A noite desta terça-feira (7) foi marcada por protestos intensos de moradores na avenida Giovanni Gronchi, na região do Morumbi, entre as zonas oeste e sul de São Paulo, e na rodovia Raposo Tavares, em Cotia, na região metropolitana. Os manifestantes, indignados com a falta de energia elétrica que já dura 5 dias devido a um vendaval e temporal ocorridos na última sexta-feira (3), incendiaram objetos na via, bloqueando completamente o tráfego.
No bloqueio da avenida Giovanni Gronchi, um policial militar, segundo a secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), foi atingido por um tiro, sofrendo ferimentos na perna. Ele foi evado ao hospital, mas não há informações sobre seu estado de saúde até o momento. Até a publicação desta reportagem, nenhuma prisão havia sido realizada. A pasta também não informou de onde partiu a bala que atingiu o agente.
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"A Polícia Militar acompanhava um protesto contra a interrupção de energia elétrica quando a via começou a ser bloqueada por fogo em objetos. As equipes que estavam no local tentaram identificar a liderança do movimento com objetivo de liberar a via por meio do diálogo. Os policiais receberam relatos de que alguns manifestantes portavam 'coquetéis molotov'", diz nota divulgada pela corporação.
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Bloqueio na Rodovia Raposo Tavares
Na rodovia Raposo Tavares, em Cotia, um grupo de moradores bloqueou a via em protesto contra a falta de energia elétrica. O ato teve início por volta das 16h e resultou na interdição de uma faixa da via marginal, causando cerca de 5 km de congestionamento. A Polícia Militar Rodoviária se fez presente no local e negociou com os manifestantes a dispersão do ato.
Caos elétrico
A concessionária Enel relatou que cerca de 30,2 mil imóveis na região metropolitana de São Paulo continuam sem energia elétrica, afetando tanto residências quanto comércios. Este é o segundo dia útil da semana em que esses imóveis enfrentam a escuridão, gerando revolta e protestos na região.
A empresa afirmou que estava empenhada em normalizar o fornecimento de energia "para quase a totalidade dos clientes até esta terça-feira", conforme acordado com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). No entanto, a garantia de que todos teriam o serviço restabelecido ainda não pode ser dada. A situação afetou 2,1 milhões de clientes da Enel no total.
As manifestações continuam a se espalhar na região metropolitana de São Paulo devido ao prolongado corte de energia elétrica, deixando os moradores em busca de soluções e respostas das autoridades competentes.
Protesto do MTST
Na parte da manhã, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também realizou manifestação em frente à sede da Enel, responsável pelo serviço de energia elétrica no estado de São Paulo. No bairro do Morumbi, na Zona Sul da capital Paulista, manifestantes exigiram a responsabilização da concessionária pelos prejuízos causados à população do estado.
Com a presença da deputada estadual Ediane Maria (PSOL), o protesto contou com uma faixa com os dizeres "SP no escuro. Enel, a culpa é sua!" e placas com as frases "Privatiza que piora!" e "Privatização = 2 milhões no apagão".
De acordo com a coordenadora nacional do MTST, Débora Lima, o MTST recebeu denúncias de comunidades sem energia elétrica por mais de 50 horas. Na manhã desta terça-feira, mais de 315 mil imóveis permaneciam sem luz depois de 72 horas do temporal que causou o apagão.
"Inúmeras pessoas perderam o pouco que tinham para comer sem qualquer retorno da empresa pelos canais de comunicação. Exigimos a retomada imediata do serviço de energia, o ressarcimento e a responsabilização pelos danos causados"
Débora ainda declara que o ocorrido em São Paulo serve de alerta sobre os resultados das privatizações dos serviços básicos no Estado de São Paulo: "A Enel de hoje pode ser a Sabesp de amanhã", afirmou em referência ao projeto de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), uma prioridade do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em 2019, durante a gestão do ex-governador João Dória, a Enel substituiu a estatal Eletropaulo na distribuição de energia elétrica em 24 municípios da região metropolitana de São Paulo. Desde então, demitiu 36% dos funcionários e aumentou em 7% o número de consumidores.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2019, a Enel SP possuía um colaborador para atender a cada 307 clientes, em média. Hoje, cada funcionário é incumbido de atender 511 consumidores, em média.
Também na manhã desta terça-feira (7), o presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, negou a responsabilidade da empresa sobre o apagão generalizado na região metropolitana de São Paulo: "Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo". Segundo ele, o evento extraordinário teria derrubado árvores, o que dificultou a resposta imediata.