O El Niño deste ano deve ser mais forte e duradouro do que em outras ocasiões, aponta o último relatório da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos EUA. De acordo com os dados elaborados, a oscilação de temperatura no sul global terá grau moderado ou forte e durará cerca de um ano.
El Niño no Brasil
O El Niño é um fenômeno global no qual ocorre o aumento anormal de temperatura das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico. Os efeitos são mais intensos na faixa da linha do Equador, podendo mudar correntes de vento, chuva, temperatura e umidade no planeta.
Te podría interesar
No Brasil, o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lançaram uma nota que registra mais de 90% de chance do El Niño acontecer até o final de 2023. Na nota, os institutos apresentaram os principais impactos do El Niño nas regiões brasileiras:
- Região Centro-Oeste: tendência de chuvas acima da média climatológica e temperaturas mais altas no sul do Mato Grosso do Sul, aumento da chance de queimadas durante o período seco (inverno e início da primavera);
- Região Norte: secas moderadas a intensas no norte e leste da Amazônia e aumento da probabilidade de incêndios florestais, sobretudo em áreas de florestas degradadas;
- Região Nordeste: secas de diversas intensidades no norte do Nordeste durante a estação chuvosa (fevereiro a maio) e variações no Oceano Atlântico Tropical. O sul e o oeste da região não são significativamente afetados;
- Região Sudeste: aumento moderado de temperaturas médias (inverno e verão), aumento da chance de queimadas durante o período seco (inverno e início da primavera) e mudança nas chuvas no extremo sul de São Paulo;
- Região Sul: chuvas com frequência acima da média (primavera e verão) e aumento da temperatura média.
Vai afetar o preço dos alimentos?
A safra agrícola de 2023-24 pode ser diretamente afetada pelo El Niño. O aumento das chuvas no litoral da Região Sul pode criar dificuldades no plantio de soja, devido ao solo úmido, e na saúde das lavouras de trigo, uma vez que a umidade favorece o aparecimento de doenças.
No norte do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, a irregularidade das chuvas ou o atraso no reinício tem a probabilidade de impactar nas culturas. Para Ronaldo Coutinho, da Climaterra, o fenômeno pode ter efeitos positivos, como a menor chance de risco de geadas tardias com a atmosfera mais úmida: "Impossível não é, mas é bem mais difícil que ocorra geada tardia com o El Niño".
"O El Niño deve ter efeitos importantes na safra agrícola de 2023-24. Se fraco ou moderado, a produção de grãos deve ser boa, nos EUA ou no Brasil. Se forte, a coisa muda de figura", afirma Priscila Trigo, em relatório de economistas do banco Bradesco a respeito do fenômeno. "Não se quer dizer que estamos fadados a um verão de ruína, mas de cuidar de riscos", conclui o economista Bráulio Borges.
Os El Niños de escala forte foram vistos na temporada 1997-98 e 2015-16, a última marcada pela quebra global de grãos e açúcar, que elevaram os preços de commodities agrícolas. A inflação de alimentos cresceu em 9,2% e o PIB da agropecuária do Brasil caiu em 4,9%. O cenário de 2023-24 alerta os riscos de um verão comprometido pelos impactos do fenômeno.
El Niño nas mudanças climáticas
As previsões do NOAA sobre o El Niño atual é de 80% de probabilidade das temperaturas aumentarem em 1,0ºC (moderado), 50% de aumento de 1,5ºC (forte) e 20% de ultrapassar 2,0ºC (muito forte). Por dias consecutivos no início de julho deste ano, a temperatura média global bateu recorde histórico, batendo o número de agosto de 2016, ano em que o El Niño foi intenso.
Dados de instituto de estudos espaciais da NASA revelam que o mês de junho teve temperatura 1,36ºC mais quente do que a média de 1880-1920, que é próxima de níveis pré-industriais. Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas têm exibido que o aquecimento global acima de 1,5ºC causaria danos irreversíveis ao planeta e à humanidade. A meta apresentada é da redução de emissões de gases do efeito estufa até 2030 e extinção até 2050.