Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, se entregou à Polícia Federal na tarde deste domingo (24). Chefe da maior milícia no estado do Rio de Janeiro, o "Bonde do Zinho", ele estava foragido desde 2018 e acumulava 12 mandados de prisão em aberto, sendo o criminoso mais procurado pelas forças de segurança fluminense.
Zinho se apresentou na Delegacia de Repressão a Drogas e do Grupo de Investigações Sensíveis e Facções Criminosas, na sede da Superintendência Regional da PF. De acordo com a PF, a prisão foi formalizada após negociações "entre os patronos do miliciano com a instituição e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro".
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O miliciano foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para realizar exame de corpo de delito, e em seguida, ao presídio José Frederico Marques, no centro do Rio de Janeiro (RJ). Ainda no domingo, ele foi transferido para a Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino – conhecida como Bangu I – de segurança máxima, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Quem é Zinho
Em junho de 2021, o ex-líder da milícia, Wellington da Silva Braga, o Ecko, foi morto em confronto com a Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIm). Sua morte representou a ascensão de outro irmão seu, o atual comandante do grupo, o Zinho.
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Então responsável pela contabilidade da operação, ele lavava o dinheiro originado de atividades na Baixada Fluminense como: proibição do tráfico; segurança armada; fornecimento de botijão de gás, luz e serviço de transporte alternativo; e prestação de serviço de televisão a cabo e internet.
Em 2021, um edifício em construção pela milícia foi interditado pela polícia. O diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), Felipe Curi, revelou detalhes sobre os serviços de construção civil do "Bonde do Zinho": "Inclusive, com algumas famílias morando, e essa construção tinha cada imóvel sendo comercializado por R$ 120 mil".
Com a morte de Ecko, Zinho assumiu o comando da milícia e declarou guerra ao miliciano Danilo Dias, o Tandera, que havia se aliado aos milicianos da Zona Norte do Rio após desavenças e rompimento com o "Bonde do Zinho".
Em agosto de 2018, a Polícia Civil do Rio agiu em um mandado de prisão contra Zinho em um sítio no Espírito Santo, porém o miliciano conseguiu fugir pela mata. O celular dele foi apreendido pelos policiais, no entanto.
A Polícia Civil apreendeu a mansão de Zinho na Barra da Tijuca, avaliada em R$ 1,7 milhão, em janeiro de 2019. O Núcleo de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro da instituição ainda apreendeu outras três propriedades do miliciano: duas em nome de Tandera, chefe da milícia em Seropédica e Nova Iguaçu; e uma casa de um policial em Campo Grande.
A última tentativa frustrada de prisão de Zinho ocorreu em 23 de outubro, quando a Polícia Civil do Rio assassinou Matheus da Silva Rezende – o Faustão, segundo na hierarquia do comando da milícia. O grupo paramilitar queimou cerca de 35 ônibus, um trem e instaurou um clima de guerra na Zona Oeste.
Os ataques se concentraram nos bairros sob controle da milícia, como Campo Grande, Inhoaíba e Santa Cruz, e áreas que já estiveram em domínio ou estão em disputa, a exemplo de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes. Foram incendiados 20 ônibus municipais, 10 veículos de turismo e fretamento, e 5 BRTs, além do trem da SuperVia.
Ação contra deputada colaborou na prisão
Nos últimos meses, a Polícia Federal deflagrou uma série de operações para capturar o miliciano. A última, denominada Operação Batismo, foi deflagrada no dia 18 de dezembro e resultou no afastamento da deputada Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), conhecida como Lucinha, da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
A Operação Batismo é um a fase seguinte da Operação Dinastia, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2022, com a finalidade de prender Zinho e outros 22 aliados pelos crimes em conflitos entre organizações criminosas, a partir de investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Segundo a apuração policial, Lucinha seria o braço político da milícia "Bonde do Zinho". Entre os oito mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça contra a parlamentar, estão o gabinete da deputada na Alerj e na sua casa, em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio.
De acordo com as investigações, a deputada Lucinha estaria associada com o alto escalão do Bonde do Zinho. Os indiciamentos do MPRJ e da PF apontam que a parlamentar é suspeita de interferência na segurança pública do Rio para a soltura de milicianos presos em flagrante.
Em 2017, a Operação Pandora da Polícia Federal descobriu que a milícia pagava R$ 40 mil por mês pelo vazamento de informações privilegiadas da Secretaria de Segurança Pública, de modo a facilitar as atividades do grupo sem a presença das forças policiais.
A apuração também indica que Lucinha ajudou no vazamento de informações de operações policiais com o objetivo de capturar milicianos e tentou alterar o comando do batalhão da Polícia Militar em Santa Cruz, região sob controle do Bonde do Zinho.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou seu afastamento do cargo público por suspeita de envolvimento com milícia. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) ainda proibiu Lucinha de frequentar as duas sedes da Alerj: o Palácio Tiradentes e a nova sede, apelidada de Alerjão.