TORTURA

VÍDEO: ensinou a fazer câmara de gás com viatura há sete anos; PRF pede demissão só agora

Caso é semelhante ao que causou a morte de Genivaldo Santos; policial ensinou o método em cursinho e ainda afirmou que fez igual; vítima confirmou

Ronaldo Bandeira ensina a fazer câmera de gás com viatura.Créditos: Reprodução de Vídeo/Montagem
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O vídeo é de 2016, mas viralizou agora, em função da morte por asfixia de Genivaldo Santos, provocada por servidores da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que o prenderam em uma viatura cheia de gás lacrimogêneo, em 2022.

Nele, o policial Ronaldo Bandeira, servidor da PRF em Santa Catarina, que também dá aula em cursinho, ensina seus alunos a fazer uma "câmara de gás" em uma viatura. Por conta do vídeo, a PRF enviou ao Ministério da Justiça um pedido para demitir Bandeira. O pedido é resultado do processo administrativo disciplinar (PAD) aberto contra ele.

Bandeira aparece no vídeo em uma sala de aula relatando que usou esse procedimento em uma abordagem, em conjunto com outros policiais.

"A gente estava na parte de trás da viatura, ele ainda tentou quebrar o vidro da viatura com chute. Ficou batendo o tempo todo", conta.

Segundo ele, nesse momento a polícia abre o porta-malas e aplica spray de pimenta no camburão. "A pessoa fica mansinha. Daqui um pouco só escutei: 'Vou morrer! Vou morrer'. Aí eu fiquei com pena, cara. Abri [e falei] assim: 'Tortura!', e fechei de novo", descreveu, rindo. O professor conclui falando: 'Sacanagem, fiz isso, não".

Veja o vídeo abaixo:

Vítima confirma tortura

A corregedoria da PRF revelou que a vítima do episódio descrito por Bandeira foi localizada e confirmou as agressões na abordagem:

"[...] Quando eles me pegaram, me botaram dentro da viatura e nesta espirraram várias vezes o spray de pimenta, e eu lá dentro trancado. Quem espirrou o gás pimenta foi o mesmo que começou a agressão, é um 'entroncadinho', baixinho assim", afirma em trecho do depoimento.

O delegado responsável pelo caso, segundo a vítima, não decidiu pela prisão – mas os policiais, ao invés de liberarem o motorista, teriam o levado para outra cidade e continuado as agressões.

"Daí que eles me levaram para Navegantes, até lá foi uma tortura só, eles me judiaram muito na estrada. Eles pararam na PRF, no posto deles, e aquela 'galega' me jogou spray de pimenta também, daí até o outro posto policial eles vinham fazendo zigue-zague na rua para me judiar", diz.

"E daí eu sei que primeiro foi o spray de pimenta e fecharam o tampão. Eu quase morri lá dentro, cheguei quase morto em Navegantes. Eu fiquei o dia inteiro, desde a hora que eles me prenderam até as cinco horas da tarde, sem beber um copo de água, sem colocar nada na boca", descreve.

A avaliação da PRF

A Corregedoria-Geral da PRF afirma que a comissão do PAD classificou o caso de Bandeira como violação funcional, prevista na lei que trata do regime dos servidores públicos.

"O servidor se comportou de maneira tosca, ímproba, rude, desonesta e, arriscaria dizer, maléfica, ao fazer piadas com seu comportamento lesivo, deixando claro para seu público que ele, enquanto Policial Rodoviário Federal, não considera a cidadania e a dignidade da pessoal humana como fundamentos da República, transformando a ofensa física infligida à vítima em motivo de escárnio, fazendo verdadeira chacota de situação delinquente, se regozijando com um ser humano temendo pela própria vida em suas mãos", diz a corregedoria.

"Tal comportamento demonstra total desprezo aos fundamentos humanitários, estatais e jurídicos, devendo ser considerado como conduta de extrema gravidade, já que afastada de consciência civilizatória, e o Estado brasileiro jamais deverá menosprezar tal comportamento, sendo este tão reprovável quanto a própria injusta agressão", continua.

O que diz o policial

Em entrevista ao Correio Braziliense, Ronaldo Bandeira disse que o vídeo era de uma aula de 2016, e não recente, e explicou se tratar de uma “brincadeira de mau gosto”.

“Eu trouxe um exemplo à tona, eu estava lecionando uma aula exatamente sobre a lei anti tortura. Eu trouxe um exemplo fictício infeliz, eu queria elucidar na sala de aula um exemplo de tortura que coincidentemente colidiu com o caso”.

A assessoria do curso preparatório do policial afirmou que o vídeo era de 2016 e estava "fora de contexto".

Segundo a equipe de Bandeira, a aula tratava da lei de 1997 que definiu o crime de tortura.

Com informações do blogo da Camila Bomfim