZONA OESTE

Rio de Janeiro: Tráfico teria proibido carros de aplicativo em comunidade cobiçada pela milícia

Proibição foi feita com pichação na pista de rua que cruza a Gardênia Azul, na zona oeste da cidade; Veja quem controla a comunidade onde armas roubadas do Exército em SP foram encontradas

Proibição de motoristas de aplicado na Gardênia Azul, zona oeste do Rio de Janeiro.Créditos: Reprodução/Record TV
Escrito en BRASIL el

A circulação de carros e motos de aplicativos, como os da Uber, 99 e outros, estaria proibida na comunidade da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo apuração da TV Record, a ordem foi dada a partir de pichação em via que atravessa o bairro e uma foto do aviso, assim como a informação de que foi feito por traficantes locais, foi divulgada por moradores nas redes sociais.

“Probido 99”, diz o pedaço do aviso que aparece nas imagens que viralizaram e obriga os moradores a saírem da comunidade para solicitarem a locomoção. Os mesmos moradores afirmam nas redes que os bandidos prometem retaliar motoristas que descumprirem a ordem. A Polícia Militar, no entanto, informou que nenhuma ocorrência de impedimento de motoristas foi registrada na região.

A Gardênia Azul é alvo, há muitos anos, de disputas entre facções do narcotráfico e milícias. Foi ali que meses atrás a Polícia Civil encontrou 8 fuzis que haviam sido roubados em setembro do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri. Exército e Polícia Civil do Rio negociaram a devolução dos armamentos como Comando Vermelho.

A área é central para o controle territorial do crime organizado e esteve por décadas nas mãos das principais milícias da região até janeiro do ano passado. Na ocasião, o chamado Bonde do Lesk, liderado por Lesk e Gargalhone, organizou um grupo com 50 traficantes e tomaram a comunidade. É o mesmo grupo que foi responsabilizado, e justiçado pelo próprio Comando Vermelho, pela morte dos médicos paulistas na Barra da Tijuca, um deles irmão da deputada federal Sâmia Bomfim.

Recentemente, a prisão de Luiz Paulo de Lemos Júnior, o Chupeta, miliciano ligado a Ronnie Lessa, o assassino de Marielle Franco, trouxe de volta à luz as disputas em torno da comunidade. Ele foi preso em flagrande pela Polícia Federal em 7 de dezembro com 13 armas dentro da sua casa. Os agentes esperam encontrar mais de 50 armas que seriam utilizadas no conflito pela Gardênia Azul.

Chupeta já era investigado a muitos anos por seu envolvimento com o mercado das armas ilegais e relações com a milícia. É acusado de ter sido o motorista do Fiat Doblô que em 14 de junho de 2014 passou disparando pelo pelos 40 tiros de fuzil contra o Honda Civic do miliciano André Henrique da Silva, o Zóio, e de sua mulher Juliana Sales de Oliveira. De acordo com a investigação, foi o próprio Ronnie Lessa quem executou Zóio. O crime ocorreu em contexto de disputa territorial pela comunidade da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Apontado como o mandante do atentado, o ex-vereador carioca Cristiano Girão foi preso em São Paulo em 2021. Ele teria atuado como miliciano na Gardênia Azul desde os anos 90 e queria expulsar Zóio, que era oriundo de Campo Grande e tentava tomar o controle da região. Dias antes de ser morto, Zóio teria ido a uma imobiliária controlada por Girão e dito que não repassaria aluguéis ao rival. Segundo a polícia, foi por essa razão que Girão encomendou sua morte junto a Ronnie Lessa, com quem Chupeta trabalhava.