INCLUSÃO

Dia dos Pais é substituído pelo "Dia da Família" em escolas para proporcionar inclusão familiar

Com cerca de 5,5 milhões de crianças registradas sem o nome do pai, a data causa desconforto; instituições buscam promover diversidade com a substituição

Modelos familiares distintos da tradicionalidade costumam sofrer com as datas.Créditos: Reprodução
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O Dia dos Pais, celebrado no segundo domingo do mês de agosto, é uma data que passa em branco para as 470 crianças não registradas pelo pai por dia no Brasil, nos últimos 5 anos, de acordo com a Associação Nacional dos Registros de Pessoas Naturais (Arpen). 

Os altos números que indicam a falta da presença paterna nas vidas das crianças deu início a uma atitude que vem se aprimorando, cada vez mais, nas escolas brasileiras: o Dia da Família. 

De acordo com o Portal Transparência da Arpen, de janeiro de 2016 a julho de 2023, foram constatados mais de 1,1 milhão de pais ausentes, sendo 100 mil crianças sem registro do nome do pai em seus documentos apenas no ano de 2022. Os dados fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) demonstram que cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras vivem sob abandono paterno.

Como uma forma de trabalhar com sensibilidade e promover empatia e equidade no ambiente escolar, o Dia da Família, também conhecido como “Dia de Quem Cuida de Mim”, permite que as crianças comemorem os laços afetivos com seus responsáveis, independentemente de sua titulação, fomentando o senso de pertencimento da criança.

Além disso, os modelos familiares não tradicionais também costumam sofrer com as celebrações convencionais, uma vez que estas não contemplam as diversidades presentes no seio familiar. Desde as famílias constituídas por mães solo, até aquelas que possuem casais homoafetivos, o constrangimento por conta do preconceito enraizado socialmente acaba afetando os filhos, que por vezes se tornam alvos de bullying, por exemplo. 

A iniciativa, que já foi adotada por escolas no estado de São Paulo, como é o caso da Escola Estadual Professor Alvino Bittencourt, localizada na zona leste de São Paulo, teve o intuito de proporcionar a inclusão

Segundo a diretora da instituição, Simone Lopes Guidorizzi, era perceptível a tristeza de alguns alunos com a chegada de datas como o Dia das Mães ou o Dia dos Pais, bem como o receio por fazer parte de uma estrutura familiar distinta da tradicional. Aplicar o novo modelo de comemoração, portanto, viabilizou uma data mais abrangente e significativa para todos. 

A Escola Municipal de Educação Infantil Tia Nair, localizada no interior do Rio Grande do Sul, promoveu uma festa em homenagem aos responsáveis pelas crianças. Através de uma publicação na página oficial da escola, a instituição expressa seu propósito de oferecer acolhimento

“Esse dia torna-se importante para que as famílias sintam-se acolhidas dentro da Escola, oportunizando momentos de troca, com interações prazerosas, é um momento de criar laços entre os envolvidos e mostrar para as crianças que há diferentes configurações familiares. Propiciando às crianças uma reflexão sobre sua estrutura familiar e o conhecimento da constituição de outras famílias, oportunizando assim o respeito pelos diferentes grupos familiares!!!”, postou a escola. 

Publicação da EMEI Tia Nair, via Facebook

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Neuza Michelutti Marzola, de Ribeirão Preto, em São Paulo, é uma das entidades que adotou a data e destaca a importância de propiciar a diversidade no âmbito escolar.

“Paulatinamente, a escola vem desenvolvendo ações que buscam defender e ampliar o direito a um estado laico e livre do consumismo.Em suma, Páscoa, dia dos mães, pais, das crianças, Natal... não constituem datas oficiais dos calendários escolares. A realidade das escolas, são bem diversas e na maioria das vezes distante daquilo que presenciamos e compreendemos. Assim, estamos direcionando nossos olhares e acolhidas para o DIA DE QUEM CUIDA DE MIM, que tem se tornado um momento para desabafo e empatia, com palavras de incentivo, escuta e orientação, PRINCIPALMENTE AS CRIANCAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO LAR e/ou que ficaram órfãs na pandemia, (há poucos dias tivemos um caso assim)”, destacou a escola.

Publicação da EMEF Neuza Michelutti Marzola, via Facebook