MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Desastres climáticos já afetaram 26 milhões de pessoas em todo o país

Levantamento mostra que eventos extremos atingiram número recorde desde 1991

Enchente no Rio Grande do Sul.Créditos: Tamara Reche Marzzaro/Prefeitura de Nova Bassano
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O Brasil tem enfrentado um aumento no número de eventos extremos, como o ciclone extratropical que recentemente afetou os estados da região Sul. De acordo com dados da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, o país registrou em 2022 um recorde de 4.749 desastres, o maior número desde 1991.

Além disso, no mesmo ano, o Brasil teve o maior número de pessoas impactadas pelos desastres. Segundo o Censo, cerca de 26 milhões de pessoas foram afetadas de alguma forma, o que representa aproximadamente 13% da população do Brasil.

De acordo com especialistas, eventos extremos, como chuvas intensas, secas prolongadas e ciclones mais frequentes, estão se tornando cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas. O aumento da temperatura do planeta tem causado uma série de alterações no clima, resultando em mais desastres em todo o mundo.

No Brasil, os dados do Atlas de Desastres, da Secretaria Nacional de Defesa Civil, apresentam um aumento no número de casos registrados nos últimos anos, incluindo vários tipos de eventos extremos, como chuvas, secas e ciclones mais intensos e frequentes. Ainda em 2022, o número de afetados por esses desastres também cresceu no país e chegou ao seu maior patamar. É importante ressaltar que os números parciais relativos a 2023 não constam na base de dados do Atlas. 

Ciclone extratropical do Sul

Esta semana, o ciclone que atingiu a região Sul é considerado um “efeito colateral” da frente fria que trouxe muita chuva, de acordo com Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

Seluchi lembra que ninguém foi pego de surpresa com o evento climático. “Não foi um episódio difícil de prever. Estávamos acompanhando há vários dias: na terça-feira da semana passada já sabíamos, na quarta comunicamos a Defesa Civil Nacional e na quinta, 31, conversamos com as defesas civis da região Sul e Mato Grosso do Sul sobre o que poderia acontecer”, destaca o coordenador-geral.

Considerados fenômenos meteorológicos comuns no Sul do Brasil, os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre o Rio Grande do Sul e Argentina e Uruguai, países vizinhos, segundo aponta uma reportagem do g1.  Dados do Atlas mostram que os casos variam ao longo dos anos, mas reforça também a presença de uma tendência de aumento médio no número de ocorrências.

Ciclone extratropical. Créditos: Paulo Marques/Twitter/Reprodução

Na visão de Marcelo Seluchi, não é possível relacionar o evento desta semana com o El Niño, assim como não é possível afirmar se esse tipo de evento é registrado com mais frequência devido à falta de dados históricos confiáveis. Seluchi explica que só temos dados confiáveis do oceano dos últimos 30 anos, o que para ele “é muito pouco para fazer uma estatística. O mesmo vale para mudança climática, o tempo é pouco para cravar”, diz.

O coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), José Marengo, ressalta que prevenir tragédias não é apenas fornecer informações meteorológicas

“Santa Catarina, por exemplo, tem uma Defesa Civil que está preparada. Ela foi informada. Os problemas não ocorrem só pela falta de informação, mas mais pela falta de percepção de que um desastre pode acontecer”, afirma Marengo.

A tomada de medidas preventivas e a preparação para lidar com situações de emergência faz a diferença. No Rio Grande do Sul foram confirmadas 22 mortes até ontem, sendo 15 delas no município de Muçum, na região central do estado, por exemplo.

Outro ponto mencionado pelo coordenador é a falta de rota de fuga para a população, mesmo sob aviso e a necessidade de políticas públicas efetivas para esses casos. “Muitas vezes as defesas civis alertam para que as pessoas deixem as casas, mas elas não têm rota de fuga ou não têm para onde ir. Tem muita coisa que precisa ser melhorada, e o Brasil precisa se preparar para esses eventos. Tem de ser dialogado entre Poderes para se construir uma política de redução de risco de desastre”,destaca.

Humberto Barbosa, pesquisador e coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas), comenta que eventos extremos já são os fatores responsáveis pela migração climática forçada e que essa tendência deve crescer ainda mais no Brasil caso não seja adotadas soluções. 

Ele diz que já existem tecnologias de monitoramento eficientes no país para enfrentar os problemas. “É necessário criar canais de comunicação fluidos com as lideranças e diretamente com as pessoas”, comenta Barbosa.

O que pode ser feito?

O zoneamento das áreas de ocupação irregular é importante para investir em novas moradias. Ainda segundo Barbosa, reduzindo o déficit habitacional e a ocupação de áreas mais propensas a desastres, é possível reduzir riscos, já que “áreas perigosas não deveriam estar ocupadas”.

Com informações da reportagem da UOL