ENTENDA

Saiba se o Brasil enfrentará verão extremo como o Hemisfério Norte

Especialistas analisam como fica o Brasil no verão tendo em vista onda de calor em países europeus e EUA

Clima brasileiro favorece temperaturas mais altas.Créditos: Pixabay
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Enquanto o Brasil experimenta um inverno suave, países da Europa e os Estados Unidos enfrentam semanas de calor extremo, em meio a um verão quente e seco.

O atual momento de calor extremo em latitudes médias e altas é parcialmente explicado pela geografia. Nessas regiões, tende a se formar um quadro chamado de anticiclone, que cria áreas de alta pressão atmosférica. Isso comprime e eleva a temperatura do ar, contribuindo para o tempo estável e seco.

Como resultado, as temperaturas podem subir e levar a ondas de calor. O climatologista Carlos Nobre, ex-presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas e doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, explica por que isso acontece. 

"Esse fenômeno também impede a formação de nuvens, fazendo com que os raios solares cheguem muito fortes. O calor faz com que o solo perca a umidade rapidamente, deixando todo o ambiente seco e quente", esclarece.

De acordo com Nobre, as ondas de calor são um processo natural do verão no Hemisfério Norte, mas as mudanças climáticas têm aumentado sua frequência e intensidade. André Turbay, professor da PUCPR e coordenador do ClimateLabs, explica que o fenômeno não se limita à Europa. “Foi registrado um pico de 52,2ºC na China [no município de Sanbao, em Xinjiang] e de 51ºC nos Estados Unidos [em Corpus Christ, Texas]”, disse.

Quanto ao Brasil, precisaremos nos preparar para um verão mais quente do que o normal e um calor tão intenso quanto o visto em outras partes do mundo?

E no Brasil?

Embora o Brasil não tenha as mesmas características geográficas do Hemisfério Norte, especialistas entrevistados pela BBC News Brasil explicam que o país não está imune a recordes de temperatura e ondas de calor cada vez mais intensas.

Carlos Nobre explica que, embora o Brasil possa ser afetado por ondas de calor cada vez mais intensas, o impacto pode ser diferente do que nas regiões mais ao norte do planeta devido ao fato de que o calor é mais comum no país. Devido às características tropicais do Brasil, as populações estão mais acostumadas com temperaturas altas, especialmente os moradores de regiões semiáridas no Nordeste. "As ondas de calor são sentidas de forma diferente do que na Europa.", aponta.

De acordo com Turbay, no Brasil, onde o clima favorece temperaturas mais altas, as mudanças climáticas e a degradação de diferentes biomas podem levar a verões cada vez mais extremos. “A gente observa pelos dados de séries históricas que temos o aumento da temperatura no território brasileiro também, principalmente em áreas que já são reconhecidas como de calor intenso, como o Centro-Oeste", observa o professor.  

Conforme mostram os dados do Instituto Nacional de Meteorologia, a área citada por ele foi onde teve o maior registro de temperatura. O recorde de calor registrado no Brasil foi em Nova Maringá, no centro-norte de Mato Grosso, onde os termômetros chegaram a 44,8ºC em novembro de 2020.

Ainda em 2020, várias cidades brasileiras registraram recordes de temperatura: Cuiabá (MT) alcançou 44ºC em 30 de setembro, enquanto Água Clara (MS) chegou a 44,4ºC em 1º de outubro.

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Verão brasileiro

Segundo o professor, a substituição de coberturas verdes por grandes áreas agrícolas, a redução das áreas florestais na Amazônia e o ambiente do Cerrado, que já é seco, contribuem para a tendência de eventos climáticos extremos.

Centro-Oeste, Sudeste e partes do Norte e Nordeste do Brasil passam por uma temporada de pouca chuva de abril a setembro deste ano. É no final dessa estação seca que essas regiões costumam ter períodos de maior aquecimento. 

Já no sul do Brasil, os picos de calor ocorrem durante o verão, quando a chuva é mais irregular e os dias são mais longos. Em 2023, o fenômeno climático El Niño vai afetar o Brasil, podendo levar a temperaturas acima da média na primavera e verão, favorecendo períodos prolongados de intenso calor. A meteorologista Estael Sias, do Metsul, ressalta: “em geral, durante o segundo semestre, ou seja, no final da primavera e verão, é esperado que a temperatura fique acima da média em grande parte do centro-sul do Brasil”.

"No entanto, no Sul, o El Niño pode trazer mais dias de chuva, o que tende a reduzir os períodos de calor mais persistentes para esta região — mas não exclui essa possibilidade, especialmente considerando o aquecimento global dos oceanos, que pode também contribuir para esses eventos extremos”, diz.

Segundo ela, eventos extremos como os observados na Europa podem ocorrer em momentos diferentes do ano, sendo mais prováveis no Centro-Oeste entre setembro e novembro e no Sul do Brasil durante o verão climático (dezembro a fevereiro). É cedo para prever temperaturas exatas, mas modelos europeus indicam que é possível que o Brasil tenha temperaturas de 2 ou 3 graus acima da média.

*Com informações de BBC News Brasil

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