ENTENDA

O que é ‘racismo científico’, preconceito praticado por médica contra mulher negra no RJ

Durante a consulta, paciente estranhou afirmação de ginecologista que associou a cor da pele como causa do mau odor nas partes íntimas; o caso se expressa como ‘racismo científico’

Ginecologista Helena Malzac.Créditos: Reprodução
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A repercussão do termo “racismo científico” voltou à tona com o caso de racismo praticado pela médica ginecologista Helena Malzac Franco, no Rio de Janeiro no ano passado. Ela afirmou em consulta à paciente de 19 anos, que estava com sua madrinha Luana, que "grande parte das mulheres negras têm cheiro forte nas partes íntimas". Helena é ré no Tribunal de Justiça do Rio.

O caso foi revelado no último domingo pelo programa “Fantástico”, da TV Globo. A fundadora e diretora-executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, que levou a afilhada para ser atendida pela profissional, gravou toda a conversa.

O racismo científico é um conjunto de teses feitas no século XVII que afirmam que existe uma raça superior e outra inferior, muitas vezes adotada por pessoas racistas, que acreditam tudo ser baseado em "evidências empíricas". 

De acordo com o advogado especialista em Compliance Antidiscriminatório, Fabiano Machado da Rosa, “a médica imputou uma condição que não é verdadeira, sem nenhum tipo de embasamento. Foi uma afirmação preconceituosa e houve generalização das mulheres negras”.

O advogado ressalta que o racismo científico se vale de uma argumentação científica, que pressupõe ser neutra e imparcial, como todo médico deve ser, e assim justifica a afirmação preconceituosa. “É histórica a existência de profissionais se valendo de expressões que, no fundo, são puro preconceito travestido de falsa ciência”, diz.

Outra especialista, Carla Akotirene, que é doutora em estudos de gêneros e mulheres da Universidade Federal da Bahia (UFBA), afirma que a ginecologista tenta reproduzir as dinâmicas da saúde, que são extremamente contraditórias e vão tentar o tempo todo desumanizar uma população.

Fabiano vê um elitismo na medicina brasileira que propicia a ocorrência de casos como este. “Falta diversidade entre médicos e enfermeiros. Isso acaba gerando uma falta de empatia desses profissionais, porque é um meio extremamente elitista. Existe um número baixíssimo de negros exercendo a medicina no Brasil. Esse é um problema da desigualdade social no país”.

*Com informações do Fantástico e Folha de Pernambuco