CULTURA DO ÓDIO

Em plena escalada de ataques a escolas, Clube de Tiro promove aulas para crianças e entra na mira do MP

O estabelecimento localizado em Jataí, no interior de Goiás, postou fotos da turma de meninos uniformizados tomando aulas de tiro com armas de airsoft

Instruto passa exercício para criança.Clube de Caça e Tiro Hunter, Jataí (GO)Créditos: Reprodução/Instagram Hunter Jataí
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Em plena escalada de casos de ataques a escolas, um clube de tiro de Jataí, no interior de Goiás, teve a ‘brilhante’ ideia de divulgar em suas redes sociais um curso de tiro para crianças. As imagens mostram a turma, todos meninos menores de 18 anos e devidamente uniformizados, empunhando suas armas de airsoft.

O chamado curso do atirador mirim, promovido pelo Clube de Caça e Tiro Hunter, chamou a atenção das autoridades. O primeiro foi o Conselho Tutelar, que passou a acompanhar as publicações da empresa.

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Reprodução/Instagram Hunter Jataí

Em paralelo ao Conselho Tutelar, a Polícia Civil começou a investigar o curso oferecido às crianças, antes de comunicar a ocorrência ao Ministério Público que, por sua vez, recomendou ao clube de tiro que deixe de oferecer o curso.

O clube alega que o curso foi oferecido em primeiro de abril, e só foi realizado após as inscrições das crianças autorizadas pelos pais. Além disso, também afirma que o caráter do curso é recreativo, que ensina o tiro esportivo e o manuseio da arma de pressão, e explica para as crianças que mesmo a arma não sendo real, tem regras para ser usada. A empresa diz que cumpriu com todas as exigências legais para oferecer o curso.

Reprodução/Instagram Hunter Jataí

Ao G1, o advogado criminalista Pedro Paulo de Medeiros explicou que não é um crime oferecer um curso desta natureza para crianças. No entanto, para fazê-lo, é preciso uma autorização administrativa específica. Caso essa autorização não tenha sido dada, a empresa pode sofrer sanções administrativas e pode até perder a licença de funcionamento. O clube não informou a imprensa se possui ou não a autorização.

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Medeiros ainda afirma que o uso da arma de airsoft não isenta o fato de que o curso, por si mesmo, tem como efeito colateral incentivar condutas violentas. “É uma arma de pressão por um simples motivo: porque a legislação não permite que criança pegue em arma de fogo. Caso contrário, pode ter certeza que entregariam armas de verdade”, declarou.

Outros especialistas, como Róbson Rodrigues, antropólogo da UERJ e ex-policial, também se preocupam com tais práticas. Para o ex-policial, a atual escalada de casos de violência em escolas deveria começar a promover comportamentos pacíficos entre os jovens. “Sou contra cursos como esses em virtude dos efeitos que essa cultura, ou subcultura, pode produzir. Precisamos de cultura de paz”, declarou.

Reprodução/Instagram Hunter Jataí