DOUTRINAÇÃO FORÇADA

Missionário norte-americano impõe sua fé à comunidade indígena

Tensões culturais e direitos ameaçados por evangelizador que invadiu terras indígenas no Acre

Rio no Amazonas.Créditos: estevesbae/pixabay
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Uma terra indígena no Acre tornou-se palco de controvérsia quando o missionário norte-americano, Anthony Paul Goddard, de 30 anos, invadiu a região com a intenção de realizar doutrinação evangélica forçada entre os integrantes da etnia Madija. Essa ação, realizada sem a autorização das lideranças locais ou da Fundação Nacional do Índio (Funai), levanta sérias preocupações sobre a preservação cultural dos povos indígenas e suscita questões sobre a atuação de organizações missionárias no Brasil.

Anthony Paul Goddard faz parte do grupo filantrópico Missões Novas Tribos do Brasil (MNTB), uma subsidiária da antiga New Tribes Mission, que tem como objetivo converter povos de diferentes partes do mundo ao cristianismo, incluindo os indígenas brasileiros. No entanto, a abordagem de doutrinação evangélica, muitas vezes, entra em conflito com as culturas tradicionais e crenças dos povos indígenas.

A invasão e doutrinação forçada têm tido consequências negativas para a saúde mental e a cultura dos indígenas Madija. Um laudo antropológico encomendado pelo Ministério Público Federal revelou um aumento alarmante nos casos de suicídios na região, principalmente entre os jovens, possivelmente relacionado ao processo de conversão evangélica imposto à comunidade. O contato com missionários também trouxe o consumo abusivo de álcool, que antes não fazia parte dos hábitos dessas populações.

As organizações missionárias, incluindo a Ethnos 360 (antiga New Tribes Mission), têm sido alvo de denúncias em outros países, incluindo casos de abuso sexual de crianças. No Brasil, a presença dessas organizações gerou polêmicas, envolvendo acusações de biopirataria, disseminação de doenças e conflitos com a Funai. Além disso, indicações controversas para cargos governamentais, como a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai, levantam dúvidas sobre possíveis influências e conexões com o governo brasileiro.

Além das preocupações sobre o impacto da invasão missionária na saúde mental dos indígenas Madija, também foram relatados casos de mudanças culturais significativas dentro da comunidade. As práticas tradicionais, como o xamanismo e rituais ancestrais, estão sendo confrontadas pelo discurso pregado pelos missionários, gerando tensões internas entre aqueles que aderem à nova fé e os que resistem em manter suas tradições.

A presença missionária em terras indígenas também desperta discussões sobre o papel do Estado na proteção dos direitos dessas comunidades. A Instrução Normativa de 1994, que determina que missões religiosas só podem atuar em áreas indígenas com a autorização de um antropólogo, mostra-se insuficiente na garantia da autodeterminação dos povos indígenas, exigindo uma revisão mais ampla de políticas de proteção.

A atuação das organizações missionárias em regiões remotas da Amazônia, muitas vezes com acesso facilitado por recursos financeiros, levanta a necessidade de controle e fiscalização das atividades dessas organizações. O diálogo entre a sociedade civil, organizações indígenas e o governo é essencial para encontrar um equilíbrio entre a liberdade religiosa e a proteção dos direitos dos povos indígenas.

A controvérsia em torno das atividades missionárias em terras indígenas não se limita ao Brasil, sendo um tema de debate global sobre a preservação cultural e os direitos humanos. 

 

 

Com informações do The Intercept.